CRÍTICA | Sabor da Vida (2015), Naomi Kawase

Sabor da vida é um filme de 2015, dirigido pela japonesa Naomi Kawase. A história contada é a de Sentaro, um homem adulto que cuida de uma loja de dorayaki nos arredores de Tokyo. Com alguns clientes mas sem grande sucesso, Sentaro é abordado por Tokue, uma mulher já idosa que diz que gostaria de trabalhar com ele no local. Apesar de inicialmente rejeitar a proposta, Sentaro muda de ideia após provar o anko (pasta doce de feijão vermelho) da Tokue.

A senhora tem, além de sua idade, uma visível deformação nas mãos, mas que não a impede de trabalhar na loja. Ela começa a fazer o anko para os dorayaki de Sentaro e, com isso, os doces começam a fazer sucesso. No entanto, quando tudo parecia ir bem, os clientes acabam descobrindo sobre a deformidade das mãos de Tokue. A senhora havia tido lepra quando jovem e, mesmo que já curada e sem nenhum risco para os clientes, o preconceito faz com que as vendas caiam totalmente.

Não há outra alternativa para Sentaro a não ser deixar que Tokue deixe o seu posto. Até porque, na verdade, ele não é o dono do lugar. Descobrimos que Sentaro está lá trabalhando para pagar uma dívida com uma família que o emprestou uma grande quantidade de dinheiro. Mesmo assim, Sentaro, junto de Wakana, uma colegial que sempre frequentava a loja, não abandonam Tokue. Eles a visitam quando descobrem que ela vive em um sanatório. Lá, Sentaro pede perdão por não conseguir protegê-la da maldade dos clientes, mas ela reforça que foi ótimo trabalhar lá pelo tempo que foi possível.

Tristemente, Tokue acaba morrendo de pneumonia alguns meses depois. Ela deixa para Sentaro o equipamento de fazer anko e uma gravação em fita para ele e Wakana. Isso parece ser o que faltava para que ele saísse da loja e começasse um negócio próprio, mostrando que ele conseguiu superar o problema que lhe afligia.

É muito evidente, ao longo do filme, o tema do preconceito. Essa talvez seja parte da lição mais óbvia que pode-se tirar do filme: o preconceito é burro, ele destrói sonhos e é mal para a sociedade. Aliás, sem Tokue, a qualidade dos doces pioram. Mas, além disso, o filme também nos dá um ensinamento sobre a forma como lidamos com as dificuldades. A obra passa, através da fita deixada por Tokue e da alegria que vemos em Sentaro com sua própria loja, uma mensagem de que devemos aprender a lidar com os problemas e viver bem apesar deles.

O importante, em Sabor da vida, é sempre aproveitar o momento. Da mesma forma que podemos dar uma pausa em meio a um dia péssimo para apreciar um doce bem feito que açucara a nossa vida, é muito importante saber sentir o sabor dos bons momentos que passamos em meio às dificuldades.

Por MURILO BRONZERI

Doutorando em Comunicação, Universidade Paulista

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