Crítica | The Killer – O assassino (2023), de David Fincher

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Por: Helena Zoneti Rodrigues

Após Mank (2020), David Fincher retorna à plataforma da Netflix em novembro de 2023 como diretor do filme O assassino, estrelado por Michael Fassbender. O filme conta com a atuação impecável de Tilda Swinton (outra “Assassina”) e, para nossa alegria, estima também com a performance da atriz brasileira Sophie Charlotte (Magdala), que atua como a defensora parceira do Assassino. 

“O Assassino”. Não é à toa o protagonista sequer ser chamado pelo seu nome pessoal, sua alcunha reúne todas as características universais do exímio trabalhador homicida: assassino contratado que atua e executa perfeitamente aquilo que é encomendado: matar. Sua relação com a morte é profissional, ou seja, instrumental e monetária. O filme é dividido em duas partes, haverá um acontecimento que faz com que o longa tome outro rumo, pessoal e humano: o estilhaço da persona “Assassino”. 

Na primeira parte da obra observamos a construção desta persona com sua rotina de trabalho metódica para abater da “melhor maneira possível”, ao manter com o espectador um diálogo interno por meio de monólogos que ensinam como ser extremamente profissional para matar. Seguem-se algumas das orientações: dissociar-se emocionalmente para evitar qualquer reação empática com seu produto (a vítima) e não deixar rastros; O Assassino tem que ter preparo físico e mental e manter uma neutralidade e apatia com quaisquer situações que envolvam seu trabalho. 

Além disso, o nome do personagem é tratado em letras maiúsculas (O Assassino), apontando ainda mais para a substancialização e impessoalidade deste papel, exacerbando esta característica derradeira. Porém, esta persona não consegue se sustentar, como vamos observando ao longo do filme. O primeiro abalo desta estrutura ocorre sutil e constantemente na tela: O Assassino executa suas tarefas ouvindo os clássicos da banda britânica The smiths, criando uma atmosfera pitoresca e caricata na tela (talvez banalizadora?), oposta à personalidade impassível do homicida, que escuta músicas emotivas e passionais. Porém, a quebra maior ocorre no que condiciona a mudança do primeiro para o segundo ato: O Assassino realiza sua primeira falha ao errar um tiro e assassinar outra pessoa não envolvida na “encomenda”.

A partir deste momento, toda sua figuração como “Assassino” se “descama” e perde sentido: Ele se mostra vulnerável. Como punição de um único erro, seus encarregados invadem sua residência e acabam torturando sua parceira Magdala. É esta situação de violenta injustiça na execução do seu trabalho que aproxima O Assassino de um homem, humano, e consequentemente o torna atraente ao espectador, que agora o acompanha realizando o mesmo trabalho, matar, mas com um sentido pessoal e razões afetivas. O Assassino se sente culpado pelo erro, pela tortura de sua mulher e adentra numa épica vingança heroica. Nesta segunda parte o roteiro se torna menos autêntico, mas ainda sedutor, agora que podemos nos identificar com o protagonista. Neste segundo ato, O Assassino vê que sua postura não se reduziu a uma “persona”, mas que também performou um discurso ideológico do trabalho que sustenta subjetividades passivas, instrumentais e violentas em prol do patronato político, classes dirigentes.

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