
Por Gabriel Almeida
Segredos de um Escândalo, de Todd Haynes, acabou por se mostrar uma trama complexa, recheada de muitos pormenores que muitas vezes até fogem da compreensão do espectador. É um filme que, para se ter noção de tamanha complexidade, não basta apenas assistir inúmeras vezes, mas se preparar para o desconforto – desconforto esse gerado por um enredo incômodo, tenso, de tema delicado e extremamente problemático.
Mais que isso, no entanto, o filme ainda mescla sua problemática com um requinte de metalinguagem, do fazer cinematográfico, de forma surpreendente. Mais do que uma atriz se preparando para interpretar talvez o seu maior papel, Elizabeth (Natalie Portman) é uma transgressão ao casal conturbado que conhecemos. O passado, enterrado às pressas com a desculpa de aceitação, é revisitado, e novos problemas (que na verdade sempre estiveram ali) são revisitados uma vez que a ferida é cutucada.
E os temas desconfortáveis explorados durante o filme, desde a questão da pedofilia praticada por Gracie (Julianne Moore) até o seu consequente abandono familiar, e a dificuldade de lidar com todo esse peso mas também a prepotência e a falsa sensação de uma consciência limpa, colaboram para a construção de um personagem complexo que, mais do que aversão, causa uma inquietação e aflição constantes.
Isso sem contar as problemáticas dos demais personagens, sempre relacionados a questão central da história – um problema chamado Gracie -, e o que lhes resta é viver algum resquício de vida numa normalidade falsa e teatral, onde nem mesmo a própria família é capaz de deixar de lado toda a complexidade de sua própria situação. E quando não é o desinteresse ou o distanciamento, o ódio de uma vida arruinada é quem toma