Festival 2 minutos: A Sustentabilidade retratada em cento-e-vídeo segundos

Partindo do pressuposto que é importante a discussão sobre sustentabilidade no atual contexto mundial, e da premência de dar voz e incluir nessa discussão também jovens de classes sócio-economicas menos favorecidas, normalmente marginalizados dos processos decisórios, foi organizado na cidade de Sorocaba, interior do estado de São Paulo, um festival de vídeos sobre essa temática, no qual estudantes carentes da rede pública de ensino foram os produtores dos filmes – e não simples expectadores.

A dinâmica que precedeu a produção dos filmes envolveu palestras, com a intenção de situar, contextualizar e problematizar a questão, e oficinas de teatro e vídeo para sensibilizar e instrumentalizar tecnicamente os participantes, capacitando-os para elaborar roteiros, montar encenações, manipular equipamentos, fazer iluminação, editar. Após essas atividades preparatórias, os alunos, acompanhados por um monitor, produziram vídeos, com duração máxima de 2 minutos, tendo a total liberdade de expressão. Além do ensino médio, também foram convidados estudantes de ensino superior da UFSCar Sorocaba, cujo campus tem, desde a sua criação, a sustentabilidade como diretriz. Esses vídeos, com diferentes perspectivas, estética e concepções, foram apresentados em diversos espaços na forma de um festival de curta-metragens – O “Festival 2 minutos”, com projeções em formato cinema.

Um resultado imediato dessas exibições, além das manifestações positivas do público, foi que outros jovens se sentiram estimulados a produzir filmes – o que já desencadeou a organização do “II Festival 2 minutos”, a ser desenvolvido em 2009. A importância dessa dinâmica, a nosso ver, está primeiramente na possibilidade da expressão artística e trabalho coletivo dos jovens, manifestos desde a criação do argumento até a edição final, passando por toda a produção fílmica (roteirização, criação dos personagens, teatralização, filmagem, etc); como decorrência dessa atividade tivemos que outros jovens, ao assistir os vídeos, se sentiram encorajados a fazer suas próprias produções.

Essa dinâmica, num nível emergente, colaborou para resgatar a auto-estima e abrir espaço para a criatividade, não apenas dos autores e pessoas diretamente envolvidas, mas também do público que assistiu as exibições, pois ao valorizar essas produções expressivas juvenis, gerou outros significados para a temática sócio-ambiental e a criação artística.

Por Hylio Laganá Fernandes, Alissandra Nazareth de Carvalho, Viviane de Melo Mendonça, Renata Saito, Paloma Chagas, Samuel Dal Medico, Vitor Guerra

RESULTADOS: dificuldades encontradas e aspectos positivos

Foram produzidos durante o processo 18 vídeos, cerca de metade dos quais (oito) feitos pelos estudantes de ensino médio e os demais (dez) por estudantes de nível superior. Embora não estivesse prevista no projeto original a participação de estudantes universitários, a proposta instigou diversos alunos de nossa instituição (UFSCar Sorocaba) e também da USP – São Paulo, que tomaram contato com o projeto: desse modo, esses estudantes produziram seus vídeos, com idéias e recursos próprios, disponibilizando posteriormente para a organização do festival, que se encarregou de inserir na mostra do Festival.

A participação dos estudantes de ensino médio, público-alvo deste projeto, merece algumas considerações: inscreveram-se na proposta 50 estudantes, oriundos de diferentes escolas públicas de Sorocaba (municipais e estaduais), que foram divididos em duas turmas de 25 estudantes. A participação destes nas oficinas de trabalho foi bastante grande: não apenas estiveram presentes como participaram ativamente dos debates. A evasão, nessas primeiras duas semanas, foi mínima.

Ao iniciarem os trabalhos práticos – criação de histórias, elaboração de roteiros e gravação e edição dos vídeos – houve uma grande evasão, permanecendo em cada turma menos da metade dos inscritos, fato que contrariava todas as expectativas da equipe organizadora, que acreditava que esse seria o momento mais interessante do trabalho, a hora de “colocar a mão na massa” e realmente produzir os vídeos.

Investigando esse fenômeno junto a nossos parceiros na prefeitura, cuja colaboração foi fundamental para o desenvolvimento do projeto, inclusive com a disponibilidade do espaço, constatou-se que houve coincidência de uma parte dos estudantes que, justamente nesse período, começaram a trabalhar, dentro do programa “primeira chance”, ao qual já se encontravam vinculados e esperando a chamada para o trabalho.

Outros motivos foram desvelados em encontros casuais com outros jovens: duas meninas que encontramos posteriormente alegaram que “a parte das oficinas eram mais atrativas, porque ali aprendiam coisas”, mas não se sentiam à vontade para fazer os vídeos; um rapaz, encontrado em outro contexto, explicou que “apareceram outras coisas para fazer” – nessa faixa etária a mudança de atividades e experimentações é bastante freqüente. Finalmente, duas outras meninas, que tiveram uma participação bastante inconstante, alegaram que tinham dificuldade com o transporte, pois moravam longe e nem sempre conseguiam os passes escolares para o ônibus – o que fez a organização cogitar a inclusão de verba para transporte de alunos em futuros projetos.

Embora com o número de participantes reduzido, o trabalho de produção de vídeos se desenvolveu muito satisfatoriamente, com aporte de idéias e criações. A temática central desses trabalhos girou em torno dos resíduos sólidos, embora nas oficinas tenham sido abordadas outras facetas da sustentabilidade (social e cultural). Muito provavelmente essa vertente temática se deve ao fato de que a produção, descarte e reciclagem de resíduos seja um aspecto muito evidente na vida desses jovens – muitos dos quais inclusive afirmaram juntar latinhas como fonte de renda.

A FINALIZAÇÃO

Como etapa final do projeto tivemos a apresentação dos vídeos produzidos em diversos espaços, divulgando o trabalho, levantando reflexões e valorizando o trabalho científico/cultural desenvolvido no processo. A primeira apresentação, seguida de debate, aconteceu na conferência “BioEd 2008: desafios do ensino de biologia para a Sustentabilidade”, realizado em Dijon, França, de 26 a 28 de junho de 2008. Outras apresentações aconteceram durante a “II Semana de Sustentabilidade”, 18 a 21 de agosto, promovida pela UFSCar – Sorocaba e na “Semana da Juventude”, dia 27 de setembro, promovido pela Secretaria da Juventude do município de Sorocaba, e por fim dia 03 de outubro, num encontro do projeto “Primeira Chance”, também patrocinado pela prefeitura sorocabana.

Para a realização dessa etapa do trabalho foram feitas algumas adequações, a fim de tornar mais eficiente sua divulgação, apresentações e discussões.

Para a divulgação optamos pela produção de uma revista ilustrada, não banners, folders ou cartazes, como previsto no projeto original, por entender que essa forma de propaganda não atinge efetivamente nosso público-alvo – jovens estudantes – além de ser contraditória com a própria proposta de sustentabilidade, dado o caráter descartável dessas mídias. A revista, por outro lado, além de atrair mais a atenção dos jovens, tem uma existência que ultrapassa o tempo de duração do Festival, não se transformando em “lixo” logo após sua conclusão. Para a produção dessa revista jovens estudantes foram convidados a produzir Histórias em Quadrinhos (HQ), um tipo de leitura normalmente atrativa para os jovens, que compõe o corpo central da publicação, ficando a divulgação do Festival colocada no espaço privilegiado da contra-capa. Foram produzidos e distribuídos 300 exemplares dessa revistinha, que teve 88 páginas. A aceitação dessa edição foi muito boa.

Para as apresentações dos vídeos não houve mudanças significativas em relação ao projeto original, sendo apenas necessária uma adequação quanto ao material necessário: solicitamos inicialmente uma caixa de som para a transmissão do áudio, contudo nossas provas iniciais em ambientes amplos e/ou abertos mostrou que apenas uma caixa não cumpre satisfatoriamente o propósito, sendo necessárias duas, uma de cada lado da platéia. Desse modo, solicitamos a compra de outra caixa de som, aproveitando a verba residual que temos disponível. Vale salientar que essa verba existe em virtude do desempenho de nosso departamento de compras, que conseguiu comprar os equipamentos por um custo abaixo daquele estimado e orçado inicialmente, além do efetivo resultante da aplicação do capital total em fundos de investimento durante o tempo de desenvolvimento do projeto.Para as discussões e debates sobre o tema, atividade prevista como desdobramento desejável do momento de apresentações dos vídeos, quando as idéias sobre sustentabilidade devem ser questionadas pelos jovens e adequadas à realidade local, sentimos a necessidade de mais material – especificamente papel, lápis, borracha, canetas, tinta para impressoras, etc. A importância desse material reside na necessidade de garantir meios de expressão para os envolvidos.

Em virtude do exposto, conclui-se que o projeto “Festival 2 minutos: retratando a sustentabilidade em cento e vídeo segundos” atingiu o seu objetivo ao promover junto aos jovens de Sorocaba um debate sobre o conteúdo da sustentabilidade em suas mais diversas abordagens, aspectos e apresentações de uma maneira alternativa, utilizando a mídia áudio-visual (vídeo) como forma final de expressão dos participantes. Os jovens envolvidos puderam compartilhar suas realidades particulares, tendo liberdade para utilizar a sua linguagem e visão de mundo, favorecendo desta maneira a comunicação com outros jovens e promovendo a difusão de idéias sobre a temática.

Alissandra Nazareth de Carvalho é professora do Curso de Turismo – Hospitalidade e Cultura da UFSCar Sorocaba

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