Por Nícolas Martins
Cineclube “Da RUA ao CAIS”
Clint Eastwood começa seu percurso no cinema como ator, interpretando diversos papeis dos westerns spaghetti de diretores italianos, como Sergio Leone, e pelas intrigas dos filmes policiais, no qual interpretava “Dirty Harry”, policial galã e durão que incorporava em si toda a ideologia reacionária e conservadora do jeito de vida estadunidense.
Mais do que um ator de tipos, ele se torna um ícone, uma parte do imaginário hollywoodiano que foi se moldando em conjunto com as contradições dos Estados Unidos, tal qual os desertos de Monument Valley dos faroestes de John Ford, os saloons onde a tensão entre mocinhos e bandidos finalmente desponta e as brigas acontecem.
Para entender Clint Eastwood como diretor, é essencial que se entenda essa trajetória. Sua direção se dá como ícone, utilizando-se de toda a bagagem de linguagem cinematográfica construída pelos cineastas do cinema clássico para trabalhar na sua obra.
E não é porque Clint não trabalha com o faroeste como em Os Imperdoáveis (1992) ou com o filme policial como em Sobre Meninos e Lobos (2003) que isso seria diferente em Menina de Ouro (2004). É impossível ver o filme e não pensar no cinema dos expressionistas alemães, refugiados em Hollywood em decorrência do nazismo. Otto Preminger, Fritz Lang, F. W. Murnau estão todos no cinema de Clint e no uso da “[…] iluminação low-key (com profusão de sombras)” (2007, p. 181), que o autor Fernando Mascarello ressalta em seu texto sobre o filme noir, para oprimir os personagens e enfatizar novamente o drama vivido no terceiro ato do filme.
Nesse sentido, Clint Eastwood coloca Menina de Ouro como um filme de esporte pelas lentes técnicas do filme noir elaborado por tais cineastas. Como afirma também Mascarello, a narração masculina em over ( 2007, p. 181) do personagem Eddie, interpretado pelo Morgan Freeman, marca o filme inteiro e nos relembra do drama, mesmo nos momentos de sucesso da protagonista Maggie Fitzgerald, interpretação de Hillary Swank que rendeu um Oscar à atriz.
Por fim, Eastwood incorpora as contradições do mito no seu fazer cinematográfico. Uma desconstrução inerente a esse mito acompanhada de um humanismo que caracterizou tanto a obra de John Ford. A figura durona do treinador que interpreta logo revela as suas camadas e, no final, as contradições de seu personagem se acumulam, obrigando-o a tomar uma difícil decisão.
“A Menina de Ouro” será exibida no dia 26/07, às 14h, no auditório do CECH no AT-2 da UFSCar.
REFERÊNCIAS:
- MASCARELLO, Fernando. Film noir. In: MASCARELLO, Fernando. História do cinema mundial. Campinas, Papirus, 2007. P. 177-188.
- Menina de Ouro. Direção: Clint Eastwood. Produção: Warner Bros. Estados Unidos: 2004. Disponível em: HBO Max. Acesso em: 23 jul. 2024.