
Por Maria Fernanda de Paula
Redação RUA
Premonição 6: Laços de Sangue retorna à tela dos cinemas 14 anos após o lançamento de Premonição 5 (2011), levantando entre fãs da franquia e do gênero de terror uma esperança de uma continuação que faça jus ao espírito da série de filmes nos anos 2000, ou então o medo de uma sequel pobre em história e pouco autêntica. Surpreendentemente, o filme é uma boa surpresa tanto para os fãs quanto para os apreciadores casuais que buscam a diversão violenta e que os filmes sempre entregaram. Para uma franquia que já chega ao seu sexto filme, Laços de Sangue certamente funciona e não decepciona nas mortes criativas de personagens, inserindo no enredo uma história de fundo mais sofisticada que de costume e presta um tributo ao ator Tony Todd, que esteve presente na série desde o início e faleceu no final de 2024.
Não é surpresa que Premonição 6 siga a mesma estrutura de seus antecessores. A cena de abertura é uma sequência de mortes terríveis e bem elaboradas, revelada ao final como uma premonição do futuro a ser impedida pela personagem Iris (Brec Bassinger), e logo de cara estabelece o tom de comicidade sombria que segue o filme. É discutível que este seja o melhor prólogo da franquia: a sucessão de fatos desastrosos numa situação bastante particular causa logo de início o choque que se esperava após tantos anos, com direito a pessoas queimando até a morte e outras sendo esmagadas por pianos, além de pintar a cena para o enredo que se desenrola em seguida.
Um elemento intrigante neste sexto filme é que, apesar de não fugir completamente de sua fórmula já conhecida, a protagonista e sua família possuem mais coisas acontecendo em suas vidas além da perseguição da morte. Claro, o longa não vai longe no drama, seu foco principal (e provavelmente o que mais interessa o público) continua sendo as formas inesperadas que os escritores inventaram para matar cada personagem, mas é revigorante ter algo além da violência gráfica e gratuita para extrair do filme. A premonição do início volta à protagonista Stefani (Kaitlyn Santa Juana) em forma de pesadelo, trazendo à tona a avó Iris afastada da família, e a mãe que abandonou os filhos na infância. A temática de trauma geracional acaba se relacionando diretamente com a visão da avó, amarrando ambos os lados da narrativa de maneira minimamente satisfatória.
No geral, o filme é bastante engraçado, e de forma intencional. As mortes são absurdas e criativas, apesar de algumas serem mais esquecíveis que outras. Há momentos que alguns dos acidentes mortais e o CGI usado beiram a paródia, mas é quase impossível não ser um pouco ridículo quando se está no sexto filme de uma franquia, e os diretores assumem essa posição. Apesar disso, o longa não se esquece de deixar o público tenso nas cenas onde alguém morrerá. O suspense é criado por planos que focam em objetos aparentemente inofensivos, mas que claramente sinalizam um possível perigo: uma garrafa de vidro na beirada da mesa, um rastelo embaixo do trampolim, uma moeda qualquer. A maioria das mortes acaba acontecendo numa sucessão de pequenos incidentes infelizes que resultam num enorme banho de sangue — algo que, com o tempo, se torna repetitivo, mas já faz parte da dinâmica que dá vida a esse tipo de filme, então esse efeito dominó acaba sendo o artifício mais convincente, apesar de mirabolante.
A aparição de Tony Todd no filme é um de seus pontos altos. A revelação do icônico personagem William Bludworth em uma breve cena cria um momento de fechamento de círculo. O personagem, após encontrar os pobres protagonistas desesperados, abandona seu emprego no necrotério e aconselha os jovens (e talvez o público) a aproveitar a vida enquanto podem, imortalizando Todd através da franquia que marcou sua carreira.
O desfecho, infelizmente, deixa bastante a desejar. Num terceiro ato arrastado, a sequência final poderia ter sido melhor. Como o final precisou ser refilmado, fica a curiosidade de qual seria o plano original. A sensação que fica é que, se o novo plano era matar os irmãos Reyes no final de qualquer jeito, que fosse feito com a mesma criatividade absurda e espetacularizada das mortes anteriores. Parece que a própria Morte se cansou de tentar e pensou na forma mais rápida e barata de se livrar de ambos. A morte repentina é seguida dos créditos finais repletos de referências à outros momentos da franquia (também presentes no decorrer do filme), sugerindo que este é um possível ponto final para a franquia de mais de 20 anos. Mas, com o sucesso que o filme fez na sua estreia e os números da bilheteria mundial, é sempre provável que os estúdios insistam em continuações até o seu último suspiro.
Em conclusão, Premonição 6: Laços de Sangue é uma sequência que não se leva a sério demais e surpreende por conseguir divertir o espectador através das mesmas artimanhas dos filmes anteriores, renovando a franquia para um nível mais adequado ao terror atual sem perder sua essência. Com mortes icônicas e talvez algumas das mais aterrorizantes, é exatamente o que os fãs esperam do absurdo sangrento que define a série.