Over The Garden Wall: Impressões sobre “The Old Grist Mill”

  • Post author:
  • Post category:Críticas

Por: Isabella Brêtas

How the gentle wind

Beckons through the leaves

As autumn colors fall

Dancing in a swirl

Of golden memories

The loveliest lies of all

Em Novembro de 2024, mês de outono nos países do Norte, Over The Garden Wall completará 10 anos de lançamento pela Cartoon Network. A estação é a ambientação chave à história: não só repleta de abóboras, folhas alaranjadas e Halloween (no imaginário importado dos Estados Unidos), mas com tendência à introspecção, transições e a necessidade de se preparar para tempos mais maduros e dificeis.

Em antecipada homenagem à minissérie, reflito sobre como foi assisti-la pela primeira vez no outono (brasileiro e sem folhas laranjas) recente. No precipício de sua década, a narrativa parece tão universal e recente quanto o simbolismo da jornada de Wirt e Greg pela Floresta do Desconhecido de volta para casa, enquanto fogem das garras sinistras da Besta. Mas é no primeiro encontro das crianças com o Lenhador, cuja lanterna é sua dívida para carregar, que o destino das personagens se ramificam para lugares diferentes da noite eterna enredada pela Besta.

A dinâmica de Wirt e Greg é apresentada de primeira: Greg, o irmão caçula de Wirt [mais sábio e mais brincalhão] tagarela sobre os piores nomes para sapos, enquanto o tímido e ansioso Wirt age tal qual o padrão: não o escuta. Apenas Wirt se desespera ao perceber que caminham por uma floresta desconhecida, sem saber de onde vieram e para onde vão. Greg é mais intuitivo e prático: eles estão indo para casa, a floresta é só uma floresta e um rastro de doces pode auxiliá-los no caminho – apesar da ingenuidade de criança, Greg sempre busca por soluções. Wirt, em vez disso, faz poesia, como para se confortar com seu destino desfavorável. Mais realista do que o irmão e sensível, o sentimentalismo de Wirt tende, contudo, a desanimá-lo em situações de risco.

Quando eles veem o Lenhador pela primeira vez, Wirt pensa o pior e reprova Greg por sugerir que peçam por ajuda. É costume de Wirt ralhar com a espontaneidade do caçula, e sempre o culpa por todo problema em que se encontram. Tal como muitos de nós, Wirt não percebe que sua hesitação e inflexibilidade os colocam em perigo tanto quanto a curiosidade e extroversão de Greg podem ajudá-los a sair dele. Só quando o Lenhador vai embora que Wirt faz a mesma sugestão de Greg, como se este nunca tivesse falado. Apesar da discrição, é a discussão desconfortável e agitada de Wirt com Beatrice – um pássaro falante e futura aliada das crianças – que atrai o Lenhador à presença de Wirt e Greg. Este é um velho carrancudo e severo, mas em seu aborrecimento em ver os dois na floresta pode prenunciar sua história com a Besta: o luto de uma perda precoce.

Well, welcome to The Unknown, boys.

You’re more lost than you realize.

Na propriedade com um moinho do Lenhador, o velho assegura às crianças que ali estarão protegidas enquanto ele trabalha. Excentricamente, o trabalho do Lenhador consiste em moer as edelwood trees e extrair delas o óleo para manter a Lanterna da Escuridão acessa. Este é seu fardo. O Lenhador afirma que Wirt e Greg podem ir embora sem sua ajuda, mas os alerta quanto ao perigo da Besta, ever singing his mournful melody, em busca de almas perdidas. O Lenhador vive seus dias sozinho no moinho e, considerando a natureza de seu trabalho, abrigar Wirt e Greg pode ter sido seu primeiro ato de gentileza desde que se tornou peregrino no domínio da Besta.

Wirt, Greg e Beatrice se preservam em nossas memórias tanto como os temas universais presentes na minissérie tendem a amparar toda a experiência humana: morte e passagem do tempo, esperança e futilidade, amor e amizade. E, acima de tudo, crescimento. Caminhar pelo desconhecido é uma condição da existência; a sombra da Besta está em todo lugar. O outono se encurta ano após ano. É comum que nos esqueçamos da coragem que leva o cuidado com o outro em tempos sombrios.

Author Image

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

More Posts

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual