
Por J. Victor Messias
Redação RUA
Casamento Sangrento ou Ready or Not (2019), de Matt Bettinelli-Opin e Tyler Gillet, não tenta ser o que não é. Ou seja, um filme pretensioso que omite informações de seus espectadores. Não, esse é um filme para se divertir, como a maioria dos clássicos do Horror.
E, para nos divertirmos, precisamos encarar a tela sem precisar nos desgastarmos com informações enigmáticas – que também são válidas, mas isso depende da proposta e da capacidade dos realizadores do projeto, sob pena do produto entreter pelos motivos errados. Felizmente, “Casamento Sangrento” não é um desses casos. Sua execução é primorosa, e é possível entender sua proposta desde o título original – “Ready or not”, algo como “prontos ou não”, “pronto ou não”, “pronta ou não” – essas possibilidades são importantes, e aparecem no título brasileiro também, mas de uma forma um pouco mais diferente, veremos adiante.
No título original, o tom lúdico do filme se faz presente. É como se fosse um “não se preocupe, aqui dentro a A24 não vai te alcançar” – no sentido de o filme não “forçar” ninguém a gastar um neurônio ou dois –, esse título também faz alusão a jogos, que é como os Le Domas conseguiram suas riquezas, e como os membros agregados (por casamento) são iniciados entre eles. Já o título brasileiro é mais direto, “Casamento Sangrento”, o filme se passa no ritual final de casamento dos Le Domas, um ritual que, dependendo das circunstâncias, exige sangue. Então veremos um casamento, e ele será sangrento.
O filme é divertido, une Comédia e Horror de forma satisfatória; temos momentos de tensão, sentimos o desespero de Grace (Samara Weaving), torcemos por ela em cada tentativa de escapar dessa situação horrível e descabida, também rimos das personagens excêntricas que são apresentadas e das situações absurdas que acontecem. Ao mesmo tempo, assim que Grace se vê sem saída, também experimentamos um pouco do “prontos ou não” do título original e testemunhamos a vez dela retribuir os ataques dos Le Domas. Afinal, tudo se passa em um grande esconde-esconde, se antes era a vez dela se esconder – “pronta ou não, lá vamos nós” –, agora é melhor que eles se escondam.
Não consigo achar detalhes suficientemente relevantes para criticar negativamente. Consigo perdoar a maioria deles, e admito que o que vou assumir a seguir é a única coisa que me incomoda no filme: acabo torcendo o nariz quando, ao final, decidem mostrar uma personagem que poderia, tranquilamente, não ser mostrada. Mas, tudo bem, o filme não poupa o espectador de nenhum detalhe, esse é só mais um deles.
Este é um filme para se divertir. Ao mesmo tempo que não nos poupa dos detalhes mais aflitivos de um bom filme de Horror, quando se propõe como puro entretenimento, também o faz. Cada cena é uma aula de narrativa, elas apresentam os detalhes que logo vão se encaixando conforme vamos assistindo. Comentários feitos, olhares, itens cenográficos, fotografia – que não abre mão de ser sombria – e até a trilha sonora passam a impressão de que os roteiristas, Guy Busick e Ryan Murphy, junto dos diretores, fizeram o dever de casa. Nada é algo realmente novo, mas é que nada supera a consistência de um arroz com feijão bem feito.
As gravações da continuação começaram recentemente, e confesso que mal posso esperar. Quero correr e “bater pique”, marcar minha presença nessa estreia. Quem sabe o que pode acontecer? Só espero que a brincadeira seja outra.