CRÍTICA | Saltburn (2023), Emerald Fennell

Por: Athos Rubim

Redação RUA

Depois de uma estrondosa estreia, com Bela Vingança, de 2020, que rendeu um prêmio e outras quatro indicações ao Oscar, Emerald Fennell tinha conseguido entrar nos radares da cinefilia. Por três anos, o público aguardou ansiosamente para saber o que viria em seguida, se a diretora se provaria verdadeiramente capaz ou se seu primeiro filme tinha sido apenas um ponto fora da curva.

Saltburn vem para dar as respostas. Com um elenco estrelado, tendo Barry Keoghan no papel principal, Jacob Elordi como seu coadjuvante e outros grandes nomes como Rosamund Pike, Richard E. Grant e Carey Mulligan, além da direção de fotografia por Linus Sandgren, que rodou filmes como La La Land e Babilônia, o filme tinha tudo para ser incrível. Porém, o roteiro de Fennell perde seu brilho ao tentar contar duas histórias em uma só.

O prólogo e a primeira parte do filme giram em torno da amizade de Oliver (Barry Keoghan) e Felix (Jacob Elordi). Ambos são estudantes em Oxford, mas Felix pertence à alta sociedade inglesa, que frequenta esses espaços normalmente, enquanto Oliver é um aluno bolsista. Essa é a premissa que vai gerar a dinâmica mais interessante do filme: a obsessão que Oliver terá por Felix. 

No prólogo vemos a relação dos dois na Universidade, com Oliver se aproximando do grupo de amizades de Felix, jovens mais abastados que ele. No entanto, esse período dura pouco, pois logo nos 40 minutos do filme, os garotos entram em férias e Felix convida Oliver para ir a sua casa, a Mansão Saltburn. Inicia-se então a primeira parte do filme, onde vemos Oliver mergulhar cada vez mais na aristocracia, vivendo com riquezas que nunca havia sonhado. Bebidas, jantares, criados, e festas extravagantes. Oliver fica cada vez mais obcecado e a esse ponto, o filme claramente se trata dessa obsessão da personagem. Entretanto, por uma coincidência inoportuna, no dia do aniversário de Oliver, antes de sua grande e opulenta festa, Felix descobre que Oliver havia contado várias mentiras para se aproximar do amigo. 

É a partir daí que o filme começa a desandar. O que se tratava de um filme sobre uma obsessão torna-se um filme de assassino frio e calculista. Oliver destrói a família de Felix até não sobrar mais ninguém e ele, assim, assume o lugar deles na elite.

Saltburn, no fim, é um bom filme, em ambos quesitos técnicos e artísticos. A única falha do filme é criar um desfecho que não dialoga com o início. Ao fim do filme, a personalidade de Oliver, aos olhos do espectador, fica confusa. Pois, no início apresenta-se um garoto que, com o tempo, desenvolve um desejo obsessivo por seu amigo, mas o final do filme pinta o personagem como um gênio maléfico, frio e calculista.

Em última instância, essa decisão criativa é infeliz, pois neste segundo filme, Emerald Fennell provou-se extremamente capaz. Porém, com um filme que não sabe ao certo onde quer se posicionar, e que dividiu muitas opiniões, o futuro da diretora fica incerto.

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