Em dezembro a edição nº 67 da RUA traz a proposta de retomarmos o ano de 2013 e relembrarmos alguns de seus acontecimentos. Uma retrospectiva cheia de super-heróis, blockbusters e semelhantes pode ser encontrada facilmente com um rápido google. A seção Argumento, no entanto, se propõe a relembrar 2013 a partir de um olhar mais alternativo e, quando possível, crítico, destacando circuitos de festivais e o cinema nacional, num ano em que “os filmes brasileiros cruzaram a marca dos 25 milhões de espectadores até o fim de novembro, patamar que já assegura 2013 como o ano de maior público para o cinema nacional desde a Retomada.”
Por Jéssica Agostinho (com o apoio de toda a equipe da RUA)*
JANEIRO
Logo no início do ano já somos inseridos na temporada das grandes premiações, ou, poderíamos dizer, das “premiações do cinema mainstream”. Priorizando o lobby e influência em detrimento de uma avaliação cinematograficamente séria, em Janeiro soubemos os nomes que concorreriam ao Oscar e também assistimos ao Globo de Ouro, em sua 70ª edição. As premiações para Argo (2012, EUA) em “Melhor Filme – Drama” e “Melhor Direção”, para Daniel Day-Lewis com “Melhor Ator” (em Lincoln), para Quentin Tarantino, com Django Livre, em “Melhor Roteiro”, entre outras, já davam o tom das premiações que viriam a concretizar-se no mês seguinte, durante o 85º Oscar.
Do alto da prepotência do cinema dominante, que premia o cinema estrangeiro – uma categoria à parte, como parece – , No (2012, Chile), filme que trata de um período específico da ditadura chilena, é o único longa sul americano a ser indicado. Outro indicado da categoria, Amour (2012, França) é lançado no Brasil. Outros lançamentos importantes que poderiam ser citados são Django Livre (2012, EUA) e, comercialmente, O Som ao Redor (2012, Brasil), filme nacional de destaque do ano.
No circuito mais alternativo brasileiro, tivemos a 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que tinha como temática o “’Fora de Centro’ – contemplando as cinematografias brasileiras que fossem feitas distantes do eixo Rio-São Paulo” e como homenageada a atriz Simone Spoladore. Sobre isso, a RUA publicou um texto-carta, escrito por Alexander Aguiar, que pode ser acessado aqui.
FEVEREIRO
Mais uma contradição da indústria cinematográfica dominante é evidenciada durante o 85º Oscar. Mais de 500 VFX artists (profissionais dos efeitos visuais) realizam um protesto por melhores condições de trabalho¹, em um contexto cinematográfico no qual a função dos efeitos visuais não passa despercebida em filmes como O Hobbit, As Aventuras de PI, Os Vingadores, entre outros. A Rhythm & Hues, mesmo com seu trabalho em destaque no Oscar, abre pedido de falência.
As premiações, no geral, não impressionaram, sendo Argo o ganhador do maior prêmio, ainda que sua relevância linguística possa ser bastante questionada. A categoria de Melhor Atriz trouxe algumas curiosidades, como a concorrente mais jovem da história, Quvenzhané Wallis, com apenas 9 anos, ao lado da concorrente de mais idade já indicada, Emmanuelle Riva, com 85 anos. No entanto nenhuma delas fora a escolhida como melhor atriz do ano, tendo o prêmio ido para Jennifer Lawrence, outra escolha bastante questionável, dada sua participação pouco singular em O Lado Bom da Vida.
Em fevereiro também ocorreu o 63º Festival Internacional de Cinema de Berlin, sendo o ganhador do Urso de Ouro o filme romeno Instinto Materno (Pozitia copilului, 2013). O Brasil participou do Festival com os filmes Flores Raras (anteriormente chamado de “Você Nunca Disse Eu Te Amo”), de Bruno Barreto e o documentário Hélio Oiticica, de Cesar Oiticica Filho.
MARÇO
A Caça, de Thomas Vinterberg (criador do movimento Dogma 95 juntamente com Lars Von Trier) é lançado no Brasil. O ator Mads Mikkelsen foi premiado em 2012 no Festival de Cannes por sua atuação. Filme foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro de 2014.
Março também iniciou a 12ª Mostra do Filme Livre, festival que exibe filmes independentes feitos sem apoio estatal e que ocorre nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Os vencedores podem ser acessados aqui.
ABRIL
Em abril ocorre a 18ª edição do festival internacional de documentários É Tudo Verdade. Alguns dos filmes premiados são A Máquina que Faz Tudo Sumir, de Tinatin Gurchiani; Uma História para os Modlin, de Sergio Oksman e Mataram Meu Irmão, de Cristiano Burlan. O restante dos premiados pode ser conferido aqui.
Lançamentos relevantes do período são O Abismo Prateado, de Karim Aïnouz e Uma História de Amor e Fúria, de Luiz Bolognesi.
MAIO
Em maio o Festival de Cannes chegou à sua 66ª edição. A abertura contou com o filme O Grande Gatsby (2013, EUA), de Baz Lurhmann e o festival trouxe nomes como Roman Polanski (Venus In Fur), irmãos Coen (Inside Llewyn Davis), Steven Soderbergh (Behind The Candelabra). Sem participações brasileiras, Heli, de Amat Escalante, é o único filme latinoamericano a ser indicado, que levou o prêmio de melhor diretor. A Palma de Ouro foi para Azul é a cor mais quente (La vie d’Adele, 2013, Tunísia), de Abdellatif Kechiche.
Em um contexto local ocorre a 13ª Semana da Imagem e Som, trazendo a temática das narrativas de viagem no audiovisual, que contou com a cobertura da RUA. Acesse os textos clicando aqui.
JUNHO
Em Junho a RUA completa 5 anos de existência e lança uma reformulação de seu funcionamento e conteúdo. Durante o bate papo sobre “Cinema Universitário, Exercício Crítico e Política do Audiovisual”, com a participação de Eduardo Valente, a nova edição é lançada ao ar.
JULHO
Em Julho o país assistiu ao florescimento de manifestações singulares e de grande aderência. O campo do audiovisual tem importância nesse processo e foi tema da edição de Julho da RUA, uma vez que a democratização da mídia foi uma das grandes pautas levantadas e foi primordialmente através dos meios alternativos de comunicação que os fatos sobre o movimento eram noticiados.
No mesmo mês o FEMINA – Festival Internacional de Cinema Feminino chega à sua 10ª edição. O Festival traz filmes que debatam questões de gênero e que sejam feitos por mulheres, incentivando a entrada no mercado de trabalho de um meio majoritariamente masculino.
AGOSTO
O mês trouxe alguns importantes festivais de cinema, como o 41º Festival de Cinema de Gramado e o 70º Festival de Veneza. Em Gramado o premiado como melhor longa-metragem foi Tatuagem, de Hilton Lacerda, filme que traz a temática do final da ditadura militar e a relação entre um agitador anarquista e um jovem soldado. Outros premiados de destaque são A bruta flor do querer, de Andradina Azevedo e Dida Andrade (prêmio de melhor direção), Primeiro dia deum ano qualquer, de Domingos Oliveira (melhor roteiro), Éden, de Bruno Safadi (melhor atriz para Leandra Leal) e Acalanto, de Arturo Sabóia, que levou 5 prêmios na categoria de curta-metragem.
Em Veneza o Leão de Ouro foi para o documentário italiano Sacro Gra, de Gianfranco Rosi. Jiaoyou, de Tsai Ming-Liang levou o Grande Prêmio do Júri e Miss Violence, Alexandros Avranas, o Leão de Prata, para o melhor realizador.
SETEMBRO
Em setembro se inicia o Festival do Rio 2013. Os vencedores do prêmio de Melhor Filme foram De Menor, de Caru Alves de Souza, e O Lobo atrás da Porta, de Fernando Coimbra. No entanto, Tatuagem, de Hilton Lacerda, foi consagrado e premiado em 5 categorias, inclusive Melhor Filme pelo voto popular. O site do festival também destaca Blue Jasmine, de Woody Allen, como o filme mais procurado durante o evento.
Em 29 de setembro, o último capítulo de Breaking Bad vai ao ar. A série é considerada pela crítica como uma das melhores de todos os tempos.
OUTUBRO
A 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo premiou Lições de harmonia, de Emir Baigazin, como Melhor Filme e o público assinalou Até que a Sbórnia nos separe, de Otto Guerra e Ennio Torresan Jr., como o melhor filme brasileiro de ficção. No mesmo mês, Gravidade, de Alfonso Cuarón, é lançado.
A RUA, em outubro, publica o Dossiê #14, sobre as Questões de Gênero e Sexualidade no Audiovisual, que pode ser acessado aqui.
NOVEMBRO
No contexto universitário, em novembro acontece a 7ª edição da Semana Universitária do Audiovisual, com a temática sobre o Processo e o Produto no meio de produção audiovisual. A RUA esteve presente e publicou uma cobertura diária do evento, dando destaque para as deliberações no Fórum de conclusão da VII SUA.
Em novembro também ocorre o ArtRave, concerto de lançamento do álbum ARTPOP, da cantora Lady GaGa. A nova fase da artista une músicas às artes visuais, da pintura à moda, passando pelo vídeo, pela fotografia e pela performance, entre outros. Além de apresentar suas músicas, Lady GaGa introduziu os novos trabalhos de Maria Abramovic, Jeff Koons, entre outros artistas.
No terreno dos videoclipes, Pharrel Williams lança clipe com 24 horas de duração.
Lançamento importante do período é 12 Years a Slave, filme de Steve McQueen (Shame), um dos principais favoritos para premiações em 2014.
DEZEMBRO
Dezembro marcou a volta do Festival de Cinema de Paulínia, ainda que em uma versão menor e mais “enxuta”, sem as grandes premiações. O festival havia sido cancelado repentinamente, em 2012, para a contenção de despesas no município. Outra surpresa foi o lançamento do “álbum visual”, de Beyonce, com 17 videoclipes. E, seguindo a linha dos lançamentos, O Lobo de Wall Stret, de Martin Scorsese, será lançado no dia 25. É o filme mais longo da carreira de Scorsese, com 2h59m, um minuto a mais que os 178 de Cassino, de 1995. É a quinta parceria entre o diretor e Leonardo DiCaprio.
É em dezembro também que se iniciam as conjecturas sobre as importantes premiações de todo início de ano. A lista de indicados para o Globo de Ouro já pode ser conferida.
* Jéssica Agostinho é estudante de Imagem e Som na UFSCar e editora da RUA.