CRÍTICA | O Homem dos Sonhos (2023), Kristoffer Borgli

Por Athos Rubim

Redação RUA

Estrelando Nicolas Cage, O Homem dos Sonhos, do original, Dream Scenario, é o terceiro longa-metragem escrito e dirigido pelo norueguês Kristoffer Borgli, anteriormente conhecido por Sick of Myself de 2022. O filme é produzido e distribuído pela A24, que alcançou seu status no mercado justamente com filmes desse tipo; produções com uma forte assinatura autoral, de diretores jovens e originais, com premissas não convencionais e grandes nomes no elenco.

Dessa vez, a história gira em torno de Paul Mathews (Nicolas Cage), um homem comum, que de repente começa a aparecer misteriosamente nos sonhos de várias pessoas ao redor mundo, fazendo com que de uma noite para a outra ele se tornasse uma celebridade. Por coincidência ou não, depois de uma atitude questionável do protagonista, esses sonhos se tornam pesadelos. Num piscar de olhos, sua fama se torna má fama, com a opinião pública o levando ao cancelamento.

Assim como no filme anterior, Borgli, além do roteiro e da direção, é também responsável pela montagem, que é um dos fatores que chama atenção no filme. A priori, ela pode parecer extremamente convencional, mas quando se trata das sequências de sonhos, vemos o trabalho primoroso do autor. Com planos rápidos e com pouca conexão aparente, intercalados com flashes de tela preta, Kristoffer captura magistralmente a essência dos sonhos, traduzindo-os à tela. Assim, criando alguns dos momentos mais legais do filme.

Porém, se não fosse por esses pequenos momentos e a atuação de Nicolas Cage, o filme se esvaziaria completamente. A impressão é de que depois do “cancelamento” de Paul, o filme perde seu direcionamento, estendendo-se além do necessário apenas para encerrar de forma inconclusiva. Parece que a partir da virada de sonhos para pesadelos, o filme começa a trabalhar temáticas demais, quase que fazendo um malabarismo entre elas e abrindo mão da sua maior qualidade: a atmosfera de estranheza que vinha sendo criada. Todo o frenesi de sonhos cessa sem motivo aparente, e o filme se esquece de tudo aquilo que havia sido construído.

Como mencionado anteriormente, outro fator que se destaca no longa é justamente Nicolas Cage no papel do protagonista. Com mais de 40 anos de carreira e um Oscar, o ator dispensa apresentações e seus trabalhos chamam atenção por serem sempre muito interessantes, às vezes por serem incrivelmente bons, outras por serem incrivelmente ruins. Dessa vez, o ator está interpretando muito bem, mas o verdadeiro mérito vai para quem o escalou para esse papel, pois não existiria escolha melhor. Depois de todos esses anos e tantas altas e baixas, Cage construiu para si uma reputação com um certo tom de estranheza perfeito para essa ocasião. Por isso, sua atuação, mesmo que não seja fenomenal, funciona perfeitamente para a proposta do filme.

No fim das contas, apesar das qualidades citadas, o filme deixa no espectador um gosto de desperdiçado. Com seus deslizes sobressaindo suas conquistas. No entanto, a proposta autoral da direção é tão instigante que faz surgir a vontade de conhecer mais sobre a obra de Kristoffer Borgli.

Author Image

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

More Posts

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual