Por: Felipe Tavares
Redação RUA
O novo filme do palhaço assassino chega dando um salto de qualidade em uma franquia que, até então, estava marcada por uma abordagem mais próxima ao terror trash que, mesmo não sendo uma característica ruim para o gênero, acarretava em filmes que careciam de elementos além da violência. Um dos principais motivos para tamanha diferença, tecnicamente falando, em relação aos outros lançamentos da franquia pode ser observado no orçamento praticamente 8 vezes maior comparado aos 250.000,00 dólares destinados ao longa-metragem de 2022.
“Só” dinheiro não justifica os pontos positivos da obra, mas sua utilização de maneira consciente permitiu que os elementos que compõem as cenas fossem aproveitados de maneira a potencializar o que está sendo mostrado. A iluminação simulando ambientes naturais causa mais impacto em relação ao exagero e saturação dos outros projetos da franquia, visto que mantém a crueza dos momentos mais brutais ao passo que utiliza as sombras para valorizar as expressões macabras dos antagonistas, assim como o horror nos olhares de suas vítimas. E aprofundando a questão das sequências violentas, Terrifier 3 não se segura em relação à visceralidade e, principalmente, o sadismo. A perversão de Art e sua companheira Victoria é explorada de diversas maneiras, sendo estas cada vez mais cruéis, ao ponto de estabelecer até mesmo uma relação fetichista entre as mortes e a dupla de assassinos, algo que soma às gracinhas que o palhaço faz enquanto se diverte com as vítimas. Ademais, a criatividade para os atos de crueldade passa pelo uso das várias ferramentas ao alcance do palhaço, desde pregos e objetos pontudos espalhados pelo ambiente, até um extintor de incêndio especialmente modificado e uma motosserra.
Como contraponto à figura maligna, Sienna e Jonathan retornam para enfrentá-la novamente. Agora com desenvolvimento consideravelmente melhor, a final girl apresenta uma composição interessante ao lidar com os eventos traumáticos da obra anterior, ponto apresentado através de alucinações e flashbacks, ainda que estes últimos prejudiquem levemente o desenrolar da trama pelo teor repetitivo. Por outro lado, o irmão possui uma aparição reduzida e “conveniente”, desencadeando eventos quando necessário e sendo surpreendentemente escanteado em outros momentos. Ainda que haja tal desequilíbrio entre alguns segmentos da história, boa parte dos personagens introduzidos demonstra carisma e permite o desenvolvimento de empatia até certo ponto, ou pelo menos o suficiente para tornar seu destino mais impactante.
Outro ponto positivo é a forma com que o filme abraça de vez o ambiente sobrenatural que cerca a história daqueles personagens, trazendo algumas explicações em torno do ser maligno e sua adversária benevolente, fator que aprofunda o universo da franquia e, no recorte da obra, culmina em um clímax sangrento e perturbador.
Sendo assim, Terrifier 3 apresenta um grande avanço em comparação aos longas anteriores, demonstrando que brutalidade e sadismo podem caminhar ao lado de histórias e personagens interessantes, além de deixar claro que a franquia ainda tem muito sangue para jorrar.
REFERÊNCIAS:
Terrifier 3. Damien Leone. Estados Unidos, 2024, 125 min., son., cor.