Manual de cobertura de funerais

José Carlos Aronchi, jornalista e radialista, doutor em Comunicação pela ECA/USP, consultor de conteúdo e formatos interativos para multiplataformas digitais. É autor de “Generos e formatos na televisão brasileira (Summus, 2004). e “Seja o primeiro a saber – A CNN e a globalização da informação”. E-mail: jcaronchi@uol.com.br

Nos últimos 25 anos, o Brasil acompanhou pela televisão o último suspiro de quatro personagens da história: um político, um esportista, um papa e um artista. Os três primeiros tiveram sua vida e morte retratada de uma forma emocionante numa medida aceitável. O último, provocou polêmica pelo espetáculo do funeral. Mas daqui pra frente,
com a benção da era digital-interativa, tem jeito de ser diferente?

Boa parte dos leitores que se interessaram por este artigo não deve ter a menor idéia do que trata um “Manual de cobertura de funerais”. Por isso, há uma divisão básica para atender a dois tipos de interessados nessa literatura: os curiosos e os especialistas, sendo esse segundo tipo dividido em profissionais da mídia, de tecnologia da informação
e os envolvidos com serviços funerários.

Escrever para um público tão distinto é tarefa sobrenatural. Seria praticamente impossível chamar a atenção de tantos, se não fosse a popularidade dos assuntos comentados neste texto. Por isso, os exemplos e o enfoque tendem a, vez ou outra, parecer completamente distantes do interesse do leitor, que deverá fazer um exercício de
deslocamento para outra esfera de atuação. No final, espero que o leitor se identifique com partes deste artigo sem deixar de se inteirar dos assuntos que atendem a outros olhares.

Rascunhei este texto no início da década de 1990, quando participei da NAB – National Association of Broadcasting, a feira de equipamentos de rádio e televisão, em Atlanta, nos EUA. O tema da feira, “a era digital”, marcava o início da onda de desenvolvimento da televisão digital no mundo. Participei como palestrante e interagi em diversos grupos, discutindo esse assunto. Naquele período, foi anunciado que o novo sistema ofereceria ao telespectador a possibilidade de clicar sobre a gravata do apresentador do telejornal e efetuar a compra daquela parte do figurino. Esse era o exemplo mais eficaz da época, para apresentar a era digital ao público leigo e especializado.

Revendo hoje o tema da era digital, percebo a visão míope dos argumentos, a reprodução de ideias confusas e a falta de informação sobre a *exata dimensão e aplicabilidade do novo sistema. Hoje, passadas quase duas décadas do início da era digital, a televisão digital já está implantada no Brasil, embora faltem finalizar os aplicativos, prover o telespectador de recursos inovadores e de conteúdo diferente do que já existe.

Apesar do tempo transcorrido e das mudanças implantadas, o conjunto de exemplos sobre a era digital permanece no mesmo nível daquela imagem do clic na gravata do telejornalista. Hoje, contudo, o nó é um pouco maior.
Inclusão digital, multiplataforma, conteúdo interativo, t-learning, cross-mídia… entre outros nomes é a nomenclatura preferida pelos especialistas para dourar a pílula que não passa de uma aspirina. Nomenclatura em inglês poderia ser traduzida para palavras conhecidas, mas a língua inglesa tornou-se a língua oficial da era digital. Apesar do sofrimento para acompanhar as mudanças e os novos nomes, ninguém morre de dor de cabeça ou da falta de conhecimento sobre o mundo digital interativo.

***

Este “Manual de cobertura de funerais” pretende fazer desse ‘pó’, que forma o conjunto de idéias vagas e confusas sobre as mídias digitais, algo concreto e bem delineado, ou melhor, algo bem próximo ao mundo dos mortais. Aliás, a escolha motiva-se justamente na aproximação do leitor a exemplos terrenos, aplicáveis no seu mundo real.
É praticamente impossível alguém não ter passado por tais experiências – acompanhar a cobertura do enterro de uma celebridade pela mídia ou ter participado de um funeral. O leitor provavelmente já esteve em cerimônias fúnebres, sendo o morto famoso ou amigo. Para tanto, busquei um tema geral – a cobertura de eventos pela mídia – para chegar a um subtema – funerais.

A riqueza de detalhes e a previsibilidade dos acontecimentos em muitos eventos fazem com que o esperado se torne uma atração obrigatória. Por exemplo, numa simulação de cerimônia de casamento, gera muita expectativa e boa dose de sarcasmo a pergunta do sacerdote sobre alguma objeção de alguém contra a união dos nubentes. Em
novelas, é uma interrupção obrigatória da cena prevista em 99,9% dos roteiros que alguma personagem se manifeste nesse momento da cerimônia. Na vida real, no entanto, a proporção é inversa pois a maioria opta pelo silêncio e pela continuidade do evento.

O Papa analógico e o pop digital

Os funerais de personalidades e celebridades que marcam a história no Brasil e no mundo servem de exemplo sobre a evolução desse tipo de evento que monopoliza a imprensa. Os funerais do presidente eleito que não tomou posse, Tancredo Neves, em 1985, e do piloto Ayrton Senna, em 1994 e outros internacionais como o enterro da princesa Diana, em 1997, do Papa João Paulo II, em 2005, teriam provocado uma corrida midiática pelo uso das tecnologias digitais e interativas. Esse novo uso pode ser constatado na cobertura do funeral do astro pop Michael Jackson. As redes sociais – orkut, facebook, twitter, etc…- estão lotadas de citações do astro. O Youtube registrou milhões de acessos ao conteúdo do cantor nos primeiros minutos do anúncio de sua morte. O Google ficou congestionado por causa da consulta ao nome do cantor. Os funerais dos famosos que antecederam a era do “showneral” não conheceram os efeitos da era digital. Trabalhar com esses elementos do entretenimento e com as novas tecnologias é uma tarefa das mais complexas para os profissionais de comunicação que atuam em multiplataforma (plural? Ou digitais refere-se a outra coisa?) digitais interativas.

A morte do pop star Michael Jackson foi tema em 2009 da pauta da imprensa internacional. Os fãs do astro exploraram todas as formas de manifestações analógicas e digitais, ao vivo e gravadas, presenciais e virtuais. Isso só é possível com o conhecimento das TIC, as Tecnologias e Informação e Comunicação. A mais notável mudança nessa
cobertura do enterro do cantor foi a informação que pipocou, primeiro, nas redes sociais da Internet e, somente mais tarde, foi divulgada pelas grandes redes de televisão tradicionais. A CNN foi superada pela rapidez do Twitter e isso provocou espanto mundial.

Este artigo poderia ser batizado tanto de “Manual de cobertura de casamentos” como de “decisão de campeonatos de golfe”. Não seria menos interessante se abordasse outros eventos como a visita do Papa, a posse do Presidente da República, a inauguração de um monumento. Mas qualquer que fosse o evento creditado na capa, o subtítulo obrigatoriamente deve ser acompanhado de “digital interativo”. Senão não vende a imagem da empresa ou do profissional que escreve o artigo.

Essa estratégia está sendo utilizada não somente pelos mais variados veículos de comunicação, mas também por empresas de serviços, profissionais liberais e interessados no assunto. Para passar a idéia de “antenado”, até os que subiram ao telhado uma única vez na vida para ajustar a imagem do receptor de televisão doméstico já são especialistas em mídia, e juntam ao título dos seus negócios o DI (digital interativo): Imobiliária DI, Núcleo de Negócios DI, Gráfica DI; Padaria…; O novo modelo de negócio trazido pelas mídias digitais impulsiona o mercado e os mercadores, os cursos e os tutores, tornando-os mais atraentes e chiques.

É verdade que a popularização dos meios de comunicação tem permitido a muitos excluídos a possibilidade de se tornarem produtores de conteúdo. Se todos podem ser produtores de conteúdo também não há nenhum impedimento para tornar-se especialista em conteúdo. Porém, essa quantidade de novos conteudistas não leva necessariamente à qualidade da produção e dos produtores. Para isso é necessário um domínio mínimo da
linguagem, dos recursos e dos formatos que podem ser aplicados em cada produção. O planejamento de cobertura de eventos é um desses desafios que só quem entende se arrisca a produzir. É quando se separa o joio, formado pelos especialistas de última hora do trigo, cultivado por anos de experiências e domínio da aplicação dos recursos
analógicos e digitais, de roteiro e produção, de jornalismo e entretenimento.

Vida e morte de um conteúdo

Não é só em funerais que se enterram os produtores de conteúdo. A cobertura do funeral de Michael Jackson promoveu um avivamento tanto dos céticos quanto dos consumidores assumidos. Os que realmente acham que a cobertura da morte do cantor foi uma aberração e estão indignados com o enfoque comercial dado ao evento, puderam optar por não assistir tv, não acessar sites, não ler jornais, não escrever artigos, reportagens e teses sobre o assunto e ainda podem optar por não continuar a ler este texto.

A revista Piauí fez essa opção pela negação de maneira inteligente e óbvia. Estampou uma manchete na capa: “EXCLUSIVO: nenhuma linha sobre Michael Jackson”. E não abordou o assunto. Mas a maioria quer tirar uma casquinha e a opção em realizar algo relativo ao tema invoca uma particularidade do bom conteudista: um olhar sobre como fazer algo diferente que venha a chamar atenção nesse mar de informações que circulam desde que a morte e o enterro foram – ou não foram – confirmados.

Conteúdo é a nova palavra que está associada à produção. A família de produtores é grande. Produtor executivo, produtor associado, independente, … Não é novidade ver creditado a função de “produtor de eventos” ou “produtor de elenco”. Raramente se verá alguém se apresentar como “produtor de funeral”. Mas o que se vê nos funerais de todos os famosos são verdadeiras produções que multiplicam o conteúdo para serem vistos emvárias plataformas: televisão, rádio, DVDs, webtv, websites, MP4, I-pod… Com a morte
natural e eminente de muitos famosos – de artistas a políticos, celebridades a esportistas, vítimas de desastres naturais ou fatalidades – nada mais natural do que profissionalizar essa produção, trazendo à tona as técnicas de cobertura de eventos que servem para qualquer assunto.

Antes da era digital, o consumidor de conteúdo enterrava com facilidade as informações de fonte duvidosa. Simplesmente, não comprava o jornal, a revista ou mudava de canal. Na era digital, a teoria da “Cauda Longa” identificada por Chris Anderson em livro homônimo (Editora Elsevier, 2006), aponta uma mudança “do mercado
de massa para o mercado de nicho”. Isso significa que existe interesse de pequenos grupos em todo tipo de conteúdo, por pior que seja ou possa parecer, segundo padrões mais ou menos estabelecidos. Portanto, produza e publique – youtube, blog, sites, … – e alguém vai se interessar pelo assunto. Qualquer cidadão que se apresentar como produtor ou e specialista em conteúdo será lido, ouvido e mais ou menos aceito, mas certamente terá audiência, porque o público é global. Este artigo é prova disso.

A montanha dos abutres digitais

Empresas e veículos de comunicação que trabalham nos segmentos informativos, de entretenimento ou de publicidade têm grande interesse pela cobertura de funerais, tanto quanto as empresas funerárias. Nenhuma mídia se arrisca a deixar de cobrir os últimos momentos da celebridade sob pena de se tornar um desafeto. Ninguém quer ir à
contramão. A teoria da Agenda Setting, bastante estudada nos cursos de comunicação, é quase um sacramento aceito e difundido mundialmente. Significa, em resumo, que ‘se todos estão falando e mostrando, eu também tenho que mostrar’. Era uma das teses da comunicação de massa, que agora é transposta para as redes sociais e os nichos da
internet .

A morte de algum famoso incendeia as redações e os arquivos de imagens da mídia. A corrida para o levantamento da vida e obra – às vezes muito ampla e registrada ou extremamente restrita e discreta – põe à prova o sistema de arquivamento. Ele é eficiente ou depende da memória dos arquivistas e produtores? Quando a morte é repentina, ela tira o sono de muitos que precisam se apressar: para exibir o conteúdo – foto, vídeo, áudio; para cobrir as páginas, programas de rádio e tv, sites; e agora também para cobrir as redes de relacionamento.

Quando a morte é esperada, os produtores e jornalistas já se adiantam e deixam preparados – quase prontos – documentários e reportagens, abordando a vida e os últimos momentos da angústia. E ainda contam os minutos para a exibição e publicação. Porém, como o último suspiro é dádiva divina, o material pode ficar dias – ou semanas –
engavetado. Foi assim com a morte do presidente eleito não empossado Tancredo Neves e com o Papa João Paulo II. Tancredo foi, de 14 de março a 21 de abril de 1985, a pauta de todos os meios de comunicação da época, quando a Internet no Brasil era ainda desconhecida.

Durante a agonia de Tancredo, o jornalista Antônio Britto era o porta-voz da presidência da República, função que sem as mídias digitais detinha o poder de informar primeiro. Com a rapidez do Twitter, essa função passou a exercer apenas a tarefa de confirmar o que já é de conhecimento público.

Formatos

O programa Fantástico exibiu dois dias antes do enterro do cantor Michael Jackson uma gravação dele com seu grupo Jackson’s Five nos estúdios da extinta TV Tupi na década de 1970. O material, parte do acervo da Cinemateca de São Paulo, foi restaurado pela TV Cultura que recuperou as fitas quadruplex da emissora que pertencia aos Diários
Associados. Foram anos e muitas horas de trabalho para limpar com papel as fitas já degradadas e mofas, depois copiadas pelas máquinas de VT quadruplex da Cultura, talvez uma das últimas em operação no mundo. Na época do projeto de restauração, meados de 1990, as cópias foram em VHS e, agora, certamente isso teve mais um retrabalho, de digitalização, para que o material tenha vida longa.

Esse exemplo dá a dimensão da necessidade de recuperação e digitalização de acervos pois não é somente em funerais que será usado. A história passa pelo acervo da mídia. A Rede Record tem no acervo os festivais de música da década de 1960, fonte riquíssima de imagem dos ídolos da MPB.

O roteiro para mídias digitais e interativas passa a ter componentes importantes. Além de texto e indicões dos roteiros tradicionais, as operações, engenharia e TI também recebem informações importantes que interferem no planejamento da captação e transmissão. Um modelo de roteiro, batizado de “roteirint” (roteiro interativo) está em desenvolvimento visando fornecer informações para todas as áreas envolvidas. Indicações dos blocos interativos, das opções do público e de conteúdo complementares passam a fazer parte da arquitetura do roteiro. Vicente Gosciola em “Roteiro para novas Mídias” (Editora Senac, 2003) classifica e apresenta as etapas para construção de roteiros para desenvolvimento de conteúdo digital. Na cobertura de um evento como um funeral é preciso planejar vários formatos que vão compor toda a cobertura que pode se estender por horas de programas ao vivo ou on demand.

O canal AXN, exibido pelas operadoras de tv por assinatura, foi o primeiro a reprisar um programa do cantor Michael Jackson que, pela primeira vez, havia exposto os horrores pelos quais passou quando era criança. Esse conteúdo, do gênero documentário visando a exibição em televisão, foi formatado com longa entrevista com o cantor, depoimentos de pessoas mais próximas, imagens de arquivo, offs e trechos de musicais. Cada um desses formatos pode dar origem a um conteúdo diferente para ser exibido em determinada mídia e utilizado com propósitos variados. Por exemplo, a entrevista na íntegra é um texto que pode ser transcrito para uma mídia impressa ou algum site. Os depoimentos, juntos ou separados, são segmentos que ilustram programas de debates. As imagens de arquivo podem dar origem a um novo videoclip. Os offs, são naturalmente aproveitados por mídias sonoras, programas de rádio, MP3, complemento de textos da internet no formato hipertexto ou hipermídia.

Olho no lance

A principal preocupação de um diretor de imagens é com o posicionamento da câmera. Isso revela a sensibilidade do diretor que transporta seu olhar para atender a expectativa do público que quer estar no local do evento. Além disso, a câmera vai mostrar o que poucos estão vendo e registrar momentos importantes para o futuro documentário ou compacto do funeral.

O morto é a imagem obrigatória mas não é a principal porque não há reação e movimento. O principal são os visitantes e suas reações tanto previsíveis quanto também inesperadas: Lágrimas, abraços, choro, apertos de mão, olhares perdidos sobre o caixão. Daí o motivo do posicionamento da camera para passar a emoção individual dos visitantes. Apesar dessas reações dos visitantes parecerem ensaiadas, diferente do cinema, não dá para voltar a cena e gravar de novo. Por não haver replay, cada reação deve ser captada com precisão.

Durante o cortejo, um motoqueiro é fundamental para acompanhar o carro fúnebre e posicionar-se estrategicamente entre ele e o público que se amontoa no trajeto. Um estudo bem planejado desse trajeto, que é previamente divulgado pelas autoridades, pode dar boas idéias para pontos de instalação de câmeras exclusivas. Microondas e uplinks (transmissores para satélite instalados em unidades móveis de gravações externas) serão exaustivamente utilizados e desmontados para que a cobertura atenda a agilidade imposta pelo trajeto velório-cortejo-enterro.

Um helicóptero para captação de cenas áreas é fundamental para dar a dimensão do público que admirava o homenageado. Durante todo o cortejo, a câmera aérea vai enfocar as multidões que se aglomeram para o último adeus no momento da passagem do caixão. Se este estiver em carro aberto, do Corpo de Bombeiros, outra câmera sempre
deve estar sobre o veículo, para enquadrar de frente os milhares de curiosos que estão nas ruas. Se o carro que leva o caixão for fechado, uma câmera noutro carro de reportagem ou numa motocicleta vai fazer o mesmo trabalho.

Como fazer o igual parecer diferente

A voz embargada do principal locutor da emissora, com o objetivo de convencer o público de que ele também está sofrendo com aquela morte, nem sempre combina com a narração desse evento. Uma boa opção é colocar um narrador que seja da mesma área do falecido. Um locutor esportivo, por exemplo, se o morto for um esportista; um
comentarista político, se o homem ou a mulher estiveram na carreira pública; isso ajuda ao público associar esse evento ao assunto ligado ao homenageado.

O locutor especializado no assunto sempre tem mais a contribuir com informações pitorescas da vida do falecido. Isso deixa aquelas imagens intermináveis do cortejo com comentários mais interessantes do que uma narração que se repete dezenas de vezes: “veja a reação de tristeza do povo que se despede… “ e outros lugares comuns que
podem ser evitados com um narrador especializado no tema do falecido e com mais bagagem de informações do que o locutor normalmente escalado para narrar qualquer tipo de evento.

Uma webcamera posicionada para transmitir o salão do velório foi introduzida no Brasil em 2000 pelo Grupo Villa, em Natal, capital do Rio Grande do Norte (Revista Veja, Edição 1683 – 17/01/2001) . Não é conveniente a instalação de duas webcam porque, com o corte de uma para outra, o retardo da imagem aumenta devido a troca de imagem.
É conveniente, neste caso, o efeito picture in picture. Com duas imagens no mesmo quadro, evita-se o corte e esse retardo.

Sobre o caixão, a instalação de uma microcâmera que pudesse dar a visão do morto olhando para cima se este ainda estivesse vivo, levaria uma imagem espetacular ao público que assiste em casa os últimos momentos de seu ídolo. Essas câmeras ainda têm uma limitação de qualidade devido à baixa resolução e também ao transmissor de baixo alcance que deveria estar linkado a outro microondas para gerar a imagem até o centro de corte, o switcher, que gera as imagens para a rede multiplataforma – TV e web.

Outra preocupação para a instalação dessa câmera sobre o caixão, além da natural autorização dos familiares que deve ser meticulosamente cuidada pelo produtor, é com o excesso do branco. Isso quer dizer, a câmera posicionada para cima focaliza diretamente o céu e isso deveria provocar o fechamento da íris. Se o caixão tiver apenas quatro alças e estiver numa posição mais baixo nos pés haverá uma descompensação da luz. Nessas câmeras não há íris automática, e a abertura é sempre a mesma. Com isso, a imagem pode ficar ou muito clara ou muito escura e perde-se o principal objetivo que é passar a emoção do cortejo visto de dentro. Um teste de câmera neste trajeto, um dia
antes, no mesmo horário previsto para o cortejo, pode evitar essas imagens saturadas ou com o pedestal (nível de preto) muito baixo. O trabalho do operador de vídeo na emissora, com olhar atendo para o waveform (monitor de forma de onda) vai compensar esse desnível.

A produção deve instalar uma rede wireless para aqueles que foram ao velório deixarem suas mensagens em seu twitter. Um dos objetivos do twitter é o de atender aos que adoram falar de si mesmo e dizer o que estão fazendo de importante, ou seja, 100% dos mortais. Um quiosque com um computador pode atender aos que não levaram seus
laptops ou não tem um celular 3G. O cuidado é para que esse computador público, um recurso estritamente destinado ao funeral, seja usado pelos visitantes para consultarem emails ou acessar notícias, nada raro em ambientes onde o acesso é livre. Mas deixar a página do Orkut do falecido aberta para envio de scraps, substit ui o livro de condolências,
coisa do passado analógico.

Um recurso inédito pode ser utilizado sobre o caixão ou no salão do velório. Uma imagem de arquivo do morto, exibida em projeção holográfica em 3D pode dar vida e provocar uma visão impressionante para o público no local do evento. Mas não terá o mesmo efeito para as câmeras, principalmente para a webcam de baixa resolução. Este é
o desafio em produzir um evento para público local (conhecido pela sigla em Inglês “PA”, public audience), com transmissão simultânea para televisão e Internet.

Dicas úteis

“O que você está sentindo?”. “Ódio do repórter que pergunta isso!“ É o que o telespectador tem vontade de responder quando essa pergunta é feita a algum parente ou amigo do morto. Nada mais irritante do que essa pergunta que parece obrigatória em enterro de famosos ou vítimas da violência. É certo que a busca pelos afetos e desafetos é uma tarefa obrigatória. Mas o maior desafio do produtor e do repórter que vão buscar pessoas para os depoimentos é fazer um desafeto continuar assim após a morte do inimigo.

No Brasil, o inevitável funeral de famosos vai provocar a paralisação do país para assistir ao cortejo. A mídia tende a fabricar páginas, impressas e digitais, e horas de material jornalístico que vão trombar um com o outro até mesmo dentro de suas redações com mais de um veículo ou programa. O conteúdo precisa ser trabalhado para atender a
vários gêneros e formatos da comunicação eletrônica e impressa. Por isso, a digitalização do acervo, com servidores que permitem o acessos simultâneos pelos profissionais, vai agilizar a produção e entregar ao público com mais rapidez os momentos memoráveis e outros pouco conhecido da vida do homenageado.

A Rede Globo possui na sua cidade cenográfica, no Projac, no Rio de Janeiro, uma igreja para atender as cenas de suas produções. O principal motivo da construção desse cenário, segundo os profissionais de cenografia e produção, é pela dificuldade em conseguir autorização da Cúria para realizar gravações nas igrejas do Rio de Janeiro. Economiza-se com isso tempo de produção e deslocamento de equipe para a realização de cenas nesse tipo de locação que fazem parte, obrigatoriamente, de todo roteiro de novela. Além disso, as variações de luz e cores que normalmente os vitrais e as janelas das igrejas centenárias provocam na cena são desafios para os profissionais de iluminação manterem a fotografia sempre com o mesmo tom. Numa igreja cenográfica isso não ocorre porque a arquitetura foi planejada para atender essas exigências: janelas, iluminação artística e luz cenográfica – castiçais, lustres e objetos de cena – são posicionados com objetivos técnicos e fotográficos, o que não ocorre de maneira explícita em igrejas reais.

Para evitar dissabores com a chuva durante a colocação do caixão no túmulo, é prudente estender uma tenda transparente com dimensões bem amplas. A transparência é para permitir a passagem da luz natural, porém é necessário o reforço com refletores mini-brutt para não perder a imagem principal que pode estar escurecida pelo excesso de pessoas junto ao caixão e pela profundidade da cova. Nos cemitérios mais modernos não há túmulo e só haverá possibilidade de captar imagem do trabalho dos coveiros se acâmera estiver posicionada mais ao alto, numa plataforma, para que o cameraman não precise disputar espaço com os familiares e amigos.

Não devemos esquecer que a imagem não está sendo transmitida para uma única plataforma, a TV. A transmissão é para multiplataformas digitais. Para internet, a câmera no tripé fornece a imagem para um streamming com menos paralisações do que se estivesse no ombro do cinegrafista. Vale lembrar que a imagem pela internet tem interrupções quando a mudança de cena é muito brusca ou quando apresenta pontos muito diferentes.

Pá de cal

Um político, um esportista, um papa e um artista. Todos os funerais usados como exemplos foram amplamente cobertos e registrados pela mídia por todos os produtores de conteúdo, tanto os profissionais como também os novos e autônomo internautas. Mas agora, os milhões de desconhecidos podem ter entrar para a história do mundo – ou pelo menos na história digital do mundo – tendo o mesmo tratamento que possibilitou aos famosos o registro e a divulgação instantânea e planetária da sua humilde passagem pela terra. Os 15 minutos de fama a que todos tem direito na vida passarão a valer 15 milhões de acesso ao vídeo no Youtube a pós a morte.

Para quem achou que o funeral do Michael Jackson foi o limite da mídia, espere para ver o próximo funeral de um famoso. Posicionamento de câmera absolutamente planejado, câmera no teto para dar um enquadramento diferenciado e frontal do morto, a iluminação – interna e externa – controlada para dar um tom intimista ou caracterizar o ambiente com gobos com geram figuras nas paredes, microfones direcionais para captar o choro e os cumprimentos, a transmissão para mobil, arquivos para serem baixados em Ipod com os últimos momentos do ídolo, venda de cotas de patrocínio para bancar todo os custos de produção com alimentação da equipe, hospedagem, transporte, câmera aérea, vídeos no Youtube… O público deve se acostumar com esse espetáculo de cobertura do “showneral” e aprender de novo o que é ser gente no mundo digital.

Referências

GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para as novas mídias: do game a TV interativa. São Paulo: Senac, 2003
MACHADO, Elias. O Ciberespaço como fonte para os Jornalistas. Editora Calandra, 2003.
TRAQUINA, Nelson. Teoria do Jornalismo. Florianópolis: Insular, 2005.
Revista Veja, Edição 1683 – 17/01/2001
http://www.grupovila.com.br/novidades/velorio_ao_vivo
http://www.youtube.com/user/michaeljackson?blend=1&ob=4
http://pt.wikipedia.org/wiki/Diana,_Princesa_de_Gales
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tancredo_Neves
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ayrton_Senna

Velório de Michael Jackson:
http://www.youtube.com/watch?v=XwP0f5iJ6XY
http://www.youtube.com/watch?v=8PupQJfB_dE
Orkut: palavra chave: Michael Jackson

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Este post tem um comentário

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    Cristina Lira

    querido autor,
    eu li seu artigo pois estou escrevendo o meu sobre um tema incomum, gostei muito do que tinha lido até chegar ao final e descobrir que voce utilizou como base de pesquisa tenda a internet com muitos outros um site de confiança,vc usou um que voce mesmo o manipula, a WIKPEDIA!!!!! não use mais isso como base de pesquisa!! pois apos ler e gostar do seu trabalho o desconsiderei e nao usarei como minha referencia.

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