CINECLUBE | O cineclube “Da RUA ao CAIS” contará com a programação “Nelson Rodrigues no Cinema” nesse mês de agosto

Por Nícolas Martins

Cineclube “Da RUA ao CAIS”

Quando os grandes teóricos estudaram o cinema, sua intenção geralmente se dava em torno de descobrir o que é a sétima arte tinha de específico. Para André Bazin, por exemplo, seria a capacidade da câmera cinematográfica de registrar a realidade e que o bom cinema enfatizaria isso através do plano-sequência, ou seja, manter a continuidade do plano.

Desde então, a discussão foi além dessa necessidade de comprovar uma legitimidade do cinema perante outras artes. Recentemente, com o advento da Internet e de outras expressões audiovisuais, como a televisão e os jogos digitais, autores como Henry Jenkins discutem as capacidades intermidiáticas e transmidiáticas que as obras podem abarcar. 

Apesar da discussão ser recente, esses elementos sempre se encontraram na própria fundação do cinema. Nos primeiros filmes do final do século XIX com diretores como Georges Meliés, tínhamos aspectos da composição visual da pintura e da fotografia, além da mise-em-scène extremamente inspirada no que se produzia no âmbito teatral. Posteriormente, com o advento do som, tivemos a trilha sonora musical e roteiros cada vez mais baseados no diálogo e em aspectos literários. 

Porém, o aspecto mais popular da intermidialidade é a adaptação, ou seja, a transposição da trama de uma mídia para a outra. Esse procedimento se encontra por todo o audiovisual, seja em filmes clássicos como O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola, ou em séries de televisão recentes como Game of Thrones (2011-2019), de David Benioff e D. B. Weiss. 

Dessa forma, é impossível pensar a construção de um audiovisual brasileiro sem suas adaptações. No Cinema Novo, o modernismo literário do Brasil forneceu bastante material para os autores do movimento, como em Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, inspirado no romance homônimo de Graciliano Ramos, e em Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, baseado na obra-prima de Mário de Andrade.

Assim, Nelson Rodrigues também é uma parte importante da produção cinematográfica brasileira. O dramaturgo e escritor manteve uma relação extremamente instigante com a sétima arte, já que seu material foi abordado por uma gama de diretores e estilos diversificados, acabando por refletir a própria história do cinema brasileiro. Em Boca de Ouro (1963), temos o já citado Nelson Pereira dos Santos como diretor, com sua abordagem típica inspirada no neorrealismo italiano e no Cinema Novo do qual fazia parte. Em A Dama do Lotação (1978), sua obra é trazida para as telonas por Neville D’Almeida, diretor importante do Cinema Marginal, que busca um olhar mais voltado para o cinema comercial das pornochanchadas que povoaram a exibição brasileira dos anos 1970.

Em homenagem ao seu aniversário de 112 anos no mês de agosto, o cineclube “Da RUA ao CAIS” contará com a programação “Nelson Rodrigues no Cinema”, exibindo quatro de seus filmes no auditório do CECH no AT-2!

– 09/08, 14h – Sessão de “Boca de Ouro” (1963)

– 13/08, 19h – Sessão de “Engraçadinha” (1981)

– 19/08, 14h – Sessão de “Os Sete Gatinhos” (1980)

– 30/08, 14h – Sessão de “A Dama do Lotação” (1978)

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