Qual foi o último filme nacional que você assistiu?
Para destrinchar questões de exibição e distribuição no mercado cinematográfico brasileiro, a edição de Agosto da RUA lança essa pergunta. Também, faz-se um importante recurso para analisar a produção nacional contemporânea que tem alcançado números expressivos se comparado aos primeiros anos da década de 1990, quando órgãos estatais de financiamento e fiscalização foram extintos durante o governo Collor. Na última década, no entanto, com a criação da Agência Nacional de Cinema (Ancine), houve um considerável aumento no número de produções nacionais, tanto de longas quanto de curtas metragem. Mas garantir a produção, tão somente, é necessário para tornar o cinema brasileiro acessível à população? A resposta a essa pergunta, como bem sabemos, é negativa.
O cinema é um importante veículo para a disseminação ideológica. Depreende-se, portanto, que a ideologia capitalista e os países de centro exercem relação de predominância neste meio em diversas partes do globo. No mercado nacional, as grandes produções estrangeiras dominam as salas de exibição, deixando pouco ou nenhum espaço para produções aqui realizadas ou quaisquer outras que se projetem de maneira periférica ao domínio Hollywoodiano. Mecanismos oficiais que garantem uma exibição anual mínima de filmes nacionais, apesar de importantes, tem de lidar com a forte publicidade da grande produção estrangeira que indiscriminadamente esmaga o filme e, em consequência, o mercado cinematográfico brasileiro.
Faz-se necessário, porém, tecer considerações acerca de qual produto audiovisual nacional chega as telas brasileiras. Distante da produção independente, que tem sua circulação limitada aos festivais, os filmes que alcançam as salas comerciais de cinema o fazem porque suas produtoras estão também inseridas em uma lógica monopolista. Normalmente, tal produção audiovisual é uma extensão do produto televisivo, detentor de grande publicidade. O assunto torna-se mais delicado quando se fala de um mercado voltado ao curta metragem brasileiro que, simplesmente, inexiste. Essa produção, bastante atrelada ao meio universitário – devido, dentre outros fatores, a seu baixo custo de realização – tem sua veiculação restrita a mostras de cinema que costumeiramente acontecem em grandes centros urbanos.
E é para aprofundar essas informações, bem como lançar discussão sobre o mercado distribuidor e exibidor brasileiro que a RUA traz em suas seções, no mês de Agosto, material que versa acerca da produção audiovisual brasileira na atualidade. Os filmes, sua relação e integração com a sociedade, a produção de curtas metragem, quem os faz e, claro, seus consumidores ocupam posição de destaque nesta edição.
Lidiane Volpi
Editora