
Por Miguel Carreto Bica
Redação RUA
Após uma extensa espera desde o anúncio do filme de Wicked, era de se esperar que muitas expectativas seriam criadas para a adaptação cinematográfica do musical de Stephen Schwartz. Ainda, o longa de Jon M. Chu faz muito mais do que apenas traduzir a história de um meio narrativo para outro, a começar pelo fator mais gritante: a diferença de duração entre peça e filme.
Embora a divisão em 2 grandes atos fosse algo já existente na versão teatral da obra, e usualmente em muitas outras, a decisão de transformá-los em 2 filmes separados foi certamente uma decisão que só poderia ser aplicada no audiovisual. A duração prolongada da primeira parte em comparação com o Ato 1 permite que a história respire muito mais e faça adições tanto aos números musicais quanto às relações entre personagens, que agora compartilham muito mais momentos entre si. Essas inclusões, por mais que às vezes simples, contribuem enormemente para o desenvolvimento de arcos específicos, ou então para uma mera demonstração do elenco em seu mais puro elemento.
O elenco, inclusive, sendo (de forma nada surpreendente) um dos grandes destaques de Wicked. A escolha de pessoas com experiência em teatro musical transparece em cada fala e letra cantada, o que faz do filme inquestionável quando se trata dos vocais e entrega, coisa difícil de se ver em adaptações recentes, como Mean Girls (2024) ou então Cats (2019). Acima da escolha de pessoas experientes nessa arte, o elenco do filme se destaca por seus personagens particulares. É difícil sair da sala de cinema sem ter rido com a Galinda/Glinda de Ariana Grande ou se arrepiado com a performance de Cynthia Erivo como Elphaba Thropp, principalmente durante a música Defying Gravity, encaixes perfeitos tanto em questão das atuações individuais quanto na combinação de ambas, que fazem algo maior que a soma de suas partes.
As adições para as músicas já existentes fazem de cada número uma surpresa agradável para quem revisita a obra agora em novo formato, e, por mais que não haja novas canções, o ritmo do filme certamente compensa e equilibra todos os números de forma que isso não faz falta. Entretanto, a direção desses respectivos números musicais, e até mesmo do filme num geral, acaba por ser variável, indo de questionável a espetacular, principalmente em se tratando de escolhas relacionadas à fotografia. Como o plano em Dancing Through Life que ficou famoso por ter uma luz excessiva apontada para a câmera, coisa que se repete mais de uma vez.
Outra crítica comum ao filme é a sua paleta de cores, que parece monótona em muitos aspectos, ainda mais se tratando de um filme que se passe no mesmo universo vibrante de O Mágico de Oz (1939). Monotonia essa amenizada pela arte e efeitos visuais do filme, que deixam qualquer um boquiaberto a perceberem que são em sua maioria práticos, como o trem que leva Glinda e Elphaba para a Cidade das Esmeraldas.
Enquanto dura a intermissão de um ano até o lançamento da segunda parte, permeia a questão de como vão superar o espetáculo deste Ato 1, ou, então, se vão além dentro do Ato 2. Ainda que não se superem, Wicked se consolida como um exemplo a ser seguido quando se trata de adaptações de musicais, servindo de lição para escolhas de casting, design de produção e comprometimento com a narrativa original, isso enquanto aplica diversas mudanças bem vindas que destacam o filme do musical e permite que ambas as obras existam lado a lado.
REFERÊNCIAS:
WICKED: Parte Um. Direção de Jon M. Chu. EUA, 2024, 161 min., cor.