CRÍTICA | As Quatro Estações da Juventude (2025), Essi Rafael

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Frame do documentário “As Quatro Estações da Juventude” — Foto: LPB Content/Divulgação

Por Guilherme Reis

Redação RUA

Impulsionado pelo desejo de se tornar um diretor de cinema, um estudante universitário inicia um documentário sobre a graduação de seus companheiros e sobre a passagem de outros estudantes pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 

Num geral, o filme flerta com a forma do documentário clássico, com entrevistas diretas e certa linearidade. Mesmo que isso se mantenha com regularidade, aos poucos vai surgindo uma leve autocrítica: os próprios entrevistados demonstram algum incômodo com o formato, com a presença da câmera, com o ato de se explicarem. Além disso, o próprio narrador marca sua presença através de comentários a respeito do seu modo de filmar e sua experiência naquele ambiente. Esse narrador, ainda que não interfira diretamente nos fatos, interfere na maneira como eles são organizados e, portanto, significados.

O que mais chama atenção, no entanto, são os momentos em que o filme aposta numa exposição direta das relações entre câmera e personagem, com elaboração visual sustentada nas pessoas ou nos espaços. O espectador é guiado por depoimentos que ganham força por si só, sem precisar de grandes artifícios além de um corpo, um cenário e uma história. E quando a narrativa permite que esses personagens falem do seu cotidiano, de suas dúvidas e desejos, o filme revela sua força: é a vida comum que dá conta de comover. 

Nesse sentido, a narração em off, em alguns momentos, pode parecer tomar lugar dessa transparência (que faz os personagens ganharem profundidade e a narrativa se tornar madura) e justamente tirar a possibilidade de uma observação pessoal do espectador. Muitas vezes o texto narrado tenta guiar os sentimentos em um filme que já tinha esse papel ocupado pelas pessoas reais que documenta. 

Também vale destacar como o documentário convida a pensar a universidade como uma comunidade, não deixando passar momentos de expressão política de universitários ou de crise nacional. Ao revisitar os anos de 2010 a 2014, ele não apenas reconstroi fatos que um grupo de pessoas compartilhou em um intervalo de tempo, mas reutiliza simbolicamente aquela memória do Brasil, da educação e da fase universitária. É um gesto de reaparecimento e de reinscrição. Um filme sobre estudantes, feito entre eles e para eles.

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