CRÍTICA | SUPERMAN (2025), James Gunn

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Por Gustavo Ramos Ribeiro

Redação RUA

Superman (2025) de James Gunn é uma respiro muito bem vindo para o gênero dos filmes de super-heróis, recomeçando o universo DC nos cinemas de forma única, abandonando um realismo pé no chão e cinza, para dar lugar a uma tosqueira chamativa e colorida, parecendo que realmente saiu de uma revista em quadrinhos, refletido em sua fotografia e colorização. Também dando um ar novo ao personagem do azulão, que passou uma década com sua imagem atrelada a algo chato e desinteressante, onde só se era capaz de gostar com um componente super edgy e sombrio, agora se mostra um herói inspirador e complexo.

A caracterização do protagonista é muito bem feita pelo ator David Corenswet, Clark Kent e Superman visualmente duas pessoas diferentes, com as qualidades do kryptoniano destacadas nas suas muitas cenas de salvamentos e resgates, que sempre se fazem presentes nas cenas de ação do filme. As cenas fazem essa nova face do Superman mais comovente e simpatizante, vemos ele fazendo todos seus esforços para salvar toda pessoa em perigo, até mesmo indo além para salvar um cachorro e um esquilo, esses detalhes causam a aparição de um sorriso no rosto do espectador. A relação do Super com o Krypto trazem ótimas cenas de comédia e cenas de bem estar, ao ver a parceria dos dois na luta contra os vilões de Lex Luthor, Ultraman e os Raptors ou logo no comecinho do filme onde ele resgata Kal-el e o leva para a fortaleza.

E falando no vilão, Lex Luthor desse filme é marcado por uma maravilhosa atuação de Nicholas Hoult, tornando o vilão marcante e imponente ao mesmo tempo que realça sua inveja, obsessão com o homem de aço e sua fome de poder, criando centenas de esquemas para aniquilar o kryptoniano, invadindo sua fortaleza, e na figura do Ultraman, elaborar milhares de manobras de luta contra-atacando todo o estilo em que o Superman luta. Sua performance chega ao auge quando ele, sendo um vilão mais frio e controlador, explode de emoção, quando mata um inocente a sangue frio, põe ameaças constantes ao personagem do Metamorpho e em seus últimos confrontos do filme, onde chega a gritar de ódio e empolgação e até a chorar. Mostrando-o como um vilão muito marcante para essa nova era da DC e o personagem com a melhor performance do filme.

Completando o trio essencial das histórias do azulão, Lois Lane não fica pra trás, Rachel Broshanan traz vida a uma Lois que tem muita agência em um filme de super poderosos mesmo sendo uma repórter. Estando envolvida do início ao final do plot e sendo essencial para a derrota de Luthor, o roteiro a traz como uma personagem ativa e moldadora da trama, enquanto mostra um romance muito bem escrito e filmado ao filme, onde Lois e Clark já estão a três meses “ficando”. Assim, existindo muito amor e paixão mútua e também uma relutância na entrega total, pelas diferenças de visão de mundo que foram resolvidas em uma conversa de coração aberto e, para mim, sendo a cena mais linda do filme. É conversado como Lois passou por uma adolescência desconfiada, precisando estar de guarda sempre alta, Clark é um idealista que acredita no melhor das pessoas e que existe bondade e potencial em todo mundo.

Além desse “Big Three”, o filme adapta bem uma alta quantidade de personagens dos quadrinhos, do núcleo Superman e outros heróis, trazendo até então a melhor adaptação de um Lanterna Verde em filmes, com Guy Gardner sendo amavelmente insuportável, um Sr Incrível que rouba todas os holofotes sempre que aparece e tendo a cena de ação mais bonita e bem coreografada do filme, com uma dinâmica maravilhosa com o Superman e com Lois, que me faria assistir horas dos personagens interagindo. Uma Mulher Gavião feita de um jeito forte e interessante com seu grito característico e uma cena de confronto entre ela e o presidente da nação genocida de Boravia destacando-se das outras lutas do filme. Também com um Metamorpho adaptado de forma criativa e comovente, o personagem tem um filho apresentado e uma personalidade bem escrita, mesmo com pouco tempo de tela.

Mas não são só flores, algumas partes do filme acabam deixando a desejar, como a participação da Engenheira, que acaba sendo meio irrelevante para o final (tendo momentos interessantes mas acaba sendo tratada como uma capanga de luxo). O mesmo ocorre com Ultraman, que acabou servindo mais como um teaser para imaginarmos uma possível adaptação da Terra-3 ou do bizarro, sem ser propriamente um personagem, apenas um clone do protagonista. Uma estranha progressão de temas ocorre, a batalha contra o Kaiju parece anticlimática em relação aos conflitos principais do filme. Parecem ter tido dificuldades de encontrar uma mescla ideal entre as vidas de Clark Kent, Kal-El e Superman (já com as diferentes identidades conhecidas por quase todos os personagens) mas não todos, detalhe que gera um momento engraçado onde Lex ameaça matar um repórter próximo ao Superman (para pensarmos inicialmente que está falando de Lois) até a fala seguinte revelar que a ameaça era direcionada à Clark Kent.

O filme referencia e mostra lado na questão da Palestina e da imigração, direcionando-se ao parecer mais humanitário, onde coloca as vidas em primeiro lugar, e crítica o genocídio que acontece pela guerra entre os países fictícios de Boravia e Jarhanpur, acaba focando pouco nos habitantes de Jarhanpur, as vítimas do ataque (com momentos bem comoventes e emocionantes), mas poucos em número e em tempo, mas já esperado vindo de um filme grande de estúdio comercial.

A obra tenta abordar uma mensagem de esperança e otimismo em meio a um mundo cinza e caótico, e consegue muito bem. Na figura de seus personagens e super heróis, principalmente o que dá título ao filme, traz a ideia de colocar a esperança, gentileza e humanidade como sua maior força motriz e mostrar que em um mundo cinza, capitalista e desesperador, esperança e gentileza são punk-rock.

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