CRÍTICA | Segredos de um Escândalo (2023), Todd Haynes

Francois Duhamel / Netflix

Por Gabriel Almeida

Segredos de um Escândalo, de Todd Haynes, acabou por se mostrar uma trama complexa, recheada de muitos pormenores que muitas vezes até fogem da compreensão do espectador. É um filme que, para se ter noção de tamanha complexidade, não basta apenas assistir inúmeras vezes, mas se preparar para o desconforto – desconforto esse gerado por um enredo incômodo, tenso, de tema delicado e extremamente problemático. 

Mais que isso, no entanto, o filme ainda mescla sua problemática com um requinte de metalinguagem, do fazer cinematográfico, de forma surpreendente. Mais do que uma atriz se preparando para interpretar talvez o seu maior papel, Elizabeth (Natalie Portman) é uma transgressão ao casal conturbado que conhecemos. O passado, enterrado às pressas com a desculpa de aceitação, é revisitado, e novos problemas (que na verdade sempre estiveram ali) são revisitados uma vez que a ferida é cutucada. 

E os temas desconfortáveis explorados durante o filme, desde a questão da pedofilia praticada por Gracie (Julianne Moore) até o seu consequente abandono familiar, e a dificuldade de lidar com todo esse peso mas também a prepotência e a falsa sensação de uma consciência limpa, colaboram para a construção de um personagem complexo que, mais do que aversão, causa uma inquietação e aflição constantes. 

Isso sem contar as problemáticas dos demais personagens, sempre relacionados a questão central da história – um problema chamado Gracie -, e o que lhes resta é viver algum resquício de vida numa normalidade falsa e teatral, onde nem mesmo a própria família é capaz de deixar de lado toda a complexidade de sua própria situação. E quando não é o desinteresse ou o distanciamento, o ódio de uma vida arruinada é quem toma 

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