Crítica | Afire (2023), de Christian Petzold

Captura de tela do filme Afire (2023)

Por: Gabriel Almeida

Afire (ou Roter Himmel, no original) é o mais novo filme de Christian Petzold, diretor uma vez já premiado, e que agora com este também é premiado pela edição de 2023 do Festival de Berlim. A obra é realmente digna de tal premiação – o filme é muito bom – e o drama possui uma forma particular de “imersão”.

Com quatro personagens afastados da sociedade em uma casa de campo, a escolha do filme é nos apresentar a história a partir daquele que é mais difícil de se conectar: Leon. O personagem é distante em todos os sentidos, seja em suas ações na trama, onde constantemente evita o mundo exterior e os demais a sua volta a fim de terminar seu livro, seja no figurino e nos enquadramentos, até mesmo na forma como se desenrola a narrativa, com seu ritmo, seus cortes descontínuos e uma constante ausência de trilha sonora. Particularmente, desprezei o personagem nos primeiros minutos já que os demais da obra eram bem mais alegres e livres, principalmente Felix. Esse, enquanto constrói seu portfólio fotográfico, busca ir além de apenas tirar algumas fotografias e realmente explora o mundo ao redor, fator que lhe confere algum êxito no seu projeto.

Contudo, esse não é um filme de amigos que saem para tirar férias, e a trama se desenrola de forma muito mais profunda e complexa, abordando uma multiplicidade de temas que ficaria até difícil tentar descrever cada um nessa resenha. Temas como homossexualidade, liberdade, solidão, amor, ciúmes, fracassos, luto. Leon se dedica única e exclusivamente ao seu livro, e por não olhar ao redor acaba por escrever algo no máximo mediano. Ele se frustra, tornando-se ainda mais hostil e isolado.

E então chega o incêndio florestal, premeditado pela obra com uma certa tensão e suspense, a partir da passagem constante de helicópteros, ruídos, sirenes, avisos e até mesmo de forma visual, com o clarão das chamas observado no horizonte. O incêndio cobre muitas de suas metáforas, trás o calor e a tensão, o desespero, a violência, e acima de tudo, retorna Leon para uma realidade da qual ele tanto procurava se afastar. Despertam nele, o fogo e também os outros personagens, um olhar atento ao redor, uma maior empatia, bem como um olhar mais diligente consigo mesmo, de realmente encarar para sua volta se quiser de fato alcançar algum sucesso. E a narração em off de seu novo livro, que também narra a história que se passou (um grande flerte com a intermidialidade), finaliza o filme da maneira correta.

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