CRÍTICA | Lazarus, Episódios 1-13 (2025) Shinichiro Watanabe

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Por Nicolas Germano

Redação RUA

É intrigante observar a recepção de Lazarus (2025) e a crítica negativa — não homogênea, já que, no geral, houve uma divisão — vinda principalmente do público comum de animes, em sua maioria adolescentes incels de 16 anos, o que por si só já é uma explicação satisfatória para tal reação. Nota-se uma incapacidade de compreensão e aceitação de obras que fujam do padrão genérico estabelecido por Naruto e Dragon BalI (o shounen clássico, hoje representado por animes como Solo Leveling e Jujutsu Kaisen), que possuem uma legião de fãs incapazes de juntar A com B. O problema não está em gostar e idolatrar essas obras, elas são dignas e merecedoras, mas sim na negação de propostas diferentes, como no caso de Lazarus, com sua abordagem de ficção científica futurista, em que as personagens têm a missão de evitar que esse futuro se torne uma distopia clássica à la Mad Max.

A trama do anime de Shinichiro Watanabe, diretor do glorificado Cowboy Bebop, desenvolve-se a partir do momento em que o “remédio” Hapna — um tipo de calmante que gerava uma sensação de alívio imediato, usado por quase toda a população mundial e visto como algo seguro —, de repente se torna uma ameaça conforme enunciado por seu criador Skinner à vida de todos que o haviam consumido. A condição para a salvação era uma só: achar o criador antes do tempo limite, já que ele era o único detentor da fórmula da cura. Sua motivação era simples, a humanidade não merecia sobreviver devido à constante destruição da natureza e de si própria como sociedade. A força-tarefa “Lazarus” é formada nesse contexto por agentes especiais, entre eles criminosos como o protagonista brasileiro Axel Gilberto, com o objetivo de entrar na corrida junto a um mundo inteiro, pela busca de Skinner antes que a primeira leva de mortes pelo Hapna acontecesse.

São muitos os temas abordados ao longo da história, contribuindo para a construção do mundo e das personagens, em meio a um trabalho técnico bem-executado e à possibilidade de desenvolver uma narrativa que remete às melhores ficções da literatura ao audiovisual — facilitado pela liberdade (limitada, mas notável) concedida ao diretor pelo estúdio, rara atualmente, dada a pressão comercial na produção artística em geral (animes, cinema, música), mas que ainda encontra espaço para sobreviver mesmo não sendo o padrão da indústria cultural capitalista.

Em meio a uma trilha sonora exemplar, marca simbólica do autor capaz de dar inveja a muitos dos grandes diretores da história do cinema, em 2052 nos é apresentado um mundo hiperconectado, uma “proto-utopia” tecnológica, mas ainda marcado pela desigualdade social, a pobreza, o vício e o crime que permeiam a ambientação do anime. Durante as viagens da força-tarefa, vemos versões futuras de diferentes países, EUA, Rússia, Paquistão, entre outros, com notável preocupação em retratar a permanência de aspectos culturais e contradições sistêmicas conduzidas de maneira inteligente por Watanabe, as quais não foram alteradas significativamente por um desenvolvimento meramente tecnológico.

Não é uma obra perfeita. Por possuir uma proposta ousada e abordar diversos temas paralelos à trama principal, desde as histórias pessoais das personagens até a disputa política e militar entre agências nacionais e internacionais, passando por traições e pela corrida pela cura (que, como monopólio, representaria uma grande oportunidade de poder e negócios), Lazarus claramente faz referência à pandemia da Covid-19, talvez sendo a melhor obra a tratar do tema até então. Por vezes, confunde-se e perde-se, passando rapidamente por questões interessantes, mas nunca deixando de apresentá-las.

Em apenas 13 episódios de 20 minutos, a quantidade de temas e discussões transpostos da nossa sociedade para a tela é vasta. A invisibilização de uma obra como essa, muito por seu formato ainda desprezado por grande parte do público, visto como “não sério” e, portanto, incapaz de pautar debates é uma barreira a ser superada, mesmo que o prognóstico não seja favorável.

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