CRÍTICA | BLUE LOCK: EPISODE NAGI (2024), Shunsuke Ishikawa

Por: Gustavo Ramos Ribeiro

Redação RUA

           BLUE LOCK: EPISODE NAGI se propõe a ser uma recontagem da história do primeiro arco da história na perspectiva de seus maiores antagonistas: Seishiro Nagi e Reo Mikage, que possuem uma trajetória quase oposta ao protagonista da história original, que ao invés de serem algum jogador de futebol bonzinho, mas tendo muita obsessão por se tornar o melhor, os dois já começam sendo jogadores ótimos, sendo os melhores do seu time, com Reo fundando um time de ensino médio e querendo desafiar o pai, um dono de empresa que insiste em fazer de Reo seu herdeiro, desacreditando em seu sonho de ganhar a copa do mundo, e Nagi um jogador talentoso e extremamente preguiçoso, que fica de saco cheio com qualquer coisa, a união desses dois forma uma dupla imbatível.

 O chamado para aventura consiste no convite para fazer parte do projeto que dá nome à história, o BLUE LOCK, um projeto que busca formar o melhor atacante do mundo. A priori, Nagi recusa o convite devido a sua natureza preguiçosa, mas é convencido por Reo e pelo fundador do projeto Jinpachi Ego.

             Dentro das instalações do projeto a dupla passa pelo seu primeiro desafio, uma espécie de queimada com futebol, onde é eliminado o velho rival da dupla que perdeu no jogo de estreia dos protagonistas, e conhecem o terceiro membro do trio que tornaria seu time temporário (o time V) imbatível, Zantetsu Tsurugi, um jogador filho de dentistas, burro, que por não conseguir se orientar em linhas de trem, corria para casa todo dia, o que o tornou extremamente rápido e com uma aceleração explosiva extraordinária, que de ínicio parece uma força rival a dupla.

            Passado esse desafio, é oficialmente formado o time V e dado o ínicio ao mata-mata de 5 times (V à Z). Em suas primeiras partidas, o time V é implacável, com seus talentos no esporte causando uma vitória esmagadora contra o time Y, e uma vitória de Reo contra a preguiça de seu “tesouro” como chama Nagi, criando uma meta de gols para o preguiçoso conseguir seu celular de volta e camas confortáveis para o time, concebendo assim um império que só um herdeiro de empresas poderia criar. Esse império sendo afetado ao próximo jogo, contra o time X, que um de seus jogadores, o egocêntrico “Rei” Shoei Barou, causa em Nagi um sentimento novo, uma ânsia por se provar competente e independente, desafiando as palavras e o julgamento de Barou, conhecido por sua agressividade, insultos e talento. A partir desse confronto Nagi começa a ser menos preguiçoso em campo, fazendo uma amizade com Zantetsu e se arriscando em jogadas novas e em domínios, que são seu maior talento, cada vez mais difíceis.

        Mas o prato principal do filme é quando foca em recontar o clímax da primeira temporada, o jogo do Time V contra o Time Z, dessa vez da perspectiva dos antagonistas da história original, um jogo que em teoria seria fichinha para o time V, já que o time Z é o time com os números mais baixos em ranking e devido a uma traição de um de seus membros, joga com um jogador a menos. A teoria se prova certa nos primeiros minutos em que logo de cara são feitos 3 gols contra o time Z, que está a beira da eliminação e precisa vencer esse jogo para se manter no BLUE LOCK. Essa enxurrada de gols destroi o espírito do time perdedor, menos de um de seus jogadores, Meguru Bachira: o jogador mais fora da caixa do outro time fica ainda mais animado, leva isso como um desafio e marca um gol contra o time V, elevando a moral do time Z e iniciando uma mudança na mentalidade de Nagi, Reo e Zantetsu, que começam a ter dificuldades contra os avanços do time Z e sofrem mais 2 gols, empatando o jogo.

        Por dentro da cabeça dos personagens, Nagi se pergunta o que faz eles se esforçarem tanto para continuar no projeto e vencer o jogo, o que faz eles darem tanto de si para algo que outros apenas nasceram com dons, todas as novidades que o time Z inventa e reinventa o deixa curioso, e o faz inconscientemente desejar esse sentimento, já que Nagi detesta fazer tudo que necessita de esforço. Como ressaltado em cenas anteriores onde demonstra preguiça até para comer, cena que demonstra perfeitamente o personagem do protagonista, que vê o desespero do traidor do time Z, Wataru Kuon, e o questiona, do motivo desse desespero e dessa agonia em querer continuar, o insultando dizendo que Kuon não tem talento.

      Toda a reviravolta do jogo pega os jogadores do time Z de surpresa, fazendo Reo e Nagi levarem a partida mais a sério, e a atenção de Nagi é levada para Yoichi Isagi, o protagonista da história original, o primeiro a entrar no projeto, mas permanece no pior time nos rankings, e de acordo com Nagi, não é nada especial nem talentoso, então por que ele tenta tanto? É a pergunta passando na cabeça de Nagi, que ao questionar diretamente, é recebido com uma resposta agressiva na frase: “cala a boca geniozinho, já tô chegando na parte boa” o surpreendendo ao perceber que o adversário não liga para seus insultos nem sua situação, ele só quer vencer esse jogo.

          Contudo, o time V assume novamente a liderança quando após tudo isso Nagi resolve jogar de forma ativa, copiando os membros do time Z, chocado com a forma e agressividade que vão ao gol, acompanhado por Reo e Zantetsu fazendo jogadas mais complexas conseguem mais um gol, e diferente de minutos antes, seus adversários não desistem mais, apenas mudam a formação, mandando um de seus jogadores marcar Reo o tempo todo, limitando suas possibilidades de passes e jogadas, assim como pensando em formas de lidar com a velocidade de Zantetsu e os domínios de Nagi, empatando brevemente o jogo, até que em uma falha de defesa, Nagi consegue uma linha de chute limpa, sendo parado por Kuon. O traidor do time Z que não estava jogando comete uma falta feia derrubando o protagonista no chão, dando uma cobrança de falta e principalmente, uma oportunidade ao time Z. 

     Novamente Nagi se choca com essa atitude, que não entende essa ânsia por impedi-lo de marcar, de um jogador que nem confiar em seu time confiava, o que o faz querer tentar mais, e com a falta cobrada por Reo, uma sequência de eventos levando até o gol sendo defendido e Isagi impedindo Nagi de pegar a posse de bola e indo para um último ataque.

      Essa última investida está a mil maravilhas para o time Z com o time chegando na cara do gol e com Isagi tendo uma linha limpa, até que Nagi aparentemente quebra seu clima chegando por trás e tendo capacidade para impedir de marcar, até que Isagi tenta algo novo e recebendo o passe, chuta a bola no mesmo instante, marcando o gol da vitória para o time Z. O que acontece em seguida surpreende Reo e mostra ao espectador o caminho de Nagi, que em pura euforia e sentindo a mesma vontade de vencer de seus adversários, clama pelo amigo, para tentarem mais uma jogada e marcarem dois gols, e com seu clamor impedido pelo apito marcando o fim da partida, conhece a frustração de perder pela primeira vez, odiando esse sentimento e ficando intrigado com a mentalidade de seus adversários, o marcando permanentemente para o resto da história.

      O filme a seguir, aborda o segundo arco do anime de forma resumida, ainda pela perspectiva de Nagi e Reo, com foco em um momento importante, o momento em que Nagi troca Reo e sua zona de conforto, facilidade e passes perfeitos, pelo desafio e o novo de formar um trio com Isagi e Bachira, os jogadores que o fizeram repensar a maneira que vive e joga pela primeira vez, abandonando seu passado, mas garantindo que leva sua relação e promessa a Reo, de que seriam os melhores do mundo juntos para sempre e espera reencontrá-lo no outro lado. Essa decisão deixa Reo de coração partido, embasbacado pela decisão do seu “tesouro”, e ele sofre por ter sido deixado de lado e sentir que não consegue despertar emoções novas em Nagi. O foco na sua reação após Nagi ir embora fomenta a cena por mostrar o conflito interno passando na cabeça de Reo no momento, que por um lado sente orgulho de Nagi por estar querendo melhorar e ignorando a encheção de saco que seria se esforçar, mas por outro lado, a angústia de estar sendo trocado e abandonado fala mais alto, não expressando nada mais do que rancor, rancor esse que continua até seu futuro confronto com o time de Isagi e Nagi.

        Neste momento o filme está se aproximando do final, então para terminar essa parte da história é tomada uma decisão interessante, que a priori achei que prejudicaria o filme, mas por sua proposta ser apenas recontar de outra perspectiva, esse arco, da segunda seleção, que é bem abordado no mangá e anime, é exibido em uma ótima montagem que resume os momentos mais impactantes e importantes para a história, trazendo para fãs da obra uma sensação boa ao relembrar desse arco que é um dos mais interessantes da história, e dando um gostinho de quero mais para novos espectadores irem atrás da versão completa nas outras mídias, terminando assim no mesmo momento que o anime termina, onde todos os personagens mais relevantes da história passam pela seletiva, com exceção de um, e com nossos protagonistas Nagi, Reo e sua relação abalada e mudada.

     Partindo da premissa de ser um outro ângulo sobre o primeiro arco da história, esse “episódio” focado em Nagi e Reo funciona muito bem, oferecendo pontos de vista intrigantes, backstories e partidas não aprofundadas na história original e dinâmicas entre o trio de personagens principais sendo uma adição muito bem vinda a história, tendo seu clímax na mudança de mentalidade de Nagi e finalizando com uma cena de “término” chocante entre os dois protagonistas. Esse filme funciona tanto como um primeiro contato quanto uma nova perspectiva à história de Blue Lock e finaliza com uma experiência agradável e interessante de assistir, facilmente deixando novos espectadores empolgados com o ritmo da obra.

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