
Por Nicolas Germano
Redação RUA
Greice (2024), filme de Leonardo Mouramateus, conta a história de Greice, interpretada por Amandyra, uma estudante de escultura na Academia das Belas Artes de Lisboa, longe de sua terra natal, no Ceará. O drama começa quando ela e sua amiga, em um dia de calor em Portugal, decidem procurar uma piscina. Através de uma mentira que se tornaria verdade, conhecem Afonso, um herdeiro português que acabaria tendo um caso com Greice.
O filme tem na personagem principal o seu centro gravitacional, ela quem sustenta a trama, em torno da qual os acontecimentos e os demais personagens orbitam. Greice mantém sempre uma dualidade em sua conduta é divertida, inteligente e carinhosa, mas também apresenta ao telespectador um lado manipulador e egóico. Ainda assim, isso não nos impede de torcer por ela, acreditar em sua inocência ou simplesmente justificar seus atos.
O diretor deve ser exaltado por essa construção, Greice (2024) é um filme sobre uma personagem contraditória, de caráter duvidoso, que utiliza a mentira para alcançar seus objetivos e que, apesar de tudo, em vez de provocar repulsa, gera empatia. Isso se dá porque o longa trata de uma personagem profundamente humana, com defeitos, mas que é apenas uma jovem do nordeste brasileiro lutando por uma vida melhor longe de casa. E, se ela mente, é para garantir sua permanência estudantil, usufruir de um lazer inacessível à sua condição financeira ou até se livrar de um namorado tóxico.
A dualidade entre Brasil e Portugal serve de pano de fundo para o desenvolvimento da trama, que consegue demonstrar a situação dos estudantes estrangeiros no país, ao mesmo tempo que aborda temas enraizados em nossa sociedade, heranças diretas da colonização portuguesa. A relação entre Greice e Afonso ilustra essa dinâmica: ela, negra e nordestina, tem Lisboa como um território hostil, onde encontra suas maiores dores de cabeça, simbolizadas no novo namorado, que usurpa a herança de seus irmãos brasileiros.
Ao se dar conta desse acontecimento, a brasileira o confronta, e é justamente dessa indisposição do colonizado frente ao colonizador, que surge o ponto de partida de todos os problemas enfrentados pela personagem no longa. Soma-se a isso seu próprio temperamento desmedido, que encontrará, de volta à sua terra natal, as forças necessárias para enfrentar a pungência portuguesa sobre sua mera existência.
Greice (2024) respira a juventude brasileira atual, diversa e fervorosa na busca de sua identidade, enquanto lida tanto com as dificuldades cotidianas da vida quanto com aquelas mais profundas, herdadas de um passado histórico inescapável, marcado por uma dualidade luso-brasileira.