CRÍTICA | Guerra Civil (2024), de Alex Garland

Guerra Civil (2024)

Por: Helena Zoneti Rodrigues
Redação RUA

Os Estados Unidos estão em colapso. É neste ambiente de cisão e conflito numa polarização não muito esclarecida ao espectador, admitindo semelhanças à ambientação de um apocalipse Zumbi à la Zumbilândia (2009), que o longa do estúdio da predileta A24 retrata o trajeto de um grupo singular de fotojornalistas de guerra a caminho de Washington, numa tentativa de antecipar a prevista execução do presidente da nação estadunidense, no intuito de entrevistá-lo. É no caminho de Nova York a Washington que o filme se desenrola. 

Com um carro de imprensa, acompanhamos o trabalho dos personagens em registrar essa guerra um tanto surreal, onde nos deparamos (em cada ponto do trajeto registrado em km na tela), com estereótipos superficiais delirantes e clichês dos grupos envolvidos no conflito, desde negacionistas a assassinos pervertidos. Clichê que se aplica também a este grupo de fotojornalistas: Sammy, um experiente repórter já idoso que sabe que este percurso pode se tornar seu autocídio, interpretado pelo Stephen Henderson; para equilibrar, a jovem inexperiente e sonhadora ao fotojornalismo (Cailee Spaeny), que adentra nesta empreitada sem saber muito bem dos perigos e adversidades deste trabalho, frequentemente traumático. 

E é esta a questão: a representação do traumático, muitas vezes desprezado pelo roteiro superficial, com piadas e trilha sonora folk em péssimo timing, por exemplo, em meio ao bombardeamento. Aí o caráter surreal do longa, lunático, mas sem profundidade “política”, em que o trabalho do registro fotográfico das imagens de guerra se reduz ao registro de formas de violência, sem cuidado ético, social e político. O filme ao menos levanta essa questão: Será que chegamos ou chegaremos a este ponto? O “máximo” que o espectador vê, além dos registros, é a reação de sobressalto dos personagens que clicam as fotos com suas câmeras profissionais. As piadas e o bom humor inadequados, característico do personagem interpretado pelo nosso queridíssimo conterrâneo Wagner Moura (no filme, Joel), cuja presença nos deixa orgulhoso, representa quase que o “Coringa” do grupo: o depressivo com maior quantidade de ato falhos e chistes de bom humor e pilhérias, cuja morte do colega o leva ao extremo sofrer ao longo do percurso à Washington. Está mais do que claro que o filme tem potencial, atentando a direção, elenco e estúdio, por exemplo. 

Continuando a tratar do elenco e igualmente do potencial lamentavelmente não atingido no longa, temos por último e não menos importante a maravilhosa atriz Kirsten Dunst, fotojornalista versada, célebre que interpreta Lee Smith, jornalista que enfrenta uma crise existencial no meio midiático, ao saber que seu trabalho perdeu a intenção social e política de atentar e objetivar pela não-violência, ao fazer com que os retratos da guerra encontrem-se além de uma mera “reiteração habitual”. É esta reiteração que o filme se torna, ao perder até mesmo a oportunidade de esquadrinhar melhor a personagem mais complexa do longa, que falece ao final do longa enquanto é, sem espanto, fotografada. A contemplação do trabalho árduo, traumático e visceralmente real da fotografia de guerra é oscilado neste longa um tanto esparso do realismo e responsabilidade que o fotojornalismo propõe. 

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