IX Forcine

Por Reciellen Cazarotto* e Fernanda Costa**

Forcine – Forum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual | IX Congresso

No dia 15 de Agosto de 2013, deu-se início ao IX congresso do Forcine, o Forum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual. Para receber essa edição do congresso, que tem como objetivo principal promover a discussão sobre o papel das escolas de cinema e audiovisual no país, foi escolhido o Instituto de Artes da Unicamp, que abriga o curso de Midialogia e a Pós-graduação de Multimeios, além de outros cursos da área das artes. Algumas instituições associadas estavam presentes, com maioria de escolas do sudeste e sul do país. De forma geral, percebe-se que o Forcine ou mesmo as escolas ainda não estão suficientemente articulados para que haja a expansão do congresso de modo a contemplar instituições de outras localidades do Brasil. Ainda assim, haviam representantes de universidades do Pará, Bahia e Goiás. Nota-se também a mínima presença de estudantes, mesmo aqueles do Instituto de Artes, que são parte fundamental do debate sobre os caminhos do ensino audiovisual do país. Entendemos que, por mais complexos e intensos que sejam os debates, os alunos devem ser incentivados a participar e a opinar sobre todos os assuntos.

“Um olhar prospectivo sobre a formação em cinema e audiovisual no Brasil: o que existe e para onde avançar”

Luciana Rodrigues, professora da FAAP e presidente em exercício do Forcine,  mediou a primeira mesa do congresso intitulada “Um olhar prospectivo sobre a formação em cinema e audiovisual no Brasil: o que existe e para onde avançar”. Pontuando a ausência ou mesmo uma  resposta, mais uma vez, do Ministério da Educação neste debate, sua fala inicial orbitou em torno da importância da realização deste congresso, do fomento à constante discussão sobre o ensino de cinema e audiovisual no país e da formação de um olhar crítico em torno dessas questões. Também estavam presentes o Diretor-Presidente da ANCINE, Manoel Rangel, e o Coordenador Geral de Fomento e Incentivo às Atividades Audiovisuais da Sav/Minc, Caio Julio Cesaro.

Ambos representantes dos orgãos públicos trouxeram a visão de cada uma das instituições sobre o que está sendo feito e pensado em termos de política pública para a produção brasileira. A intenção era apresentar ações que, de alguma forma, vão de encontro aos interesses das escolas de cinema e audiovisual do país. Nesse sentido, foram apresentadas algumas políticas que já estão em curso e algumas que ainda serão implementadas, como o PRODAV, Programa de Apoio Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro, que será lançado, segundo Manoel Rangel, ainda no segundo semestre de 2013. Segundo o diretor-presidente da ANCINE, o foco principal dessas políticas e do PRODAV, mais especificamente, é na formação dramatúrgica e na gestão de negócios. Para isso  estão sendo pensados cursos de formação técnica focados nessas duas áreas. Para Rangel, as escolas precisam investir na formação técnica de seus estudantes, incentivando a inserção do cotidiano do mercado audiovisual brasileiro dentro dos cursos, ou seja, para ele é necessário que haja um maior estreitamento na relação entre ensino e mercado , afim de que as escolas formem profissionais qualificados para atender as demandas.

Caio Julio Cesar, representante da Sav, por sua vez, destacou também a importância do investimento em atividades que visam o desenvolvimento da área dramatúrgica. Nesse sentido, a secretaria está preparando um curso de dramaturgia voltado para a produção da escrita seriada. O curso contará com aulas virtuais e tutoriais, além das aulas presenciais, expandindo assim o aproveitamento do conteúdo à estudantes de outros cursos, para além daqueles que participarão. Caio também ressaltou a experiência com os Núcleos de Produção Digital (NPD), que já estão em atividade em algumas cidades do país e que estão em processo de expansão para outras. O representante da Sav evidenciou a importância de se criar uma aproximação entre os NPD’s e as universidades,para que a produção dessa escolas possa encontrar um apoio nesses núcleos. Por fim, Caio mencionou o espaço da Programadora Brasil e como esse espaço não está sendo utilizado pelas escolas como canal para divulgação de suas produções. Apontou-se como principal motivo desse desuso o desconhecimento da programadora por parte das escolas, sendo nítida a necessidade de uma divulgação mais efetiva para que os resultados desejados sejam de fato alcançados.

Em ambas as falas, percebe-se uma visão voltada para a produção e realização do cinema e audiovisual, ou seja, as duas deixaram transparecer a importância que esses dois orgãos dão a formação técnica e profissional do jovem estudante da área. Em nenhum momento foi demonstrada, por nenhum dos dois, uma preocupação com o desenvolvimento da formação humana e teórica do egresso das escolas de cinema e audiovisual.

Ainda assim, o que se percebeu em seguida, com as apresentações dos Projetos Pedagógicos dos cursos que estavam presentes, foi uma mistura dessas duas demandas. Existe, de forma generalizada, uma busca pela especialização dos cursos, ou seja, há um interesse comum entre as universidades de formar profissionais mais especializados para o mercado brasileiro. Há, portanto, uma mudança constante nas grades dos cursos para contemplar a formação técnica e profissional do estudante. A Universidade de São Paulo, por exemplo, recentemente diminuiu sua carga de horas/aula por semana para que o aluno tenha tempo para produzir durante o período do curso. Outras universidades, como a Federal de Pelotas e a própria USP, apostam na horizontalidade e integração das disciplinas, ou seja, tais cursos valorizam a relação e o diálogo entre professores afim de que um único projeto possa ser desenvolvido e acompanhado por todos, com isso os estudantes têm mais tempo hábil para as realizações, que se concluem com qualidade comprovadamente mais elevada.

Por outro lado, a grande maioria dos cursos também apresenta espaços em suas grades para disciplinas de caráter humanístico, artístico e cultural. Matérias como Antropologia, Análise de Imagem, Semiótica, Estética, Iconologia, entre outras, são ofertadas por algumas instituições com o intuito de contrapor o conteúdo mais técnico voltado para a formação específica do aluno, de forma a valorizar não somente a especialização do egresso, mas também a sua formação teórico-humanística.

Notam-se ainda algumas iniciativas que contemplam também a área de exibição e formação crítica do aluno. Algumas das escolas presentes apresentam em suas grades festivais internos para incentivar a discussão dos estudantes sobre a sua própria criação. É o caso do Festival PUC de Cinema, promovido pela PUC-RJ, e o Filmworks Film Festival, da Academia Internacional de Cinema, que além de promover o debate, também premia os melhores curtas com serviços audiovisuais.

 Grupos de trabalho e discussão

Além da mesa de abertura e das apresentações das instituições filiadas ao FORCINE, a programação contou ainda com reuniões de grupos de trabalho de acordo com os eixos estipulados nas Diretrizes Curriculares do próprio Forcine. Os eixos são: Técnica e formação profissional e licenciatura; Realização em cinema e audiovisual; Teoria, análise e crítica do cinema e do audiovisual: graduação e pós-graduação; e Preservação, economia e política do cinema e do audiovisual. Os grupos foram formados de acordo com o interesse e a necessidade de cada instituição. Como os debates eram simultâneos, a última diretriz não obteve quórum suficiente para sua realização, então decidiu-se por inserí-la ao debate da primeira diretriz. Durante os GTs foram formuladas propostas para deliberação na plenária final, englobando todos os eixos de atuação.

Inicialmente, no GT de Realização em Cinema e Audiovisual, cada representante apresentou dados sobre infraestrutura, problemas enfrentados durante as realizações, quantidade de alunos e números de produção semestral de seu respectivo curso. Durante essa conversa, constatou-se inúmeras semelhanças e dificuldades enfrentadas pela maioria. A partir disso, formaram-se propostas a serem levadas à plenária final. Entre as propostas temos a necessidade de vínculo entre professor e mercado, não mais só dedicação exclusiva ao ensino; ações de fomento mais efetivas por parte da ANCINE; aproximação entre o FORCINE e a SAV; maior espaço na ABTU, Associação Brasileira de Tvs Universitárias; realizações de reuniões pedagógicas entre o corpo docente, para que haja de fato maior integração entre as disciplinas; e, por fim, o indicativo de que os professores devem assistir todos os filmes produzidos por seus alunos. Todas estas resoluções foram aprovadas na plenária final.

No GT de Teoria, análise e crítica do cinema e do audiovisual: graduação e pós-graduação ressaltou-se, de forma geral, a importância das disciplinas de conteúdos históricos, téoricos e de análise. A análise crítica, a história e os estudos teóricos e estéticos formadores do tripé em ensino audiovisual foram amplamente discutidos em virtude de sua evidente perda de espaço na grade de cursos de algumas instituições. Os professores seguiram dando atenção especial a fragilidade dos alunos em realizar análises  críticas, seja em suas próprias produções audiovisuais ou em debates acerca de outras filmografias. Discutiu-se também como poderia haver uma ligação maior entre pós-graduação e graduação e a importância da existência dessa ligação, para ambas as partes. Foram levantados alguns exemplos de iniciativas que poderiam trabalhar essa ligação. Ambas as propostas foram votadas na plenária como idéias a serem sugeridas às escolas de cinema do país.

O IX Forcine terminou um dia mais cedo, às pressas, com uma clara sensação: a falta dos alunos em um evento como esse evidenciou como essa discussão ainda é incipiente ou, em muitos casos, inexistente entre os estudantes de cinema do país. Torna-se latente a participação, não só em espaços como esse, mas principalmente em espaços próprios para o debate universitário acerca das questões que envolvem problemáticas em torno da educação do cinema e audiovisual no Brasil. Fica claro também a falta de interação entre corpo docente e estudantes, a não presença dos alunos no Forcine demonstra que uma discussão em torno da educação que envolve diretamente o ensino, a profissionalização e o mercado de trabalho do e para o egresso não contempla a opinião e o envolvimento desse estudantes.

Talvez aproveitar-se dos espaços já conquistados pelos estudantes, como a Semana Universitária do Audiovisual, que esse ano já chega à sua sétima edição, seja uma saída. Outra evidente, é a participação sistemática do Forcine e todos os outros espaços de debate. Espaços como esses não podem ser esvaziados ou esquecidos.

*Reciellen Cazarotto é estudante de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

**Fernanda Costa é estudante de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Editora da Revista Universitária do Audiovisual.

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