Editorial

“Televisão é goma de mascar para os olhos”. Não se sabe ao certo quem foi o primeiro a proferir essas palavras, mas o fato é que o ditado serviu como perfeito epítome dos objetivos da televisão durante mais de meio século: o puro e simples entretenimento. Mas na virada do milênio algo começa a mudar e a televisão passa a reinvidicar o seu espaço como plataforma de potencial artístico.

Um dos marcos dessa mudança é a cultuada série Six Feet Under, exibida entre 2001 e 2005 pela HBO. Criada por Allan Ball, logo após o seu reconhecimento pelo roteiro do filme Beleza Americana, a série chamou a atenção pelo seu imenso primor técnico. Qualidade de cinema.

Ao longo dos anos 2000, a corrida pela audiência foi fazendo com quem essa qualidade das séries televisivas fosse aumentando em progressão geométrica. Em 2010 com a participação da minissérie Carlos, dirigida por Olivier Assayas, no festival de Cannes – o mais prestigiado evento de cinema do mundo –  as barreiras entre cinema e televisão foram rompidas de vez. O que define se uma obra audiovisual é cinema é o seu espaço de exibição? E como definir “espaço de exibição” em tempos em que consumimos cinema em telas de computadores e visores de celular? E não seria essa própria mudança no modo como consumimos essas produções um dos próprios fatores que aproximam as duas mídias?

Essas mudanças tem chamado a atenção até mesmo de grandes cineastas, como Matin Scorsese e Michael Mann. Embora a história da televisão apresente ao longo de sua trajetória alguns trabalhos de renomados diretores de cinema, como Alfred Hitchcock e David Lynch, nunca antes esse intercâmbio aconteceu com tamanha intensidade. Essas melhorias no tratamento de produções televisivas acaba se refletindo em outros países, até mesmo em lugares como o Brasil, onde a televisão sempre apresentou uma apelo popular maior do que o cinema. Novelas recentes, como Avenida Brasil e Cordel do Fogo Encantado, apresentaram forte influência de linguagem cinematográfica. O fato é que, na produção contemporânea, a televisão não deve em nada ao cinema, e não é mais encarada como uma plataforma inferior. E o ditado que abre esse editorial já configura uma espécie de anacronismo.

Tendo em vista esse inegável contexto de efervescência na produção televisiva mundial, acreditamos que é importante abrir espaço para discussão acerca desse formato. Sendo assim, dedicamos edição a esse debate, através de artigos, críticas e entrevistas que refletem sobre o formato de narrativas seriadas.

Henrique Rodrigues Marques

Editor Geral

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