Por: Athos Rubim
Redação RUA
Ao sair da sala de cinema, após assistir Megalopolis, mega com certeza é um prefixo que permanece um tempo com o espectador. Não há dúvidas que este filme seja uma mega-produção, com um mega-elenco, mega-simbologias, mega-efeitos visuais e uma mega-história. Porém, mesmo com, ou talvez devido a, tudo isso, Francis Ford Coppola não consegue entregar um filme coeso e bem explorado.
Antes de enumerar as falhas que assassinam o filme, vale destacar seus aspectos interessantes. O elenco com certeza é um deles, com Adam Driver, um dos grandes atores da atualidade, no papel do protagonista Cesar Catalina, e Giancarlo Esposito, conhecido pela série Breaking Bad (2008-2013), interpretando o antagonista, o prefeito Franklyn Cicero; ambos trabalhando majestosamente com o roteiro que lhes foi dado. Os paralelos e simbologias propostas por Coppola também têm seu valor, mesmo que acabem ofuscadas e embaralhadas.
Os erros começam aí. A impressão que o filme passa é de que Coppola queria dizer algo e criou aqueles personagens apenas para movimentar sua narrativa, sem explorá-los a fundo e entender suas psiques. Ao fim do filme, não sabemos as motivações nem as angústias de ninguém, tornando todos ali retratados personagens planos, unidimensionais. Infelizmente, ao tentar movimentar tantas questões formativas da sociedade atual, o diretor não consegue escapar das armadilhas simplórias dos maniqueismos. Talvez se a história fosse um pouco mais contida, os objetivos teriam sido atingidos com mais facilidade. É quase como se com o passar dos anos em desenvolvimento, o filme tivesse ficado cada vez maior, de modo a impossibilitar que qualquer aspecto fosse trabalhado em detalhes. Quem sabe se Coppola houvesse transformado seu projeto em uma minisérie teria sido mais proveitoso.
Sabendo-se das inúmeras dificuldades atravessadas pelo diretor, que hoje tem 85 anos, batalhando contra a falta de financiamento, por fim tendo que levantar das próprias economias os mais de 100 milhões de dólares que o filme demandou. Não há como não admirar a dedicação e força de vontade de trazer a realidade seu projeto. Entretanto, Coppola foi contaminado pelos processos de suas outras empreitadas e se esqueceu que, diferente dos vinhos, filmes nem sempre se beneficiam de 40 anos de envelhecimento.