Os 20 Melhores Filmes de 2021

Marcado como o segundo ano da pandemia de Covid-19, 2021 permitiu a gradual reabertura das salas de cinema, com incontáveis filmes cujo lançamento era originalmente previsto para 2020 finalmente estreando, e alguns extremos podendo ser observados a partir da retomada do cinema presencial, dos quais vale citar a predominância de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa nas salas do mundo inteiro (possibilitando que este se tornasse o primeiro filme a ultrapassar a marca de 1 bilhão de dólares desde o início da pandemia) em evidente contraste com outros longas que optaram pela exibição exclusiva em cinemas e não obtiveram bons retornos (podendo-se citar os inesperados fracassos de bilheteria de West Side Story e O Último Duelo), algo sintomático das mudanças no consumo de conteúdo por parte do público e dos direcionamentos da indústria cinematográfica na era do streaming.

Para a elaboração de nosso ranking dos 20 melhores filmes de 2021, reunimos treze membros da equipe da RUA (que terão seus nomes mencionados no decorrer desta publicação) para elencar seus longas-metragens favoritos, e a lista final resulta da soma dos pontos obtidos nos rankings individuais (dos quais o primeiro colocado recebeu 10 pontos, o segundo, 9 pontos, e assim sucessivamente). Além disso, consideramos como “filme de 2021” as obras lançadas em seu país de origem ao longo do ano passado, logo, produções como Meu Pai (2020), Undine (2020) e Quo Vadis, Aida? (2020) não foram elegíveis, enquanto filmes que chegaram ao Brasil apenas em 2022 foram considerados. Finalmente, a duração mínima estipulada foi de 60 minutos de duração, e as listas pessoais dos treze membros podem ser visualizadas na segunda página desta publicação. A seguir, os vinte melhores filmes de 2021.

20. MASS (11 pontos)

Filmes ambientados em cenários limitados geralmente se baseiam principalmente em atuações e um trabalho de câmera deslumbrante — seja Festim Diabólico (1948), 12 Homens e Uma Sentença (1957) ou Um Dia de Cão (1975), a força motriz de tal estratégia cinematográfica é fazer muito com pouco. Nesse sentido, Mass, de Fran Kranz, herda de seus predecessores ideais de ambientação, mas amplia seu poderio de impacto através de uma câmera inicialmente morna, cúmplice observadora do diálogo entre duas famílias destroçadas por um massacre estudantil em uma escola dos Estados Unidos. Todavia, através da consequentemente caótica conversa, a direção opta por uma mudança perspicaz em sua apresentação por meio de sua cautelosa condução em ritmo e montagem milimetricamente calculados, mas que acabam soando autênticos e genuínos, com a preponderância de um olhar humano perante a tragédia envolta nos personagens de Ann Dowd, Reed Birney, Martha Plimpton e Jason Isaacs, resultando em um dos longas mais catárticos de 2021.

-Alisson Nunes


19. TITANE (12 pontos)

Titane, segundo filme dirigido pela francesa Julia Ducournau e vencedor da Palma de Ouro, une de forma bizarra a estética mecânica e fria de um automóvel com o corpo da protagonista, mostrado de forma cada vez mais dessexualizada ao longo do filme, de modo a trazer, assim, atenção para o caráter físico e orgânico da própria personagem. Desta forma, resultando em um longa visualmente muito impactante, os absurdos (muito criticados pelo público) são construídos de maneira consciente justamente para chamar atenção aos temas tabu de que tratam: de certo modo, o filme argumenta usando seus extremos para “pescar críticas” e assim provar seu ponto. A diretora não está interessada em criar metáforas para representar aquilo que quer dizer, mas sim mostrar exatamente o entendido, porém, elevado ao exagero. A questão do desejo sexual feminino, por exemplo, não é abordada através de uma alegoria, aumentando a polêmica ao redor do assunto, mas sim por meio da amplificação – como na cena de sexo entre Alexia e um Cadillac. E da mesma maneira a obra aborda todos os seus temas, utilizando o bizarro e o terror corporal para tratar de questões de gênero, amor familiar e a fisicalidade inerente ao corpo e à vivencia humana.

-Antônio Mendes


18. RUA DO MEDO: 1978 (13 pontos)

O segundo filme de uma trilogia de terror original da Netflix, Rua do Medo: 1978, dá continuidade ao mundo ficcional de maldição sobrenatural e assassinatos, entretanto, agora as ações acontecem em um acampamento de verão, cenário perpetuado por diversas obras do gênero slasher. O filme homenageia o gênero e o explora de forma prolífica, mesclando com a mitologia própria da obra, que se potencializa pelas ações das personagens principais e das mortes que ocorrem no decorrer do filme.

-Pedro Rodero


17. JUDAS E O MESSIAS NEGRO (16 pontos)

Segundo longa-metragem do diretor Shaka King, Judas e o Messias Negro chegou em fevereiro de 2021 como uma grande surpresa da última temporada de premiações, sendo indicado a seis categorias do Oscar (das quais venceu Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Canção Original): uma consequência da expertise com que o filme articula sua narrativa, refletindo a alegoria bíblica de seu título em uma história sobre relações de poder, traições, confiança e subordinação. Em uma encenação muito transparente, o longa adapta uma história real de maneira simples e, ainda assim, capaz de suscitar discussões e apresentar figuras históricas de modo acessível, algo potencializado nas brilhantes interpretações de LaKeith Stanfield e Daniel Kaluuya, que dividem o protagonismo da obra com harmonia e explicitam as motivações de seus personagens de forma direta.

-Gabriel Ritter


16. THE MAN WITH THE ANSWERS (17 pontos)

O segundo longa-metragem do diretor Stelios Kammitsis, The man with the answers, é uma obra apoiada totalmente sobre a simplicidade. Com 80 minutos de duração, o filme narra a história de Victoras, um jovem que, depois de uma ligação de sua mãe, decide viajar para a Alemanha para visitá-la. No caminho, ele conhece Mathias, que o levará para caminhos que ele nunca pegou antes. Seu ponto mais forte, como dito, é a simplicidade, em conjunto com a honestidade, ambos convergindo para construção de uma trama dolorosamente sincera, mas igualmente apaixonante. Além da sinceridade — tanto na narrativa, quanto nos personagens e atores —, o longa ainda apresenta planos impecáveis, pintando vistosas paisagens italianas. No final, seu único problema é ter acabado antes do tempo. 

-Leonardo Frederico


15. THE CARD COUNTER (18 pontos)

É curioso pensar que um dos filmes mais humanistas e românticos do ano venha de um diretor conhecido por sua frieza bressoniana. The Card Counter, novo longa de Paul Schrader, começa semelhante a outros trabalhos do cineasta. Acompanhamos um homem traumatizado e que se distancia das pessoas em sua volta, buscando lidar com seus demônios através do pôquer. A câmera de Schrader constantemente se afasta dos personagens, os cenários são esterilizados, as atuações não demonstram emoções – parece um filme desalmado. De hora para outra, contudo, a paixão invade a mise-en-scène. O homem que estava fadado a viver no pôquer (jogo em que o vencedor é justamente o que consegue conter melhor suas emoções), de repente se vê inebriado pelas relações humanas que faz ao longo do caminho. É como se o diretor estivesse construindo uma base extremamente desumanizada e fria em seu filme, afastasse o máximo que pudesse seus personagens das paixões humanas, para que, com um simples toque de mãos, mudasse completamente a chave de sua encenação. Então, luzes brilham, cores explodem, a música sobe. Nada mais pode parar a mudança causada pelo amor. Tanto que quando o filme encerra, nem a tela preta vem. Resta apenas contemplarmos o toque de mãos de Oscar Isaac e Tiffany Haddish.

-Luís Gongra


14. ANNETTE (18 pontos)

Annette é um filme do diretor francês Leos Carax, e conta a história do romance entre Ann (Marion Cotillard), uma cantora de ópera renomada, e Henry McHenry (Adam Driver), um polêmico comediante de stand-up. A obra é um espetáculo musical tempestuoso e segue ambos até o tempo posterior à trágica morte de Ann, e a descoberta de um talento especial por parte da filha ainda bebê do casal, Annette. Tudo no longa é de uma poesia dissimulada, na qual a superficialidade ganha profundidade e a tragédia e a farsa se misturam. As canções do filme são uma mescla do sinistro, do melancólico e do irônico, ganhando uma evidência sublime graças à performance dos dois protagonistas. Annette é, sobretudo, uma parodização das violências do afeto e dos fantasmas do amor.

-Maria Isabel


13. FUGA (18 pontos)

Dirigido por Jonas Poher Rasmussen, Fuga conta a trajetória verídica de Amin Nawabi (pseudônimo) desde sua fuga de Kabul, no Afeganistão, na década de 80, até chegar à Dinamarca, onde vive hoje com seu marido. Através de belíssimas ilustrações e trechos de imagens de arquivo, o relato do personagem principal nos guia através da mistura entre animação e documentário, que perpassa por momentos sensíveis vividos a partir da invasão dos guerrilheiros Mujahedins no Afeganistão, sua terra natal. Acompanhar a própria história do protagonista, que jamais havia sido compartilhada, é um convite para que o espectador se envolva cada vez mais, criando empatia com o personagem recém apresentado, e tornando dos 90 minutos de filme uma explosão de sensações e sentimentos dos mais variados.

-Luiza Tani


12. TICK, TICK… BOOM! (23 pontos)

Ambientado na Nova York de 1990, o longa combina múltiplos elementos (voice-over, imagens de arquivo, ficção e realidade, cinema e teatro) e explora a mente criativa do compositor Jonathan Larson por meio da montagem, a qual relaciona esses aspectos brilhantemente. Assim como o protagonista escreve a partir de situações cotidianas — associando pequenos detalhes às letras de suas canções —, conectamos os planos, que alternam entre diferentes situações e locais, de modo a compreender a obra como um todo. Ademais, a identificação com Larson é muito forte, pois esta não é a história do sucesso dele, mas de todas as dificuldades pelas quais ele passou e que o levaram a um reconhecimento póstumo. Não é sobre o resultado, é sobre continuar tentando.

-Laura Penalva


11. BO BURNHAM: INSIDE (24 pontos)

Filmado ao longo de um ano, o especial musical de Burnham propõe uma maneira inovadora de lidar com um problema inusitado: a pandemia de Covid-19. Em um único espaço, passamos por seu processo de criação, uma montanha-russa de emoções, variadas performances e reflexões. Assistimos a uma gama de sensações familiares a todos devido ao isolamento físico, mas de uma maneira diferente, sincera, artística. Temos a companhia de Burnham por quase noventa minutos, e ele só tem a si mesmo. Invertendo o dito popular, Inside seria trágico, se não fosse cômico (ou talvez seja os dois).

-Laura Penalva


10. MALIGNO (24 pontos)

Maligno, de James Wan, é normalmente aclamado (e criticado) por seus excessos. A mistura de gêneros do horror, a violência frontal, as pirotecnias visuais do diretor – tudo parece funcionar numa nota acima do natural, para gerar um efeito exagerado forte. Penso, porém, que o maior acerto de Wan está na simplificação das coisas. Maligno é um filme anti-complexificação. De certa forma, é como se o cineasta quisesse unificar as excessivas instâncias que ele apresenta, com o intuito de tornar os exageros mais impactantes. A casa e o covil se revelam como o mesmo lugar, as visões da protagonista metamorfoseiam os cenários e, sobretudo, ela compartilha o corpo com o assassino. Tudo se unifica na mise-en-scène, ao mesmo tempo em que os gêneros do terror se misturam.

-Luís Gongra


9. TEMPO (30 pontos)

Todo novo filme de M. Night Shyamalan carrega uma insegurança: ele será como aqueles bons filmes que o diretor indiano lançou no final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, ou será como aquelas catástrofes fílmicas mais recentes, como O Último Mestre do Ar (2010) e Depois da Terra (2013). Felizmente, Tempo, seu último lançamento, se encontra com os melhores filmes do diretor. Embora o longa ainda apresente os mesmos problemas que (quase) todos os filmes dele — sua dificuldade de desenvolver os detalhes da narrativa — Tempo é visualmente visceral, conseguindo, muito bem, arquitetar momentos de suspense e consagrar o longa com cenas grotescas de acidentes sobrenaturais e movimentos de câmeras e lentes calibrados. Independentemente de seus defeitos pontuais, que agora, na realidade, são esperados, Tempo é um dos melhores filmes do diretor.

-Leonardo Frederico


8. BERGMAN ISLAND (30 pontos)

Bergman Island toma espaço em Fårö, uma ilha báltica revelada a Ingmar Bergman no decurso das filmagens de Através de um Espelho (1961), onde encontrou na paisagem idílica a materialização física de uma visão particular. No longa, Mia Hansen-Løve aproveita da nobre responsabilidade de homenagear tamanho legado e, a partir da narrativa, evoca o poder do cinema enquanto entidade atuante no (in)consciente coletivo de uma época ou de uma geração inteira. Mais que isso, a diretora francesa vai para além de Bergman, refletindo acerca do amor, da desilusão e, principalmente, da recuperação artística, e é esse conjunto que faz de Bergman Island, para além de uma ode a um dos maiores diretores da história, um interlúdio entre ficção e realidade que nos causa o desejo de descobrir, ou redescobrir, as imagens que imortalizaram a ilha de Fårö.

-Vinícius Chimirri


7. ATAQUE DOS CÃES (31 pontos)

Dirigido pela premiada diretora Jane Campion, Ataque dos Cães é um filme que se utiliza da contextualização de sua diegese para, em seguida, colocar os seus personagens dentro do foco de uma lupa. Um plano no cinema sempre presumirá um “fora do plano”, e o que Jane Campion faz é construir aquela realidade social e geográfica comum a outros filmes como Assim Caminha a Humanidade (1956) ao mesmo tempo em que se distancia radicalmente dos ideais estéticos daquela Hollywood. Ambos os filmes constroem um final em que a lupa é retirada, consagrando suas metáforas para uma realidade abrangente; entretanto, o filme de Stevens demonstra em seu final uma possibilidade de mudança positiva ao futuro, já Ataque dos Cães, em sua narrativa em retrospecto, é consciente da perpetuação dos problemas apresentados, razoavelmente desesperançoso.

-Samuel Malaquias


6. MATRIX RESURRECTIONS (34 pontos)

A decisão de ressuscitar uma das mais importantes sagas de ficção científica da história não poderia ter resultado em outra possibilidade: Matrix Resurrections, de Lana Wachowski, compõe uma caótica orquestra de 2h35 coordenada através da retomada do benemérito e exaurido Neo à Matrix, agora mais astuciosa e preparada por duas décadas para qualquer indivíduo que ouse tentar lutar contra o sistema. Além de uma simples requel, o longa se aprofunda em comentários acerca da exaustiva onda de revivals enlatados em Hollywood e se concretiza como uma obra enigmática que varia da recuperação do luto de Lana pela perda de seus pais a uma essencial história de amor que perpassa realidades entre Neo e Trinity à união interseccional de minorias contra a opressão sistemática, sendo eficaz em todos os quesitos que se propõe a realizar.

-Alisson Nunes


5. SPENCER (35 pontos)

A delicadeza que a irretocável biopic da Princesa de Gales transmite ao longo de sua duração é constatada logo em seus primeiros minutos: uma isolada e extenuada Kristen Stewart se comporta oblíqua entre o luxuoso recinto da família real inglesa, transportando uma figura pública e adorada para uma perspectiva intimista e sem floreios, imaginando um “e se” de Diana Spencer em seus últimos dias de casamento. O longa funciona como uma versão posterior do conto de fadas, quando os créditos já rolaram e a história “pós-felizes para sempre” é apresentada e subvertida, como um baile de máscaras protagonizado por uma princesa astuta, conhecedora das regras do jogo e decidida a trilhar a sua própria história. Outrossim, a alteração do tom emocional no decorrer da obra efetiva um domínio narrativo de Pablo Larraín em conduzir uma melancólica Stewart em uma das maiores performances femininas do cinema em 2021.

-Alisson Nunes


4. PEQUENA MAMÃE (37 pontos)

Em Petite Maman, Céline Sciamma resgata o que mais há de valioso em sua filmografia: o ato de acompanhar garotas em seu processo de amadurecimento. Nota-se que Sciamma é primorosa em conceber tais tramas principalmente por reconhecer tal processo como algo dolorido para suas figuras centrais. Em sua obra mais recente, a atribuição de elementos de contos de fadas, como Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, funciona como elementos subversivos para conduzir as personagens femininas por sua jornada de autoconhecimento. Aqui, o amadurecimento decorre da interação da personagem principal com a figura de sua mãe na infância, sendo a escala conflitiva resolvida à medida que filha e mãe se entendem naquele universo que flerta com o surrealismo. A incomunicabilidade geracional só se resolve a partir da fuga da realidade, do palpável.

-Ana Vitória


3. NOITE PASSADA EM SOHO (39 pontos)

Dirigido por Edgar Wright, Noite Passada em Soho é um filme que encontra seu caminho em um amontoado de referências estéticas na desconstrução da idealização de um período. Para isso, ao longo do filme, o diretor vai mudando o ponto de ancoragem de uma arte sessentista alegre, hippie e colorida até chegar a Roman Polanski em Repulsa ao Sexo (1965). Se considerarmos o filme do cineasta polonês como uma retomada de um caligarismo nos anos 1960, o filme de Edgar Wright, então, está fazendo uma trajetória que leva a protagonista de um início muito influenciado pelas cores e estéticas de um musical a um final em que a própria mise-en-scène é o reflexo evidente de uma psique perturbada e traumatizada da protagonista.

-Samuel Malaquias


2. DRIVE MY CAR (41 pontos)

O insigne Drive My Car, dirigido por Ryusuke Hamaguchi, se consolida em sua maneira de tratar a incomunicabilidade, sobretudo, por um fio tênue entre a sutileza melancólica e a soturna confissão. Adaptação de um conto de Haruki Murakami de mesmo título, o longa conta a história de Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um notável ator e diretor de teatro. Nosso protagonista se sente como o coadjuvante de sua própria história por efeito de uma falsa impressão em que ele se assegura: a de que ele é também a prioridade de quem ocupa o papel principal em sua vida, sua esposa Oto Kafuku (Reika Kirishima). Essa certeza é colocada em dúvida quando ele passa a refletir sobre sua real importância na vida de sua amada, percebendo a fragilidade da forma com que ela escolheu se comunicar com ele. Ao sentir a sua ausência, Kafuku rompe a frígida camada em que ele abrigava sua razão de ser, passando a conviver com a culpa. Drive My Car é a aflitiva jornada de uma pessoa que não sabe o que é ser e o que é ter alguém… até ter.

-Vitória Rocha


1. A PIOR PESSOA DO MUNDO (60 pontos)

Dividido em doze capítulos curtos, um prólogo e um epílogo, A Pior Pessoa do Mundo é uma fábula de amadurecimento de uma mulher prestes a completar 30 anos de idade, Julie (Renate Reinsve), celebrando os altos e baixos que vêm com a constante indecisão da protagonista acerca de sua vida, e retratando com maestria o período da vida em que você sente que deveria ter total controle de sua rotina mas, ainda assim, se vê seguindo direções inesperadas. Introduzida de maneira semelhante à estrutura habitual de uma comédia romântica, a obra começa de forma leve, descontraída e genuinamente engraçada, até se permitir a uma virada inesperada; prontamente, isto se revela como o âmago do longa, que passa a ser tão imprevisível quanto a personagem referenciada em seu título, e a decisão do diretor Joachim Trier em se manter renovando o enredo de seu filme em rumos imprevisíveis propicia sensações que vão da indignação à alegria. Todos nós podemos ser considerados “a pior pessoa do mundo” para alguém, e no caso de Julie, vemos que a máxima é aplicada a si própria, em uma autocrítica que conduz o filme mais humano e verdadeiro do ano.

-Gabriel Ritter


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