CRÍTICA | O Monstro da Lagoa Negra (1954), Jack Arnold

Por Gustavo Ramos Ribeiro

Redação RUA

O Monstro da Lagoa Negra é um clássico do cinema de terror desde a sua estreia em 1954, definindo o que seria o monstro aquático e todo o medo que existiria nos pântanos, lagoas escuras e florestas tropicais. A fantasia do monstro é uma das coisas mais impressionantes do filme, sendo um visual bem marcante e bonito, não necessariamente assustador nos dias atuais, mas pra época inconcebível. Com tons de verde musgo marcados mesmo no preto e branco da tela, a aparência humana e anfíbia, com guelras, nadadeiras e membranas, parecendo quase um ramo evolutivo semelhante ao nosso, tornam a construção estética desse monstro o ponto mais alto do filme. Suas partes mais interessantes, além da caracterização, são as cenas debaixo d’água, filmadas de forma bem dinâmica, deixando a lagoa negra mais mística e etérea, fazendo o público ganhar uma simpatia pelo monstro e pelo lugar, ao verem a criatura e Kay nadando pela lagoa, mas principalmente o monstro, nadando em voltas e rodopiando pela água.

Fora essas características, o filme deixa a desejar. Torna-se chato após o primeiro encontro do monstro com Kay Lawrence, visto que mais da metade do filme são cenas da criatura aparecendo perto do navio, matando ou quase matando um dos tripulantes e sendo espantado pelos cientistas, por luz, tiros ou qualquer outra manobra. Esses cientistas são personagens bem esquecíveis, sendo classificados como tropos. Kay é a mocinha em perigo que é salva por David, o herói principal e corajoso, ou por Mark, o mentor dela, um homem ganancioso que se redime da sua ambição ao salvar o restante e permitir que o barco Rita escape da lagoa. Nesse processo, ocorre a morte de Lucas, o capitão do navio, um brasileiro um tanto caricato, esperto e engraçado, e outros cientistas com papéis menos relevantes.

Algo que dá um gosto amargo na boca ao terminar o longa é como o segundo terço do filme dá a entender que a obra está criticando a exploração danosa e prejudicial ao ambiente. Isso porque o grupo, que foi até lá devido a pesquisa de um fóssil, invade a lagoa, envenena a água, mata os peixes que ali habitavam, atira na criatura nativa da lagoa com arpões, invade sua caverna e, por fim, mata a criatura. Em contrapartida, na chegada do grupo até a lagoa, o monstro hesita em atacar, retaliando apenas quando o grupo agride seu habitat. O título original do longa contribui para esse pensamento crítico, utilizando o termo “Creature of the Black Lagoon” ao invés de “Monster”. Porém, ao final do filme, a morte da criatura é tratada como um momento triunfante ao invés de uma tragédia e consequência dessa invasão, e em nenhum momento as atitudes prejudiciais ao ambiente são tratadas com a devida reflexão e crítica, servindo apenas como dispositivos para o plot avançar.

Terminando a experiência de forma bem meia boca, combinando com as formas repetitivas e fracas de causar medo ao público, junto de decisões que não dão em nada, permanecendo nessa narrativa cíclica e maçante até o final quando resolvem fazer tudo acontecer de uma vez e em pouco tempo: não passa ao teste do tempo. É tido como um clássico por algumas tecnicalidades que contribuem para uma experiência mais interessante, como as cenas debaixo da água, o visual da criatura e os seus cenários, mas mantém-se apenas no raso e entediante, de certa forma parecendo que fizeram um roteiro apressado e abandonaram todas as ideias boas no ato final.

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