Mesa: Cinema, Música e Som na XII SOCINE

A mesa de “Cinema, música e som”, ocorrida no segundo dia da SOCINE, têm como primeiro debatedor o mestrando da FANOR Fábio Freire da Costa. Sua proposta de trabalho foi “Trilhas sonoras: uma sinergia entre as indústrias cinematográfica e fonográfica”, porém o nome “trilha sonora” está erroneamente usado, já que seu trabalho, como veremos adiante, trata-se de trilha musical, e não de trilha sonora.

A união das indústrias cinematográfica e fonográfica, no final da década de 30, não poderia ter outro objetivo senão a maximização dos lucros. A proposta de lançamento de álbuns de trilha musical está intrinsecamente ligada ao entorno midiático, política de Star System e a música POP da época. O marketing, agora, começa a ser a principal ferramenta dessas indústrias, e se consolidará até as grandes produções atuais como “Harry Potter”, “O Senhor dos Anéis”, “Matrix”, etc.

Porém, o início desse projeto é um fracasso. A maioria dos produtos não vende e o pequeno sucesso é conseqüência de poucos estouros.

Situação revertida com a chegada da década de 50 e com ela a invasão da chamada música POP. Artistas como Elvis e Beatles exerceram influência considerável no público jovem, margeando seus estilos de vida, sua moda, e principalmente seus discos e filmes. É o principal ponto de convergência entre as indústrias em questão.

É nessa época também que surge o chamado “cinema POP”, que colocava nas telas dos cinemas os assuntos evitados pela televisão, atraindo ainda mais o público. O resultado desse crescimento industrial culmina nas décadas de 70 e 80, com o “boom blockbuster”, que abrange filmes de grande orçamento pautados principalmente no marketing e nos produtos extra-cinema, comercializados no mundo todo e rendendo mais lucros do que as projeções do próprio filme. Padrão hollywoodiano de se fazer e pensar cinema.

O próximo debatedor é Virgínia Flores, professora mestre da Universidade Gama Filho e que traz o tema “O som no espaço cinematográfico”.

Virginia começa contextualizando o cinema clássico e seu conseqüente espectador passivo. Passa por conceitos de som “in” (dentro do quadro), som “off” (aquele que não faz parte da diegese) e som “fora de campo” (exemplo: campo e contra-campo) citando Michel Chion, e ainda discute a questão do sincronismo ou não de som e imagem.

Após essa introdução/aula, nos mostra um pedaço do filme “O Pântano”, de Lucrecia Martel, e é nesse momento que começa a parte mais interessante de seu trabalho. Fala de timbre, intensidade sonora, textura, camadas… Dá o exemplo de uma cena em que a textura “áspera” do arrastar das cadeiras cria um suspense, uma expectativa esclarecedora de que algo irá acontecer. Esse é o valor de voz que o som pode ter: a comunicação de algo além das imagens – “carga comunicativa”.

Excelente apresentação.

Para encerrar a mesa o doutorando Gustavo Souza, da USP, nos apresenta seu trabalho “Rap e hip-hop nos documentários de periferia”.

Seu estudo trabalha com documentários produzidos na periferia, em projetos sociais, e faz questão de reforçar que a linguagem televisiva desses documentários é normal, já que essa é a linguagem com que aquelas pessoas estão acostumadas no dia-a-dia.

Esses filmes têm como espaço a própria cidade, a comunidade em que vivem, e o hip-hop se encaixa como trilha musical perfeitamente. Mais do que isso, o hip-hop é a própria paisagem sonora desses filmes, já que é a música tocada e ouvida diariamente nessas comunidades.

Ideologicamente os documentários visam combater os meios de comunicação de massa e a “verdade absoluta” passada por eles. Os realizadores vêem em seus projetos a oportunidade de mostrar a comunidade como ela realmente é, e não como ponto de tráfico e violência urbana, como a mídia das massas coloca.

Assim termina uma hora e quarenta e cinco minutos de discussão sonora. Tempo precioso para todos os fanáticos por música, som e cinema.

Juliano Parreira é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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