Por Camila Barbosa Marcelino*
Há que se pontuar uma vida extracorpórea ao filme, à película e sua materialidade, ao homem e sua imagem, para que se lance verdadeiramente à necessidade de compreendê-lo.
Em 1971, Akira Kurosawa, após o fracasso de bilheteria Dodeskaden, tentara o suicídio. Alguns relacionaram o ocaso a sua frustração e desapontamento frente às dificuldades de absorção por parte da cultura japonesa. Relevância é tratar tal informação aquém da teoria das eventualidades, e no que diz respeito a Dersu Uzala, abranger a conexão entre tais eventos transcendendo, até mesmo, as causalidades.
Dersu é um filme de transformação; do corpo integral e suas potências. Trata-se da história do militar russo Vladimir Arseniev, responsável pelo mapeamento topográfico da Sibéria, ao encontrar o caçador da tribo Goldi, Dersu Uzala. É da história do homem e do outro, do todo em confluência e do fragmento em diafaneidade. Trata-se da relação entre o homem e sua ferramenta de ação, pela qual sucumbe e ascende. E trata-se mesmo de desasujeitar-se em busca de si mesmo.
O embate entre o homem e o meio não conota um confronto entre forças desiguais, mas de volumes de forças que se deflagram em tempos distintos. O tempo da terra, do fluxo natural da ação, da ascese inevitável dos elementos; e o tempo do homem que constrói e edifica a sua imagem através de um acúmulo de vontades criativas. (Klonopin) E aí reside uma das distinções essenciais a que aventa o filme na sua sutileza. O homem é e não é natural. A perspectiva está no outro que lhe compõe.
Enquanto Dersu se revela como o homem natural que se inteira e se transforma no elemento do todo sem deixar de experenciá-lo integralmente, Arseniev é o homem que se dissocia para engendrar paralelamente outro universo. Campo que interage com o do homem natural, a usufruto do homem não-natural, mas desentende o corpo além da razão. O corpo sensível à realidade viva; sanguínea. O caçador é o homem do fluxo, da articulação, da composição visceral com o espaço; sua energia criativa é de circulação e renovação. O explorador, por sua vez, é o homem que acumula, agrupa, separa e denomina para assim criar. Sua criação sustenta-se em paradigmas.
A convivência desses homens provoca o deslumbramento de ambas as partes. Mas o tempo coligado ao espaço determina aquele que melhor se adapta. Enquanto o espaço fílmico se associa à natureza da terra, da água, do fogo e do ar, o homem que se entende a partir da sinédoque com o universo mostra-se condescendente às predileções do espaço, mesmo que em alguns momentos o meio se imponha reafirmando certa “superioridade” sobre ele. Já quando o ambiente a que se depara o espectador é o do homem não-natural, no sentido de que não se agrega de forma absoluta porque engendra sua própria natureza, nota-se o empecilho daquele que sendo in natura encontra ao vivenciar, principalmente, a disritmia urbana.
O que resta a Dersu, como o homem da origem primordial, é retornar à sua nascente percorrendo a morte como trajeto, ou, destituir-se de seu corpo sanguíneo e integrar-se à ode deste outro homem, o urbano.
Morte ressurectu: essa se torna sua decisão e, assim como o homem que constrói o filme fora do filme, o caçador supera a morte.
*Camila Barbosa Marcelino é graduanda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Dersu Uzala, filmes que assisti há tanto tempo e, agora, recentemente, veio-me a lembrança bonita dessa história tão comovente. Conversava com um amigo e comentei sobre Dersu Uza e ele, também, assistira ao filme e conhecia bem a história. Emocionei-me com essa história no tempo que assisti ao filme e, hoje, ainda me emociono ao lembrar dele e me dar conta de que toda a luta que se trava para preservação do meio ambiente, encontra nessa história os fundamentos mais autênticos.
Viu ao filme “SONHOS” do Akira Kurosawa e fiquei encantada, especialmente pela sua fotografia.
Hoje, enquanto aguardava uma reunião, foleei um jornal no qual havia sido postado um artigo de Leitor contando a história do Sabiá e o quintal de sua casa, onde pôs uma rede preguiçosa para ler.
Ao contar sua história, o autor do artigo se referiu ao filme “Dersu Uzala” e disse que depois que o assistiu, perdeu a coragem de matar até mesmo uma formiga.Fiquei curiosa!
A partir da busca pelo filme na internet li comentários hiperbacanas e gostaria muitissimo de assistir a este filme. O problema é onde encontrá-lo sem muito custo. Então, como conseguir uma cópia sem muito custo, respeitados os direitos autorais?. Algúem que ler esse comentário, por favor, me dê uma luz. Obrigada. TerezinhaSouto.
Dersu Uzala é um filme que, ao meu ver, além de mostrar as diferenças étnicas e raciais, mostra uma amizade verdadeira e bonita que está acima dessas diferenças. O filme laureado com o Oscar de melhor filme estrangeiro pela Academy Awards e dirigido brilhantemente pelo diretor Akira Kurosawa, mostra aos telespectadores, paisagens lindas e selvagens nas quatro estações da região, bem como os diálogos sábios entre Dersu e o capitão, ambos os personagens muito bem representados pelos seus intérpretes. Enfim, trata-se de um filme lindo, inteligente que mexe muito com todos nós, levando-nos a reflexão sobre a natureza e o ser humano. Vale a pena assistir! Um dos melhores filmes que já assisti!