Chicken of God (Frank Woodley, 2008)

Por Felipe Abreu*

Uma fazenda está à beira da falência. Seu dono cuidadosamente afia seu machado e se prepara para matar o último frango. Quando o fazendeiro ergue o machado sua mulher intervém dizendo que aquele é um animal de Deus e tem, em sua crista, uma marca divina. A partir desse momento o frango passa a guiar o destino da fazenda até o seu fim.(fim da fazenda ou do frango?)

Chiken of god, uma animação australiana de nove minutos,foi dirigida, co-escrita e co-produzida por Frank Woodley, sendo sua mais nova animação, a qual participou de vários festivais na Austrália e foi exibida na 32ª Mostra internacional de Cinema de São Paulo, com com dois curtas e um média metragem.

Foi utilizada na produção deste trabalho a técnica de animação digital em 3D, o que possibilitou a criação de uma estética que, apesar do pretenso realismo imposto pelo 3D, aproxima-se muito do cartoon clássico.

Grande parte do humor desta animação está baseada em expressões e trejeitos dos três personagens. Yirri, o fazendeiro, é o típico trabalhador de raciocínio curto. Meio bruto e descrente demora a entender e a acreditar na importância do frango, de forma que, mesmo quando aceita a situação, trata o animal como um objeto para a realização de seus desejos. Essa concepção cria um dos grandes momentos do filme: Yirri, desesperado pela possível entrega da fazenda para o banco, pinta cada uma das bolinhas do terço da esposa com números e faz com que o frango as engula. Após isso espera pacientemente que o frango excrete seis bolinhas para apostar os números na loteria.

Teresa, esposa de Yirri, é uma senhora simpática, e cabe a ela apontar a marca na crista que lembra o rosto de Jesus. Nesse momento mais um elemento importante do filme é apresentado: o nonsense. No momento em que a fazendeira aponta a suposta imagem, é feito um close da crista, onde não há nada.

A única personagem feminina da trama é também a única que revela uma mudança em sua personalidade. Quando se aproxima o final do filme o frango engole o bilhete premiado da loteria. Desesperados, os fazendeiros não sabem o que fazer. É nesse momento que Teresa, a grande defensora do frango, entrega o machado para o marido.

O protagonista da trama, o frango, é o que tem suas expressões melhor trabalhadas, pois nelas se apóia toda a sua expressividade, uma vez que é um personagem sem falas, e através delas, os animadores conseguiram criar uma comicidade intensa. A todo momento surge uma nova expressão ou um novo som que mantém sempre a atenção do público.

Como a maior parte dos desenhos clássicos Chicken of God se apóia no nonsense para criar uma lógica própria. Como já apontado anteriormente não há nenhuma marca na crista do frango, ela só existe na imaginação dos personagens. Nesse ponto, cria-se uma boa crítica de uma religiosidade falsa, baseada somente em símbolos irreais e criados pelo homem.É A partir dessa crítica que a narrativa é construída.

Yirri e Teresa ganham na loteria, mas perdem o bilhete, engolido pelo frango. Nesse momento, como já revelado, Teresa passa o machado para o marido, que rapidamente corta o pescoço do sagrado frango e recupera o bilhete. Ainda com um sorriso desajeitado no rosto, Yirri, sua mulher, e toda a casa são tragados por uma fenda no chão.

Surge assim um lado oposto à crítica citada acima. Ao desrespeitar a dita divindade os dois são duramente castigados. Mas, apesar disso, essa punição não deixa de ser extremamente cômica deixando um eco de risadas no fim da sessão.

*Felipe Abreu é graduando em Audiovisual pela Universidade de São Paulo (USP).

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