CRÍTICA | Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo (2023), Zack Snyder

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Por Guilherme Reis

Redação RUA

 O filme foi promovido a partir do discurso de que seria uma franquia de ficção científica superior a Star Wars. Não cabe aqui uma comparação extensa entre os dois e nem seria justo algo do tipo, pois seria comparar uma marca já completamente estruturada com um projeto de duas partes da Netflix. É claro que alguns elementos são similares, afinal, é muito difícil fazer um filme de guerra no espaço sem, ao menos, lembrar de Star Wars. Porém, o filme propõe uma outra lógica entre drama e ação que parece realmente autoral.

 Trata-se, basicamente, de uma versão recortada de um filme que não mantém seu conjunto de elementos formais em uma mesma unidade. Algo que poderia até funcionar se fosse 100% livre das amarras da plataforma, mas isso não acontece. Mesmo que seja clara essa dificuldade de se manter coeso desde os momentos mais banais (como diálogos com erros de continuidade) às situações mais definidoras para a narrativa (como as relações pouco desenvolvidas entre os personagens do grupo), quando o filme consegue, de maneira limitada, trabalhar suas premissas, constroi algo interessante.

 Zack Snyder costuma realizar em seus filmes um processo de criação visual meticuloso, por meio da utilização intensa da tecnologia. O resultado muito se assemelha à ação retratada nos filmes contemporâneos indianos do gênero, no sentido de que ambos buscam essa contemplação dos movimentos e o apelo gráfico muito evidente (pelo uso de slow motion, coreografias complexas e cores vibrantes em contraste). 

 Por mais que nos seus filmes anteriores ele tenha uma preferência maior pelo realismo nessas cenas do que os filmes de Bollywood, nesse ele parece demonstrar um apelo mais interessante para os dois lados. Ao mesmo tempo que existe a sobriedade na ação, ela é menos predominante do que em seus filmes anteriores, o que dá mais espaço para o impossível ou improvável.  Algumas cenas em que isso pareceu mais claro foram: a cena do Tarak montando a besta; a cena em que o líder dos rebeldes mata o piloto da nave e morre; os momentos em que Kora praticamente desvia dos tiros para alcançar seu objetivo.

 Nesse sentido, existe um trabalho muito interessante para o lado gráfico da violência e da ação, digno de um diretor que sempre demonstrou afinidade com esses elementos. A influência visual das HQs em 300 (2006) e Watchmen (2009) já remetem ao seu modo de capturar os gestos de forma potente e simbólica, como se limitasse os planos a quadrinhos com pouco movimento. 

 Esses momentos priorizam as virtudes e perícias dos seus respectivos personagens, mesmo que a lógica (ou a realidade) deixe de ser evidente. Aqui, é mais importante mostrar do que aqueles indivíduos são capazes, intensificando o aspecto heroico do grupo. Por causa disso, o filme demonstra uma preocupação muito maior com os resultados (narrativos e visuais) das ações do que propriamente as razões para elas acontecerem. De certa forma, isso também coloca sobre a ação a função de guiar a narrativa para frente, o que preenche o filme desses momentos.

 O que mais atrapalha, como já dito, é a pressa que prevalece no desenvolvimento. O grupo é formado de maneira corrida, dando pouco espaço para o público entender os personagens e, consequentemente, se preocupar. Mas, mais importante, dá pouco espaço para o filme manter suas propostas estéticas, trabalhadas com mais liberdade na primeira metade. Na tentativa de condensar os fatos em pouco tempo, o filme perde suas características – ou, então, a execução minuciosa delas – ao priorizar a história e outros meios de aumentar o número de acessos ao filme. Por exemplo: a cena de sexo que foi retirada para manter a classificação indicativa para menores de 18 anos (14) e a própria duração reduzida.

 Nos próximos meses, a Netflix vai lançar em seu catálogo o Corte do Diretor, que, segundo Snyder em entrevista ao site Omelete (Coletti, 2024), possui cerca de uma hora a mais de conteúdo. Esse lançamento já era planejado desde as gravações, possuindo conteúdos gravados exclusivamente para essa segunda versão. Parte disso me faz acreditar que o longa pode ter mais espaço para manter sua unidade ao longo de toda a duração, sem aquela pressa que prejudicou o desenvolvimento das técnicas do meio para o final. Entretanto, sabendo que a Netflix quis esse segundo corte desde o início, pode ser que, infelizmente, o filme ignore as decisões de estilo que o fizeram ser interessante de início para apenas o encher de cenas desconectadas, a fim de se utilizar do fato de serem inéditas.

REFERÊNCIAS (seguindo norma ABNT):

COLETTI, Caio. Zack Snyder revela data, duração e mais das versões do diretor de Rebel Moon. Omelete. 15 de abril de 2024. Disponível em: www.omelete.com.br/netflix/rebel-moon-entrevista-snyder-versoes-exclusiva. Acesso em: 9 jul. 2024.

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