Crítica | Passagens (2023), de Ira Sachs

Por Athos Rubim

O mais novo longa de Ira Sachs, Passagens, distribuído pela Mubi, vem recebendo muitos elogios da crítica. A forma como a película escolhe retratar a vivência queer na modernidade líquida é muito instigante. A volatilidade das relações interpessoais encenadas se transmite inclusive na montagem do filme, que é rápida e não dá ênfase às inúmeras mudanças na vivência do protagonista em um curto espaço de tempo.

A narrativa se inicia com Thomas, o protagonista, em uma festa, comemorando o fim das gravações de seu novo filme. Já nesta sequência somos introduzidos também a Martin, seu marido, e vemos que o casamento deles já não é bom, os dois estão claramente infelizes. Também na mesma sequência conhecemos também Agathe, a mulher com que Thomas trairá Martin, e posteriormente se envolverá romanticamente.

Logo nesses primeiros minutos entendemos a questão central do filme, o triângulo amoroso composto por esses três personagens. E a desimportância com que o filme trata a traição desse início já explicita a forma com que o filme tratará as relações interpessoais. Thomas, é uma perfeita representação da modernidade líquida de Bauman, e a facilidade com que ele transita entre relações, sem nem se importar, denuncia isso. Logo no início, Thomas e Martin desfazem seu casamento, e Thomas passa a morar com Agathe. Pouco tempo depois, Agathe engravida, e Thomas começa a querer reatar com Martin, que sempre quis ter filhos. Os três decidem formar um trisal, mas a tentativa é falha. Agathe então, decide abortar o feto, também sem grandes preocupações, mais um fator da modernidade líquida. 

O final do filme, é a epítome dessa liquidez. O egoísmo de Thomas, finalmente o atingiu verdadeiramente. Com seu filme selecionado para o festival de Veneza, ele se vê sozinho, sem ninguém para acompanhá-lo ao evento. Após tentar de todas as formas que Agathe ou Martin viessem com ele, ficamos com Thomas perdido, pedalando sem caminho em direção a lugar nenhum.

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