CRÍTICA | Alien: Romulus (2024), Fede Alvarez

Felipe Tavares

Redação RUA

Trabalho precário, doenças e negligência corporativa permite que a obra, logo de cara, estabeleça um clima de desespero, fazendo com que decisões imaturas e intrigas “bobas” sejam fortalecidas, ou ao menos justificadas pelo contexto assustador. A grande figura maligna não se trata de uma forma de vida perfeita, mas de uma empresa que submete toda a população à situação de vulnerabilidade, de modo que correr os riscos de explorar uma estação desconhecida é mais viável que seguir “trabalhando normalmente”. Somada a esse aspecto social, a presença de andróides promove discussões em torno da humanidade, em que tais pessoas artificiais atuam tanto como contraponto à natureza humana ao priorizar a frieza e racionalidade, quanto figuras empáticas capazes de criar laços, ainda que isso parta de suas diretrizes pré-estabelecidas.

Com isso em mente, Fede Alvarez desloca esse grupo para um ambiente no qual a hostilidade, antes representada através da corporação, toma forma por meio de seres altamente perigosos. Aqui, dois fatores intrínsecos ao terror se destacam pela maneira com que são utilizados: a escuridão e o silêncio. A obra contrasta a falta de iluminação com a utilização de sinalizadores, onde se torna visível apenas algumas partes dos xenomorfos, assim como os facehuggers, que podem se esgueirar por todas as partes daquele lugar, evidenciando a constante ameaça que representam. Já a questão do silêncio é abordada principalmente através de grandes planos gerais, nos quais a imensidão do espaço se associa à ausência de sons, enfatizando também a situação de total isolamento daquelas pessoas. Ponto que também é atribuído à planos mais próximos, pois à medida que novos ataques vão ocorrendo, mais cautelosos os sobreviventes precisam ser, com destaque para uma sequência em que três personagens precisam de silêncio total para atravessar uma área infestada de facehuggers, onde o diretor emula características demonstradas em “O Homem nas Trevas” (2016) e promove tensão focando não apenas no que se vê, mas no que se ouve. Tratando de projetos anteriores do diretor, a visceralidade de “A Morte do Demônio” (2013) também se faz presente, mesmo que em escalas inferiores. Os encontros com as criaturas acarretam em sequências sanguinolentas, alternando entre a sugestividade e momentos gráficos, questão que se torna ainda mais interessante pela diversidade de ameaças, sendo que o sangue ácido dos xenomorfos e os ataques de facehuggers proporcionam cenas chocantes envolvendo os corpos do grupo protagonista, em uma crescente de violência e bizarrices que culminam em uma sequência final tensa, assustadora e impactante.

Abordando a ambientação do longa em meio aos outros filmes da franquia, é possível notar grande inspiração em “Alien, O Oitavo Passageiro” (1979), tanto na estrutura da história, quanto em aspectos visuais. O ponto é que tal inspiração vai além da fidelidade ao projeto-base, visto que a obra se adequa à série de filmes, mas propõe novidades e as desenvolve imprimindo sua própria identidade, tem-se como exemplo a personagem da fantástica Cailee Spaeny, que traça um caminho de sobrevivência semelhante ao de Ripley, mas transita por rotas diferentes, ainda que igualmente interessantes.

Sendo assim, o filme estabelece a própria identidade na franquia à medida que retoma o terror, introduzindo novos personagens e desenvolvendo ideias diferentes. Sob o olhar de Fede Alvarez, Alien: Romulus dá contornos desesperadores e brutais à frase “no espaço ninguém pode te ouvir gritar”.

REFERÊNCIAS:

Alien: Romulus. Fede Alvarez. Estados Unidos, 2024, 119 min., son., cor.

Don’t Breathe. Fede Alvarez. Estados Unidos, 2016, 89 min., son., cor.

Evil Dead. Fede Alvarez. Estados Unidos, 2013, 91 min., son., cor.

Alien. Ridley Scott. Estados Unidos, 1979, 117 min., son., cor.