CRÍTICA | A Mãe (1926), Vsevolod Pudovkin

Por: Arthur Matsubara

Redação RUA

“A Mãe”, filme de 1926 dirigido por Vsevolod Pudovkin, baseado em um romance de mesmo nome, conta a história de uma mãe que, durante a revolução russa de 1917, torna-se viúva e ajuda as forças policiais a acharem o assassino de seu marido, mesmo que isso leve-a a ver a prisão de seu próprio filho.  Logo no início do filme, Pudovkin mostra a conturbada relação familiar dos protagonistas, expondo as diferentes opiniões de cada membro da sua família em relação às greves que estão acontecendo na cidade. O pai é um homem violento e bêbado que é cooptado para participar dos chamados Centenas Negras, grupo que reprime os movimentos revolucionários e desmobilizam as greves; o filho, membro do grupo dos grevistas em prol da revolução; e a mãe, inicialmente apática aos ideais e preocupada com o bem familiar.

A greve aqui, além de representar a resposta da classe operária para as suas precárias condições de trabalho, é um catalisador para a consciência política e social. Para alguns, como o filho, que de maneira geral representa a juventude revolucionária da época, a greve não o politiza, pois já era politizado, mas o coloca na linha de frente contra a opressão burguesa. Já para outros como o pai, que representa os mais velhos e reacionários, a greve apenas atrapalha uma visão de conciliação de classes, enquanto a mãe, no meio dessa guerra tanto no âmbito familiar quanto nacional, se vê durante a crise. Ao colocar essas três visões de mundo no contexto do filme, Pudovkin não retrata somente a experiência individual de tal família, mas sim de uma classe inteira, livre de barreiras geográficas ou temporais.

A natureza exerce um papel importante para o entendimento da trama. A chegada da primavera e o degelo do rio são uma clara metáfora ao processo revolucionário, usando de tais fenômenos para ilustrar a inevitabilidade da revolução, colocando-a para além de um confronto social, mas como parte da própria natureza humana. 

Além disso, diferenciando-se de Serguei Eisenstein,  com  O Encouraçado Potemkin (1925), aqui Pudovkin opta pela utilização de protagonistas individualizados, mesmo que ainda seja inerente ao sentimento do coletivo. Nesse sentido, utilizando-se de atores profissionais, a obra mantém uma relação de ator – câmera rica de significados para o filme. Os personagens aqui possuem rostos marcantes que enfatizam seus estados emocionais, sendo realçados por primeiros planos, como por exemplo a famosa cena da mãe levantando a bandeira no final do filme. Essa relação vai além dos protagonistas, podendo ser exemplificada pela própria atuação de Pudovkin como um oficial de polícia, cuja aparência remete à fraqueza e degradação do personagem, levando o espectador a uma resposta emocional que intensifica a compreensão do filme.

A Mãe”, portanto, expõe muito bem a posição revolucionária do autor, utilizando-se da greve como catalisador para a mensagem de consciência de classe da obra. Mostrando justamente que, em momentos de crise, a tomada de decisões políticas são de suma importância para, não só a sociedade, mas para o próprio indivíduo.

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