Crítica | Indiana Jones e a Relíquia do Destino, de James Mangold (2023)

Por Athos Rubim

O novo filme de James Mangold, Indiana Jones e o Relíquia do Destino, é o quinto episódio da franquia iniciada por George Lucas e Steven Spielberg em 1981. A mais recente tentativa da Disney de reciclar antigas propriedades. Tendência essa, que vem acontecendo a alguns anos, como é o caso das várias re-interpretações live-action de animações aclamadas do estúdio ou, dentro dos produtos da Lucasfilm, os novos filmes da franquia Star Wars.

Na quinta viagem do arqueólogo aventureiro interpretado por Harrison Ford não é diferente, a tentativa de recriar o espírito aventuresco de Caçadores da Arca Perdida é nítida. O filme se aproveita amplamente da nostalgia dos espectadores, com trilhas sonoras clássicas e personagens dos primeiros filmes. No entanto, fica claro a dificuldade do filme para com isso. A ideia de um homem de quase oitenta anos escalando montanhas, caindo de grandes alturas, correndo por tiroteios e lutando com chutes e socos é difícil de engolir, apesar de ser divertido assistir as façanhas do personagem.

Entretanto, o filme também faz referências à velhice de Indy (Harrison Ford). Logo no início, vemos a festa de aposentadoria do personagem, que está deixando sua cadeira de professor universitário. Além disso, o vemos reclamar de dores, ter alguns momentos de rabugice e também reencontrar velhos amigos e cobrar alguns favores “pelos velhos tempos”.

Porém, isto se encerra por aí. O que poderia ter sido um fator norteador do filme (a velhice de Indiana Jones) acaba se tornando, na maior parte do tempo, apenas uma nota de rodapé, a qual os realizadores recorrem para algumas piadas. Sendo assim, o filme acaba preso nesse meio termo, entre construir o personagem título como um ser imbatível que supera todas as adversidades que vêm com a idade ou um velho rabugento tentando reviver (ou abandonar) seus dias de glória.

A trama construída e os novos personagens introduzidos pelo roteiro de Jez Butterworth, John-Henry Butterworth, David Koepp e James Mangold, que também atua como diretor do filme, consegue, no entanto, sobreviver. Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge) e Teddy (Ethann Isidore) são capazes de trazer um dinamismo interessante à história, contrapondo muitos dos princípios e valores do Dr. Jones por ganharem a vida contrabandeando artefatos históricos. A composição inusitada do trio é um dos pontos fortes do filme e traz muito da diversão, mérito que também deve ser creditado ao profissionalismo dos atores, com destaque a Phoebe Waller-Bridge, conhecida por seu trabalho na série Fleabag. O vilão da vez, Jürgen Voller (Mads Mikkelsen) é um físico nazista que, após a guerra, foi incorporado ao corpo de cientistas americanos, mas não esqueceu onde sua lealdade estava. O pareamento de Indy com o Dr. Voller é interessante, pois os dois são homens que já viveram seu auge, mantendo-se presos a esse passado, e agora estão buscando um artefato que pode os levar para o tempo que quiserem, a anticítera de Arquimedes.

O tempo, inclusive, é um tema recorrente no filme, que abre com uma sequência de flashbacks (rejuvenescendo Harrison Ford e, infelizmente, fazendo com que ele pareça parte de um videogame moderno) que serve de apresentação tanto para o vilão quanto para a anticítera. Logo em seguida, somos levados a 1969, onde vemos Indy, fora de seu tempo, em sua festa de aposentadoria, na qual ganha um relógio. O descontentamento do arqueólogo com os rumos do mundo é nítido, guerras (que inclusive o tiraram seu filho), altos gastos governamentais com coisas fúteis (viagem à Lua) e o desinteresse das pessoas pela história (a turma em que ele leciona não se dedica à sua aula). Dessa forma, quando vê a possibilidade de retornar à um tempo que ele considera melhor, através da anticítera Indy, mesmo que não admita, fica um pouco mais contente. O mesmo acontece com seu antagonista, a diferença é que Voller não esconde seu desejo de manter-se no passado. O decorrer da trama acaba levando os personagens à Antiguidade, e o aventureiro opta por não retornar ao tempo presente, mas é impedido por Helena. Por fim, através disso, Indy percebe que não é possível impedir o tempo, e o personagem aprende a valorizar seu presente e as pessoas ao seu redor, sejam elas velhos companheiros ou novos amigos. O grande feito do filme de James Mangold é provar que nem mesmo o grande Indiana Jones é capaz de vencer o tempo.

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