CRÍTICA | Morte Morte Morte (2022), de Halina Reijn

Captura do filme Morte Morte Morte

Por: Murilo Bronzeri

Morte Morte Morte é um filme que mistura terror com comédia. É dirigido por Halina Reijn, uma diretora holandesa estreante em filmes de língua inglesa, e produzido pela A24, empresa que se tornou conhecida por fazer filmes que fogem, de certa forma, das histórias convencionais. Também com este, não seria diferente.

Morte Morte Morte é sobre um grupo de amigos que decide dar uma festa numa mansão, em uma parte mais afastada da cidade, porém a festa acontece durante um furacão. Não demora tanto para entendermos que, desse grupo de amigos, a personagem principal, Bee (Maria Bakalova), destaca-se por ser de uma família mais pobre e não fazer parte dessa classe mais alta que os outros personagens estão. Logo também, vê-se que algumas amizades ali não são tão fortes assim: o grupo é cheio de picuinhas e, com as intrigas que vão acontecendo, fragiliza-se ainda mais as amizades entre eles.

No original, o título Bodies Bodies Bodies, remete ao nome de uma brincadeira que os personagens decidem fazer. A brincadeira consiste em um jogador ser o assassino, sem que os outros saibam, e ao apagar das luzes ele pode começar a matar suas vítimas. Toda vez que um corpo é encontrado por um jogador, as luzes se acendem e eles podem tentar acertar quem é o assassino. Como já é de se esperar por ser um filme de terror, as mortes acabam não sendo apenas uma encenação.

O filme segue então numa espécie de slasher, no qual não sabemos quem é o assassino. Há razões para desconfiarmos de muitos ali, e o filme carrega bem esse mistério ao longo dele. Até chegar no final, quando descobrimos que a primeira morte não passava de um vídeo sendo gravado numa espécie de desafio para o TikTok ou algo assim, e que as outras mortes foram apenas causadas por histeria coletiva do grupo.

Esse final, apesar de parecer meio besta, condiz muito com o resto do filme. Como disse antes, o filme tem um caráter de comédia. Essa qualidade do filme reside principalmente na sátira que o filme faz com seus personagens. São jovens caracterizados pela hipocrisia que se finge de militância, discussões típicas do Twitter, futilidades e uma certa falta de maturidade e noção da realidade. E, se pararmos para pensar, é um modelo de jovem bem comum hoje em dia.

Assim, a revelação de que não há um assassino mostra como esses jovens, de tão egocêntricos que são, acham que fazem parte de uma trama digna de um filme de terror clássico, sem perceber que, na verdade, tudo não passou de um acidente mal entendido. Acidente este que, por sua vez, também mostra como essa geração não mede consequências e limites quando o assunto é ganhar likes e visualizações nas redes sociais. E, como o furacão acaba com a energia elétrica e desliga o sinal de internet durante boa parte do filme, o filme também mostra o caos que se forma quando uma geração que só sabe viver com wi-fi fica sem internet.

Morte Morte Morte, portanto, é um filme que, entre diálogos engraçados e personagens que são caricaturas de jovens do Twitter, acaba gerando um bom suspense sobre assassinatos que reforçam o ponto central do filme sobre uma geração.

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