Especial Oscar 2012

Por Marcelo Félix*

Especial Oscar 2012 – Parte II


Com grandes homenagens ao cinema e à sua história, o Oscar 2012 não trouxe muitas surpresas, premiando com as principais estatuetas os favoritos A invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese e O Artista, de Michel Hazanavicius. Vencendo as categorias mais técnicas, dentre elas Fotografia, Efeitos Visuais e Direção de Arte, o primeiro se destacou pelo uso das tecnologias mais sofisticadas em 3D, arrebatando a audiência pelo apuro visual. Já o segundo conquistou a Academia por ser um grande tributo ao cinema mudo e à sua passagem para o sonoro, sendo agraciado com os prêmios de Melhor Filme, Diretor, Ator, Trilha Sonora e Figurino. Ambos ratificaram a nostalgia presente na premiação deste ano, além de referendar o cinema clássico americano.

Porém, nem o veterano apresentador Billy Crystal, nem a apresentação do Cirque du Soleil ou os depoimentos gravados de atores e cineastas durante a cerimônia conseguiram trazer um sopro de dinamismo e novidade à apresentação. Ficaram de fora as execuções das músicas indicadas ao Oscar de Melhor Canção, e sem nenhuma grande surpresa preparada, momentos cômicos ou mesmo discursos polêmicos, agilizaram a entrega dos prêmios buscando uma duração reduzida. Mesmo a premiação de Meryl Streep com o Oscar de Melhor Atriz no filme A Dama de Ferro foi menos surpreendente do que parte das homenagens feitas as figuras icônicas do cinema hollywoodiano.

No caso dos filmes vencedores, a emulação do primeiro período do cinema, por mais interessante que seja, não foi acompanhada por um roteiro tão bem desenvolvido como os aspectos técnicos, principalmente em Hugo. Já O Artista, apesar de sua bela e tocante homenagem, perde a oportunidade de se tornar um grande filme ao se manter preso às regras estabelecidas pela lógica do filme mudo, ainda que pontualmente a desafie. Torna-se pálido diante dos grandes clássicos para os quais pretende prestar um tributo. Ambos são pouco desafiadores em suas propostas narrativas ou dramáticas se compararmos, por exemplo, com os excelentes A Árvore da VidaMelancholia ou mesmo Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres.

Entretanto, algumas vitórias foram importantes para consagrar filmes quase esquecidos ou deixados em segundo plano, como Os Muppets, vencedor na categoria Melhor Canção, ou Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres, premiado com o Oscar de Melhor Montagem. Já o iraniano A Separação confirmou seu favoritismo para Melhor Filme Estrangeiro e se tornou um diferencial cinematográfico. Rango, também favorito, acabou com a hegemonia da Pixar nos últimos anos. Quanto aos roteiros, foram premiados merecidamente Os Descendentes como Melhor Roteiro Adaptado e Meia-Noite em Paris, de Wood Allen como Original.

Por fim, grandes atores como Meryl Streep e Christopher Plummer, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Toda Forma de Amor, dividiram espaço com novas promessas nas figuras de Octavia Spencer vencedora como Melhor Atriz Coadjuvante por Histórias Cruzadas e Jean Dujardin como Melhor Ator por O Artista. Atores que, embora tenham feito trabalhos interessantes, cumpriram com a cartilha de estereótipos da Academia de abrir espaço para atores ou atrizes negras, no caso de Spencer, o gosto por interpretações intensas de figuras conhecidas e polêmicas, no caso de Streep, ou simplesmente o galã dos filmes americanos antigos a lá Gene Kelly ou Douglas Fairbanks. Fechamos a premiação com um gosto nostálgico de tantas homenagens e famintos por novidades e inventividade.

Confira abaixo as críticas de mais alguns dos principais filmes indicados  ou premiados:

A Árvore da Vida (Terrence Malick, 2011), por Diego Paulino

Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Diretor e Fotografia. Vencedor da Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes.

A Invenção de Hugo Cabret (Martin Scorsese, 2011), por Marcelo Félix

Vencedor de Melhor Fotografia, Direção de Arte, Efeitos Visuais, Edição de Som e Mixagem de Som.

O Artista (Michel Hazanavicius, 2011), por Gabriel Ribeiro Alfredo

Vencedor do Oscar de Melhor Filme, Diretor, Fotografia, Figurino e Trilha Sonora. Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Comédia ou Musical.

Os Descendentes (Alexander Payne, 2011), por Thiago Jacot

Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e indicado a Melhor Filme, Ator e Montagem. Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Drama.

Especial Oscar 2012 – Parte I


A RUA traz neste especial uma seleção de críticas sobre os principais filmes indicados ao Oscar 2012. Nesta edição reunimos as críticas já publicadas e na próxima lançaremos outras contemplando os filmes mais esperados desta premiação.  Como sempre grandes filmes ficam de fora e outros considerados menores acabam ocupando espaço em diversas categorias. É importante lembrar logo de cara que o Oscar é uma premiação da A.M.P.A.S. (Academy of Motion Picture Art and Sciences) e, ainda que se pretenda internacional, seleciona em sua extensa maioria filmes de língua inglesa advindos de sua própria indústria de cinema. Dito isto não é de se estranhar a ausência de filmes mais ousados e autorais em favor de comédias e dramas, muitas vezes, de gosto questionável.

Ainda assim, à parte Cannes e outras poucas premiações, o Oscar é considerado uma das mais importantes celebrações da sétima arte. Além disso, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é composta por mais de seis mil membros dentre cineastas, técnicos, atores e outros profissionais da área, embora em sua maior parte americanos, que votam em todas as categorias. Isso pode até levar à injustiça, mas também é um parâmetro mais amplo e equitativo de seleção do que o Globo de Ouro, com menos de 100 jornalistas membros. Outra coisa importante são os estudos científicos na área cinematográfica e o reconhecimento dos pesquisadores e técnicos que se destacam criando e desenvolvendo tecnologias para este meio. Por fim, ainda existem os acervos de filmes e dados sobre a história do cinema, com grande importância histórica, que são preservados e divulgados pela Academia.

Chegamos então ao ano de 2012, mas lembremos de que os filmes selecionados estrearam em 2011 nos Estados Unidos, embora muitos deles só apareçam por aqui neste começo de ano. Assim uma lista de melhores filmes que estrearam no Brasil em 2011 pode ser bem diferente dos considerados os melhores do ano para o Oscar. E se analisarmos as premiações dos sindicatos (de atores, diretores, produtores e roteiristas) americanos teremos uma grande prévia do que podemos esperar da Academia. Normalmente os votantes são os mesmos, o que deixa algumas escolhas bem evidentes. E está claro também que a premiação serve de vitrine de seus maiores produtos, assim a entrega do Oscar também se pauta pelo entretenimento e pela festa para atrair seu público.

Vamos então aos indicados e aos nossos destaques. A lista completa de indicados pode ser vista aqui. Já as críticas publicadas na RUA seguem logo abaixo.

É importante destacar o que percebemos de mais interessante nos filmes indicados, as injustiças e as revelações. Em um ano no qual a Pixar deixou a desejar com Carros 2, tivemos uma bela surpresa com Rango (Gore Verbinsky, 2011), indicado a Melhor Animação, e também com As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne (Steven Spielberg, 2011), embora a Academia tenha ignorado este último segundo suas regras para a categoria. Fato é que tecnicamente ambas as produções esbanjaram qualidade técnica e são aventuras de tirar o fôlego. E ainda que muitos tenham gostado, a animação Rio (Carlos Saldanha, 2011) também ficou de fora, sua qualidade técnica não superou uma história que apela para as belezas do carnaval e da cidade maravilhosa em sua estrutura frágil e sem criatividade, recebendo apenas a indicação para Melhor Canção.

Um drama apelativo também foi a aposta de Steven Spielberg com o seu Cavalo de Guerra, tanto que passou do ponto se utilizando da fotografia, trilha e do som como muletas para levar o espectador às lágrimas e faturar várias indicações ao Oscar, inclusive melhor filme. Menos apelativo e mais inventivo foi Wood Allen que acertou a mão em Meia-Noite em Paris, conduzindo uma fantasia que perpassa as noites de Paris através do ponto de vista alucinado de seu personagem principal, que representa seu alter ego em trejeitos e pensamentos. Uma comédia divertida que conquistou o público e a crítica, levando assim mais uma indicação merecida a melhor filme e diretor para Allen.

Alguns filmes arriscados também tiveram seu espaço na premiação como A Árvore da Vida de Terence Malick e O Artista de Michel Hazanavicius, indicados a Melhor Filme e Melhor Diretor. No entanto, enquanto o primeiro, por um lado, venceu a Palma de Ouro em Cannes, por outro obteve comentários controversos. Já o segundo, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme na categoria Comédia ou Musical,  vem conquistando a audiência pela sua homenagem aos tempos de cinema mudo e aos grandes clássicos da sétima arte, como Cantando na Chuva e Cidadão Kane. Essa homenagem ao cinema também está presente em A Invenção de Hugo Cabret de Martin Scorsese, que traz referências a grandes clássicos do início cinema, principalmente a Méliès, conquistando assim várias indicações, inclusive Melhor Filme. Correndo por fora vem o longa Os Descendentes, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme na categoria Drama. Já o filme iraniano A Separação (Asghar Farhadi, 2011), vencedor do Globo de Ouro e indicado a Melhor Filme Estrangeiro, é o favorito para levar o Oscar nesta categoria. Enquanto isso o belíssimo Pina de Wim Wenders conquistou a indicação a Melhor Documentário.

Algumas injustiças sempre são cometidas e desta vez o longa Millennium – Os Homens que não Amavam as Mulheres ficou de fora da categoria de melhor filme, o que também aconteceu com seu excelente diretor David Fincher. O filme Melancholia de Lars von Trier foi completamente esquecido assim como Precisamos Falar sobre Kevin (Lynne Ramsay, 2011) e Shame, dentre outros. Deram lugar a filmes menores como Histórias Cruzadas de Tate Taylor e Tão Perto e Tão Forte de Stephen Daldry. O interessante Drive (Nicolas Winding Refn, 2011) foi indicado apenas a melhor Montagem de Som e Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte II (David Yates, 2011), não conseguiu chegar as categorias principais concorrendo a Efeitos Visuais, Maquiagem e Direção de Arte.

Na próxima edição mais comentários e críticas dos filmes indicados e a lista completa dos vencedores aqui na RUA.

Críticas inéditas:

A Separação (Asghar Farhadi, 2011 ) por Gabriel Dominato

Vencedor de Melhor Filme Estrangeiro e indicado a Melhor Roteiro Original.

Cavalo de Guerra (Steven Spielberg, 2011) por Thiago Jacot

Indicado a Melhor Filme, Fotografia, Direção de Arte, Trilha Sonora, Montagem de Som e Mixagem de Som.

Millenium – Os Homens que não Amavam as Mulheres (David Fincher, 2011) por Marco Sartori

Vencedor de Melhor Montagem e indicado a Melhor Atriz, Fotografia, Montagem de Som e Mixagem de Som.

Críticas já publicadas:

Drive (Nicolas Winding Refn, 2011) por Tatiana Carniato

Indicado a Melhor Montagem de Som.

Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte II (David Yates, 2011) por Alvaro André Zeini Cruz

Indicado a Melhores Efeitos Visuais, Maquiagem e Direção de Arte.

Meia-Noite em Paris (Woody Allen, 2011) por Natália Vestri

Indicado a Melhor Filme, Roteiro Original, Direção e Direção de Arte.

Pina (Wim Wenders, 2011) por Fabiana Ghiringhello

Indicado a Melhor Documentário.

Rango (Gore Verbinsky, 2011) por Arthur Souza Lobo Guzzo

Vencedor de Melhor Animação.

Rio (Carlos Saldanha, 2011) por Thiago Köche

Indicado a Melhor Canção.

*Marcelo Félix Moraes é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Estagiário da EPTV Central, além de Editor Assistente e Produtor do Videocast da RUA.

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