Entrevista com Beatriz Seigner

Por  Thiago Jacot*

Durante sua última passagem por São Carlos para divulgar seu filme “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano” no festival Grito Rock, realizado pela Rede Fora do Eixo, a cineasta Beatriz Seigner falou com a equipe da RUA sobre sua carreira e essa que foi a primeira coprodução cinematográfica entre Brasil e Índia.

Foto: Gabriel Ribeiro Alfredo

Thiago Jacot – Como você começou a se envolver com cinema ?

Beatriz Seigner – Como realizadora, o primeiro curta que eu fiz foi na primeira oficina Kinoforum, na favela Monte Azul, com isso já participei de festivais. Para mim, isso foi muito importante porque a gente fez uma exibição na comunidade, ao ar livre, todo mundo estava lá; e aí depois veio a mãe da menininha que fazia o curta e disse: “ Nossa, nunca achei que eu pudesse ser uma heroína ou que eu pudesse estar lá. Eu vejo televisão e tudo mais, mas nunca achei que eu pudesse estar dentro da televisão ou dentro do cinema”. Aquilo para mim foi muito forte, eu pensei : “Nossa, é poderoso! Você pode mexer com a autoestima de alguém e tal”. E ao mesmo tempo, eu cresci em São Paulo na região da rua Augusta, então a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo do Leon Carkoff e da Renata Almeida é algo que está desde as minhas primeiras memórias: aquelas filas, meus pais indo lá; e meus pais iam todo sábado ao cinema, era uma coisa religiosa. Acho que as minhas primeiras lembranças mesmo de cinema são mais deles discutindo sobre os filmes do que os filmes em si, e eu ficava imaginando tudo na minha cabeça.

Thiago –  E você tem alguma formação acadêmica ?

Beatriz –  Eu fui estudar em Roma, no “Centro Spirimentale de Cinematogrfia”, só que eu tinha 19 anos então não pude entrar no curso de direção porque tinha de ter mais de 21 anos. Só que eu vinha com um currículo de teatro muito grande, porque eu fazia desde os 13 anos de idade, e aí fiz lá os testes e eles me deixaram fazer o curso de atuação, e tinha muitas aulas em comum; desde história do cinema até decupagem e roteiro porquê era tudo junto, mas algumas eram separadas. Eu acabei de fazer essa formação, daí quando eu ia mudar para direção eu me mudei para o Brasil e decidi fazer esse filme. Então na verdade nem isso eu terminei. Comecei a estudar na USP e também não terminei. Acho que minha formação vem mais da vida, esse filme, na verdade, foi onde eu aprendi mais do que na formação acadêmica mesmo. Acho muito importante também ver muitos filmes, ler muito; estudar sozinho também é muito importante na formação de qualquer cineasta.

Thiago –  O “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano” (Beatriz Seigner, 2009) foi a primeira coprodução cinematográfica entre Brasil e Índia. Durante o debate você disse não saber por quê isso nunca foi feito antes. Quais as vantagens que você vê em esses dois países se aproximarem em coproduções ?

Beatriz –  Isso é muito bom. Eu estou agora com meu próximo filme com um produtor indiano que vai investir 2 milhões de dólares, porque ele quer depois distribuir na Índia. Acho que o melhor lugar para a gente entrar nesse nicho é o de distribuição mesmo. Lá é calculado que a bilheteria faça 1 milhão de dólares por semana, então, se nós conseguirmos entrar nesse mercado vai ser maravilhoso. Fora isso, há muitas coisas a se ganhar: a pós produção lá, as músicas gravadas aqui; eles também estão precisando de roteiristas, então, um país completa o outro de uma certa maneira. Os países do BRIC são muito importantes e vem mudando o cenário econômico mundial – Brasil, Rússia, Índia, China e também África do Sul. Acho que culturalmente a gente deveria começar a fazer mais coproduções e parcerias culturais. Quem sabe a gente também não mude o cenário cultural mundial ? Ao invés de todo mundo ir assistir a filmes americanos, talvez possam ir assistir a filmes do BRIC em qualquer lugar, seria interessante.

Beatriz Seigner no SESC São Carlos para O Grito Rock acompanhada do Distribuidor da DF5. Fotos: Gabriel Ribeiro Alfredo

Thiago: Você comentou bastante sobre a dificuldade de produção, chegar na Índia e pegar uma equipe de indianos… Mas você teve contato com o cinema indiano  por ter morado lá, e por ter uma equipe de cineastas e de pessoas ligadas à industria cinematográfica ?

Beatriz – Tive um contato bastante intenso, mas acho que tem pesquisadores que sabem muito mais do que eu, por terem estudado só isso e se aprofundado mais. Por ser uma produção muito vasta, acaba-se perdendo muita coisa. Eu não consigo assistir a 1200 filmes indianos por ano, então a grande maioria acaba que não me chega. Mas agora tem uma nova geração lá muito parecida com aquela “sexo, drogas e rock’n’roll” que mudou Hollywood; isso está acontecendo na Índia, uma geração que está quebrando Bollywood, e isso é muito, muito interessante porque eles estão fazendo algo diferente dos melodramas tradicionais, com outras temáticas, não tem mais a dança, são outras coisas que eles vão tratando que é muito interessante.

Cartaz do filme "Bollywood Dream - O Sonho Bollywoodiano" de Beatriz Seigner

Thiago – A parceria de distribuição do “Bollywood Dream” com a DF5, distribuidora da Rede Fora do Eixo, permitiu ao seu filme circular por lugares nos quais ele não foi exibido na época do lançamento. Como você observa essa parceria de distribuição dos “novíssimos” cineastas com seus filmes ?

Beatriz –  Eu acho maravilhoso! Antes das redes sociais, da internet, a gente achava que os “deslocados” do mundo, os alternativos estavam sozinhos, parecia um movimento muito pequeno; com as redes sociais isso mudou, agora sabemos que existe gente deslocada no Acre, em Cuiabá, em tudo quanto é lugar, e que juntos nós conseguimos criar uma demanda pra esse cinema alternativo. E isso é maravilhoso poder chegar nesses lugares onde existe essa demanda. É um movimento que surge nas cidades, o próprio nome já diz, Fora do Eixo, de querer esse cinema alternativo, de querer esse tipo de produção de arte, de música, de estar buscando tudo isso. É incrível porque a gente chega no nosso melhor público em todos os lugares.

Thiago –  E quais são seus próximos projetos ?

Beatriz –  Eu estou trabalhando num roteiro para o Walter Salles, tenho mais umas duas produções minhas, muitas coisas ao mesmo tempo, mas tudo ainda nesse processo de roteiro e pré – produção.

* Thiago Jacot é graduando do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Editor Geral da Revista RUA.

Author Image

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

More Posts

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

Deixe uma resposta