64ª Berlinale – Festival Internacional de Cinema de Berlim – Por Laura Texeira

Por Laura Texeira*

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Foto:Laura Texeira

Com sol e temperaturas amenas, a 64ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, mais conhecido como “Berlinale”, aconteceu entre os dias 6 e 16 de fevereiro de 2014 na capital alemã. O bom tempo surpreendeu os participantes deste tradicional “festival de inverno”, geralmente marcado pela neve ou chuva – bem ao contrário do clima estival dos Festivais de Cannes ou Veneza.

Ao lado desses dois, aliás, a Berlinale é considerada um “Festival tipo A”, principalmente pela qualidade e relevância dos filmes em competição. Mas o Festival vai muito além dos prêmios.

Com mais de 400 filmes na programação, a Berlinale é um marco na vida cultural da cidade e um importante rendez-vous do mundo do cinema. Sua programação vai de curtas a longas-metragens, de clássicos do cinema mudo restaurados a filmes com tecnologia de exibição 3D, passando por filmes infantis, sessões de temática GLBT, entre muitas outras.

Paralelamente ao Festival, acontece o “European Film Market” e seus sub-eventos que incluem debates, exibições, apresentação de novas tecnologias, venda de direitos de exibição, negociação de adaptação de livros para o cinema, etc. Produtores, diretores, distribuidores e outros profissionais da indústria cinematográfica, incluindo o ramo de filmes independentes e documentários, tem ali um espaço de negócios durante a Berlinale.

Grandes estrelas de Hollywood também não ficam de fora e desfilam diariamente no tapete vermelho em frente ao Berlinale Palast – um teatro de musicais que, por duas semanas, se transforma não só em cinema como também no centro de estreias e glamour da Berlinale. Lá foi exibido no dia 6 de fevereiro o filme de abertura desta edição: “The Grand Budapest Hotel” do diretor Wes Anderson. A estreia contou com a presença de boa parte de seu elenco que conta com Ralph Fiennes, Tilda Swinton, Bill Murray, Jeff Goldblum, Willem Dafoe, Edward Norton, Bob Balaban, Léa Seydoux, entre outros, para a divulgação do filme.

 Apesar de sua importância para o mercado e para os grandes lançamentos, a Berlinale se destaca também por ser um festival focado no espectador “comum”: ao contrário de Cannes e Veneza, que podem ser chamados de mais “exclusivos”, os filmes da Berlinale são exibidos várias vezes durante o festival, em mais de 20 cinemas espalhados por toda a cidade. Conseguir um ingresso não é tarefa impossível: um pequeno contingente é até mesmo vendido pela internet, o que facilita a vida de quem não pode dormir em frente aos guichês para garantir entrada nas sessões mais concorridas.

Alguns dos locais de exibição da Berlinale: Haus der Berliner Festspiele, Haus der Kulturen der Welt, Kino International e Berlinale Palast. (Fotos: Laura Teixeira)

Filmes brasileiros na Berlinale

Talvez a forte presença brasileira tenha trazido um pouco do calor tropical e influenciado o inverno mais ameno desta Berlinale. Na seção Panorama foram exibidos “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” de Daniel Ribeiro e “O Homem das Multidões” de Marcelo Gomes e Cao Guimarães. Na seção Forum foi exibido o filme “Castanha” de Davi Pretto e, na Generation, o curta-metragem “Eu não digo adeus, digo até logo”, de Giuliana Monteiro. Já o curta de Felipe Bragança e Helvécio Marins Jr., “Fernando Que Ganhou Um Pássaro do Mar”, foi exibido no Forum Expanded.

Mas o grande destaque foi a volta do cinema brasileiro à competição oficial, com “A Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz. Antes dele, o último selecionado para a competição da Berlinale tinha sido o filme “Tropa de Elite”, em 2008. Naquela edição, o filme de José Padilha não apenas participou como acabou levando o prêmio principal, o Urso de Prata. O mesmo feito de 10 anos antes, quando Walter Salles saiu de Berlim com o prêmio máximo por “Central do Brasil”.

Agora, alguns anos após o estrondoso sucesso do Capitão Nascimento, Wagner Moura voltou à competição da Berlinale, estrelando a co-produção Brasil-Alemanha ao lado de Clemens Schick e Jesuita Barbosa. A estreia na Berlinale não poderia ser mais coerente: a história de “A Praia do Futuro” se desenvolve na praia cearense de mesmo nome e também em Berlim, dessa forma retratando tanto a terra natal do diretor Karim Aïnouz como a cidade onde ele atualmente reside.

No filme, questões de identidade – tanto sexual como de nacionalidade – são tratadas a fundo através muito mais da imagem do que da palavra. O silêncio potencializa a força da linguagem cinematográfica e deixa espaço para o espectador se relacionar com a subjetividade dos personagens.

Apesar de sua história corajosa, suas qualidades técnicas e atuações marcantes, o filme de Karim não ganhou. Entre os mais de 20 filmes em competição, o Júri Oficial entregou o Urso de Ouro para o chinês “Black Coal, Thin Ice” de Diao Yinan. Mas o destaque mediático graças à seleção do filme para o Festival já vai com certeza ajudar no lançamento comercial de “A Praia do Futuro”, que chega às salas brasileiras em 1º de maio.

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Foto: Laura Texeira

Outro filme que já tem data para estreia no Brasil é “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, que chega às salas em 10 de abril. O primeiro longa-metragem de Daniel Ribeiro – baseado em seu curta-metragem “Eu Não Quero Voltar Sozinho” – foi duplamente premiado na Berlinale: foi escolhido o melhor filme da seção Panorama pela Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci) e recebeu o Teddy Award para melhor filme de ficção com temática GLBT.

Confira abaixo os indicados e a entrega do Teddy Award para a equipe do filme brasileiro:

Em um momento que o cinema nacional passa por uma fase de ebulição, com tantos filmes não apenas sendo produzidos, mas também sendo vistos nas salas de cinema, é fundamental que essa produção consiga também se exportar. E para ganhar atenção de distribuidoras internacionais, nada mais importante do que participar – e ganhar prêmios, por que não? – em festivais internacionais.

Quanto à Berlinale, torcemos não apenas por mais invernos amenos como esse de 2014, mas também por cada vez uma maior representação do nosso cinema na programação. E, apesar da distância entre as premiações de “Tropa de Elite” e “Central do Brasil”, que não tenhamos que esperar até 2018 por mais um Urso de Ouro para um filme brasileiro…

*Laura Teixeira é formada em Imagem e Som pela UFSCar e mestre em Mediação Cultural pela Universidade de Liège, Bélgica.

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