CRÍTICA | Rivais (2024), Luca Guadagnino

Rivais: Divulgação

Por Caio Cardoso Holanda

Redação RUA

Tênis é um relacionamento.

Filmes de esporte são únicos no cinema hollywoodiano, boa parte deles costuma ser uma cinebiografia focada no drama pessoal de um atleta ou sobre um evento esportivo que marcou a história. Entretanto, de vez em quando surge uma história original que entende o poder do esporte, como a vida de alguém é retratada dentro daquela modalidade que serve de metáfora ( e espelho) para os sentimentos internos. Rivais estreia em 2024 como um drama erótico esportivo, do diretor Luca Guadagnino, com uma narrativa intrigante sobre um triângulo amoroso formado dentro e fora das quadras.

No filme, Art (Mike Faist) enfrenta seu antigo amigo de infância Patrick (Josh O’Connor) na final de um torneio de tênis, porém toda a bagagem emocional entre os dois está em jogo nessa partida, inclusive a relação de ambos com Tashi (Zendaya).

Guadagnino é um diretor extremamente criativo, suas obras nunca ficam em um lugar comum do gênero, ao trabalhar com esporte ele traz sua marca do erótico, visuais exuberantes e emoções complexas nos seus personagens. Ao retratar um triângulo amoroso, ele foge do ciúmes comum e adiciona a inveja como catalisador dos conflitos, a inveja da performance nas quadras e no romance, construindo uma te(n)são que intriga o espectador a desvendar os sentimentos dos personagens em tela em meio àquele jogo de manipulação a partir da dinâmica sexual e esportiva.

O tênis é um ambiente a parte da realidade, é um espaço de autoexpressão constante, já que cada raquetada na bola é um diálogo entre os personagens, assim a expressão a partir do corpo é a manifestação do desejo. Luca entende que o cinema é uma linguagem que não se prende a fala, aqui o movimento de um saque conta uma história, comunica uma vontade, um acontecimento e até mesmo um pedido de reconciliação. Os personagens não são moralmente agradáveis, aqui não há mocinhos ou vilões, há rivais. Rivais no amor, em quadra, na vida, rivais que eram amigos, amantes e confidentes. O ato de amar e odiar é separado por uma rede, uma rede que é proibida de atravessar até o último ponto.

As atuações são encantadoras, Mike Faist já havia mostrado seu talento em Amor, Sublime Amor (2021),  de Steven Spielberg, e Josh O’Connor foi um excelente Príncipe Charles no seriado The Crown, mas aqui ambos mostram seu potencial em personagens conflituosos que foram quebrados pelo tempo com uma rivalidade digna de dividir torcidas e marcar o cinema. É notável que Zendaya atingiu sua maturidade cinematográfica com um papel digno de seu status de nova grande estrela hollywoodiana, além de um trabalho exuberante como produtora, aqui ela compõe uma personagem complexa e enigmática. A direção e a cinematografia se aliam em criar uma partida de tênis épica, com uma história envolvendo o drama do resultado ponto a ponto, a câmera tem vida própria e Luca sempre surpreende como utilizá-la.

Entretanto, o trabalho com a música fica fora de tom muitas vezes, o excesso de sons atrapalha a mixagem e desorganiza os pensamentos em tela, a estética proposta entra em conflito com o entedimento e o sentimento da narrativa. Assim como a montagem, que mais acerta do que erra, exagera em inserções de cenas que comunicam a mesma coisa, tornando o filme um pouco repetitivo nos seus dramas.

Portanto, Rivais é o filme esportivo definitivo sobre tênis, com seu enredo dramático, sensual e cativante consegue ser inovador dentro do gênero, pois nunca se captou tão bem o espírito de estar jogando com o coração em quadra.

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