O Equilibrista (James Marsh, 2008)

O Equilibrista.

O equilibrista Philippe Petit enfrenta uma cárie. Sofre no dentista, com todos os barulhos e revistas velhas. Em meio a esta tenebrosa atmosfera, Petit encontra a grande obsessão de sua vida: o World Trade Center. A partir deste momento a busca pelas torres só faz crescer até que, em Agosto de 1974, Petit fica quarenta e cinco minutos em uma corda bamba, entre as duas torres.

O documentário de James Marsh conta com depoimentos de todos os envolvidos no processo, com grande destaque para os do protagonista, além de uma reconstrução dramática das horas anteriores à intervenção nas torres.

Vencedor do Oscar 2009 de melhor documentário, O Equilibrista aponta um lado curioso da premiação americana. Apesar de tão sensíveis às suas falhas internas – principalmente à guerra do Vietnã e à queda das torres gêmeas – a academia entrega o prêmio justamente para quem desafiou um dos grandes símbolos da cultura americana, e Petit, entregando seu gênio, ao receber a estatueta, a equilibra no nariz, mostrando a maneira lúdica como encara a vida.

James Marsh cria, de maneira muito acertada, um jogo muito tênue entre realidade e ficção. Ao intercalar depoimentos, imagens de arquivo e uma reconstrução do ocorrido, o diretor consegue prender a atenção do espectador em todo o processo narrativo.

O grande foco e personagem da trama é Petit. O equilibrista apresenta ao longo do documentário sua maneira única e um pouco distanciada, impregnada de fantasia, de ver o ocorrido. Seu depoimento inquieto e envolvente é tão absurdo que nos prende a tela, sempre querendo saber qual será o próximo passo.

O Equilibrista propõe, em aliança com o tema, uma estética de forte influência circense. As reconstruções do período de Philippe na França o mostram como um clown. Sempre andando em um monociclo, ou escalando postes e sinaleiros, Petit é uma figura alheia ao mundo que lhe envolve. Como toque final para esta construção surge a trilha sonora que, com melodias leves e engraçadas, encerra esta construção circense.

Em oposição ao lado “leve” do documentário a reconstrução das horas que antecederam a montagem da corda bamba são montadas de maneira a gerar grande tensão. Cria-se uma estética de suspense, com imagens rápidas, furtivas e com depoimentos mais densos, porém sem abandonar o cômico, mas uma vez apoiado na trilha sonora e em certas situações inusitadas, como o encontro com um guarda momentos antes do início da montagem.

O ápice do filme é tocante. Não há nenhum vídeo de Philippe Petit entre as duas torres, porém há uma série de fotos impressionantes. Os depoimentos criam uma aura de tensão, realização e apontam a forte união no grupo de franceses. Como ponto alto surge Petit dizendo que olhou para baixo sim, porque quando ele teria chance de ver aquilo novamente? Com isso o equilibrista estabelece brilhantemente a maneira como vê o mundo, apontando sua total entrega e paixão àquilo que faz.

O Equilibrista mostra como transformar uma história ótima em um igualmente brilhante documentário. Baseado em um formato clássico, com pequenas inovações e sempre mantendo a dúvida do que é real, alcança um lugar de destaque entre os documentários dos anos dois mil.

Felipe Abreu é graduando em Audiovisual pela Universidade de São Paulo (USP)

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Este post tem um comentário

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    Joana

    Felipe, seu texto é brilhante.

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