Crítica | Twin Peaks: The Return (2017), de David Lynch

Por Murilo Bronzeri

Twin Peaks é uma série de TV criada por Mark Frost e David Lynch, com 30 episódios exibidos em duas temporadas durante os anos de 1990 e 1991. O universo da série também contou com dois filmes: Twin Peaks: Fire Walk with Me (1992) e Twin Peaks: The Missing Pieces (2014), dirigidos por David Lynch. Cerca de 25 anos depois, em 2017, a série voltou às telas com uma temporada de 18 episódios — que também pode ser encarada como um longa-metragem dividido em 18 partes. A obra chegou, inclusive, a ser considerada o melhor filme de 2017 pela Cahiers du Cinéma e, anos depois, a mesma revista a considerou o melhor filme da década.

O estilo surreal, cheio de suspense, e visualmente magnífico de David Lynch é ainda maior do que nos episódios antigos, deixando para trás qualquer outra coisa já vista na TV. Mesmo as pontas deixadas soltas nas temporadas anteriores foram amarradas no retorno da série, e, ainda que, por vezes, as soluções pareçam surgir do nada, a história progride em um nível excelente, fugindo dessa corrente de reboots e continuações de clássicos que apenas repetem o antigo plot.

A revisita aos personagens antigos também é excelente. Alguns deles foram transformados em coadjuvantes, tornando especial cada minuto de tela, e outros voltaram com grandíssimas atuações, como é o caso do ator Kyle MacLachlan com seus vários personagens. Contudo, também é notável como as novas caras do elenco fazem bons papéis na série: Naomi Watts como Janey-E, Laura Dern como Diane e sua tulpa, Amanda Seyfried como Becky, Michael Cera como Wally Brando (uma pena ter aparecido tão pouco), entre outros.

As críticas à sociedade atual presentes nesse retorno também são evidentes: Dr. Jacoby fazendo vídeos nos quais vende suas verdades para um público alienado; uma família que deixa uma arma com uma criança no banco de trás do carro, causando um disparo contra o Double R; a venda desse mesmo restaurante para uma grande corporação; o homem que vende sangue para sobreviver; os casais divorciados; e até mesmo a explosão da bomba atômica, no flashback da incrível Parte 8. São todas claras e perfeitas para passar todo o sentimento que Lynch decidiu trazer à série.

Aliás, Twin Peaks sempre foi muito sobre sentimentos e nem tanto sobre respostas. Sentir, nessa série, é muito mais importante do que compreender, e o sentimento de dúvida e de vazio passados para o público nessa temporada são gigantes, como poucas obras audiovisuais conseguem alcançar.