A Pixar, em sua mais nova colaboração à Walt Disney Pictures, revive Toy Story, um dos desenhos que marcaram o fim dos anos noventa, em uma terceira e provável conclusiva história, tornando a franquia em mais uma das trilogias cinematográficas de sucesso.
Porém antes de falar do filme em si, é importante comentar sobre o curta metragem que o precede. Já é uma marca registrada do estúdio de animação, que possui como principal acionista Steve Jobs, conhecido pela chefia da empresa de computadores Apple, a inserção de um curta metragem de animação antes da apresentação de um longa. Funcionou muito bem com Presto (na exibição do filme Wall-E em 2008), com Parcialmente Nublado (mostrado antes de UP – Altas aventuras em 2009) e agora com Dia e Noite, dirigido por Teddy Newton.
Tem relevância, principalmente por mostrar a maestria que os criadores do estúdio estão tendo na composição tanto de enredo quanto de animação, ao mesclar o 2D dos personagens, mostrados em um traço típico da Disney, servindo de moldura para apresentação do 3D que compõem a diferença entre eles, em um enredo simples mas com grande apelo reflexivo e emocional. Analogamente, Toy Story era uma animação com elaborada arte gráfica em duas dimensões que possuía grande apelo emocional e reflexivo, porém que agora, em sua terceira parte foi produzida dentro do formato que tem dominado o mercado, o 3D. Trazendo, então, um grande desafio de conquistar não só o publico formado pela história em suas edições anteriores como o novo publico que está vindo agora.
Neste sentido, pode parecer um pouco difícil para o novo publico entender os 10 primeiros minutos do filme, onde ocorre uma seqüência cheia de ação encenada por Woody, Buzz e todos os outros personagens que para o publico antigo já estão cativos em seu imaginário. Porém, no desenrolar do filme isso é sanado com a apresentação de uma história completa e sem muitos ganchos com os filmes anteriores, apenas no final. Neste começo também fica expostas os eixos principais do filme, quando é apresentado que a seqüência inicial não passava da imaginação de Andy quando criança, dono dos brinquedos e agora um personagem muito mais importante no enredo, já que no fim ele não é tão passivo quanto nos anteriores.
O enredo se aproveita, também, deste publico antigo ao utilizar os temas da memória e da passagem do tempo, ao mostrar um Andy crescido, indo para a universidade e decidindo o que fazer com os seus brinquedos, que foram parte tão importante de sua vida como criança. A partir dai o filme se aproxima muito do que vimos no primeiro. Uma séria de eventos acabam por separar Woody e os outros de seu dono, porém, que agora, achando que iriam ser jogados fora, decidem procurar um novo destino, sendo doados para uma creche de crianças. Cabendo novamente a Woody se manter firme, mesmo que desacreditado, na iniciativa de voltar para casa, ainda que seja para ficar no sótão.
Vemos então aspectos de roteiro muito clássicos em seu desenvolvimento. Como, por exemplo, o uso de diversos pontos de virada (reviravoltas na estória); a criação de um antagonista e a exploração de novos personagens, como urso Lotso e todos os outros brinquedos da creche; um grande desafio a ser passado, que leva ao crescimento das personagens, como ocorre com Jessie, apresentada no segundo filme, Buzz, que novamente passa por uma mudança de caráter em uma das seqüências mais engraçadas do filme, mas principalmente Woody que se torna o personagem principal e o verdadeiro herói da história, porém sem cair na mesmice.
No sentido estético o filme segue o padrão dos anteriores, e consequentemente o da Pixar, ou seja, é criado o desenho, transformado em um padrão com dimensão, imposto detalhes de textura e cor e por fim emprega-se a iluminação; mas com uma grande diferença, foi todo produzido no formato 3D, sendo o primeiro filme da Disney/Pixar a ser lançado no IMAX. Já que Alice no pais das maravilhas, de Tim Burton, era apenas da Disney .
Sendo em três dimensões, explora muito a chamada Paralaxe positiva, quando as figuras em segundo plano dão a impressão de estarem para dentro da tela, dando a noção de profundidade; Com diversos Planos abertos e conjuntos, onde Woody observa a amplitude dos locais por onde as ações irão ocorrer. Também, abusa de cenas de maior ação, com pulos, vôos, quedas, lutas e danças entre os brinquedos, em um nível muito mais elevado que dos dois filmes anteriores, deixando até uma duvida sobre qual seria a prioridade do filme. Contudo, o diretor Lee Unkrich, utiliza a terceira dimensão de um aspecto sutil, juntamente com a trilha sonora e a composição dos personagens, para dar às cenas dramáticas, emotivas ou com algum tipo de ensinamento, um tom muito novo e especial, (como na maravilhosa cena final onde podemos ouvir os suspiros e barulhos de choro vindos dos espectadores) mais intenso, que só vendo o filme para entender.
No geral, Toy Story 3 cumpre muito bem seu papel, retomando a formula de sucesso das historias anteriores, desenvolvendo-a com a nova tecnologia e mantendo o padrão de qualidade que a Pixar, e agora a Disney, vem oferecendo. Mas, talvez, o que é de maior importância em filmes como este, é que as crianças de hoje tem onde encontrar obras audiovisuais de qualidade, com conteúdo modulado para nova geração, com um aspecto educativo e formador de caráter mais inteligente e menos ingênuo, mas que não se esquece que ainda é para crianças, e quanto pode ser bom para elas desenvolver a imaginação através do brincar, com brinquedos simples, já que elas estão imersas cada vez mais cedo no mundo digital.
Trailer:
Gabriel Ribeiro é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)