CRÍTICA | Como treinar seu dragão (2025), Dean DeBlois

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Por Pedro Octávio

Redação RUA

Como Treinar o Seu Dragão (2025) é, de fato, uma história que transcende a animação e ganha ainda mais significado neste live-action? A resposta é, definitivamente, sim! E não por um acaso!

Logo de início, notamos que a narrativa é bem similar à animação de 2010, que foi dirigida pelo idealizador da obra Dean DeBlois e Chris Sanders. Se formos analisar trecho por trecho do novo filme, será possível notar planos similares aos da animação original e que, intencionalmente, evocam a memória afetiva do espectador. A repetição de enquadramentos icônicos, como o close no olhar de Soluço ao libertar Banguela, atua como elo emocional entre as obras, mas isso não desqualifica o filme de 2025 e, sim, mostra que é possível gerar emoção mesmo com uma história já conhecida. Sabemos que Soluço é um viking e que sua amizade com o Fúria da Noite, ou melhor, Banguela, foi iniciada após ele não conseguir matá-lo. Com isso, já entendemos que o foco aqui não é na novidade que o roteiro nos traz, mas sim a forma como essa perspectiva no novo filme é apresentada, mesmo sendo familiar, ela é enriquecida por escolhas estéticas e nuances de atuação, de um modo que a animação não poderia proporcionar da mesma forma. Por exemplo, mesmo sendo sutil, o amadurecimento de Soluço é nítido durante o live-action e isso é demonstrado principalmente através dos silêncios, olhares e da fisicalidade do ator.

A direção aposta em um ritmo mais contido e introspectivo em determinados momentos, criando respiros que favorecem a construção da intimidade entre os personagens. Os cenários e a fotografia contribuem para um universo visual mais orgânico e palpável, aprofundando a imersão do espectador sem perder a fantasia, marca da essência da obra original. Ainda é possível notar a famosa trilha sonora de John Powell, que reforça os vínculos emocionais sem recorrer ao melodrama e, por si só, assistir ao filme com ela de fundo dá todo um toque nostálgico, favorecendo o enredo.

Além disso, não podemos esquecer da principal questão que configura este filme como live-action: os atores em carne e osso. Aqui encontramos pessoas conhecidas como Gerard Butler, fazendo  um papel excelentíssimo como Stoico, pai do Soluço, e que também dublou na versão original da animação, algo bem legal de ser reconhecido. Outros atores em destaque são Mason Thames e Nico Parker, o casal da trama e que contribuem para o elenco central. A atuação neste filme é um show à parte: cada detalhe, cada close nos atores, revela a profundidade por trás do que a animação deu início e, o bom preparo nas cenas de lutas, cambalhotas e o uso da tela verde, remete a uma boa organização do filme. Outro ponto interessante são os próprios dragões, que adicionam o elemento fantástico, despertam certo medo e ainda assim não soam artificiais ao contracenar com os atores.

A principal questão é, com uma base de fãs estabelecida, recontar a mesma história em outro meio nos gera a dúvida de “preciso assistir essa adaptação?”, mas a verdade é que, em alguns casos, não vale a pena inventar moda e é aqui que o filme acerta. É coerente pensar que não se sentirá tanta emoção ao rever uma história já conhecida, mas as poucas alterações de enredo, sendo leves e sutis, mostram uma atualização de 2010 para cá, como a nova perspectiva de Astrid, algo que se torna mais verossímil no live-action. Outro exemplo, é um equilíbrio maior em alguns elementos para fazer sentido caso dragões existissem de fato, como cenas adicionais no enfrentamento do Morte Rubra, o dragão que Soluço e sua equipe enfrentam no fim. A verdade é, este filme não tenta revolucionar e segue um caminho seguro, apresentando uma narrativa igual à do original, mas que conquista o espectador em sua essência.

Portanto, embora o filme de 2025 não traga surpresas narrativas, ele reafirma a força de uma história estar na forma e composição de como ela é contada. Indiscutivelmente, mesmo a amizade de Soluço e Banguela sendo de conhecimento antes mesmo da famosa frase que inicia o filme, “Esta é Berk”, vê-los em cena justifica sua existência e aquece o coração.

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