Crítica | Tartarugas Ninja: Caos Mutante (2023), de Jeff Rowe e Kyler Spears

Cena do filme Tartarugas Ninjas: Caos Mutante.

Por: Gabriel Pinheiro

Desde a estreia de “Homem-Aranha no Aranhaverso”, é perceptível uma alteração no estilo das animações que têm sido lançadas no cinema. Esse estilo não é exatamente inovador, visto que já estava presente em produções mais restritas, especialmente em festivais de nicho. No entanto, “Aranhaverso” introduziu essa abordagem nos complexos cinematográficos comerciais, e a partir desse ponto, suas influências puderam ser notadas em filmes como no recente “Gato de Botas” e agora nesta nova empreitada das “Tartarugas Ninja”.

As Tartarugas Ninja, ou Teenage Mutant Ninja Turtles (TMNT), emergiram na década de 1980 como criação de Kevin Eastman e Peter Laird. A narrativa é uma mescla de artes marciais com personagens de tartarugas antropomórficas, tendo tido sua origem numa revista em quadrinhos independente em 1984. São quatro tartarugas, nomeadas em homenagem a proeminentes artistas renascentistas, que foram transformadas por uma substância química e treinadas por um rato mutante chamado Splinter. Essa concepção evoluiu para uma série animada em 1987. Ao longo dos anos, as Tartarugas Ninja tornaram-se ícones, gerando adaptações para o cinema, quadrinhos e uma vasta gama de produtos. E agora, elas retornam ao cinema nessa nova animação dirigida por Jeff Rowe e Kyler Spears.

No mais recente filme, “Tartarugas Ninja: Caos Mutante”, a trama concentra-se nas versões jovens de Leonardo, Raphael, Michelangelo e Donatello, que atuam como vigilantes e protetores da cidade de Nova Iorque. A narrativa do filme explora como esses irmãos mutantes, após um período de reclusão das interações humanas, decidem realizar atos heroicos para conquistar o respeito dos habitantes da cidade e serem aceitos como jovens comuns. Com a colaboração da aliada recém-adquirida, April O’Neil, eles enfrentam uma coalizão criminosa de natureza enigmática. Entretanto, a trama torna-se significativamente mais complexa quando inadvertidamente liberam uma série de mutantes, desencadeando uma sequência de adversidades que põem à prova não apenas suas habilidades individuais, mas também a coesão do próprio grupo.

Para além de seu apelo visual atraente, o filme destaca-se pelo seu senso de humor. O roteiro encontra formas contemporâneas de inserir elementos humorísticos, abordando temas do cotidiano e questões sociais relevantes. O filme é caracterizado por sua contemporaneidade, evitando assim uma adesão rígida ao anacronismo, e proporcionando uma narrativa completa com um desenvolvimento bem estruturado. Este aspecto contrasta com muitas das principais animações, especialmente as provenientes da Disney e Pixar, que podem frequentemente parecer genéricas e facilmente esquecíveis. No entanto, este filme almeja estabelecer uma impressão duradoura, alcançando tal feito através da atribuição de características distintas a cada um dos quatro personagens principais, ao invés de os uniformizar.

A narrativa apresenta diversas reviravoltas não antecipadas, engajando a audiência em especulações quanto aos próximos desdobramentos. Apesar de conter alguns clichês comuns a produções animadas infantis, que visam simplificar a compreensão para os espectadores jovens, essa animação evita subestimar sua audiência. Ao contrário, reconhece a capacidade do público de compreender níveis variados de complexidade, tratando os temas de formas diversificadas. O humor transcende diferentes faixas etárias e níveis de familiaridade com os temas abordados.

O sucesso do filme reside não apenas em sua premissa, mas também na qualidade da animação, que é detalhada e bem executada, com uma perspectiva visual bem delineada. Tal característica contribui particularmente para a trama, que evita clichês recorrentes. Em vez disso, como foi observado por um colega do Jornal de Brasília, o filme possui uma natureza anárquica e despreocupada. Personagens secundários, como o rato e a amiga jornalista do grupo, também desempenham papéis relevantes na narrativa, conferindo maior profundidade à história. Acima de tudo, o filme é essencialmente cativante, apresentando personagens carismáticos e até mesmo um vilão memorável, algo relativamente raro. Tinha tudo para dar errado, assim como deu nas outras tentativas de adaptar as aventuras desse grupo para a TV e o cinema. No entanto, esse filme é uma grata surpresa em diversos aspectos.

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