Transformers: A Vingança dos Derrotados (Michael Bay, 2009)

Seria tremendamente insensato exigir plausibilidade de um filme blockbuster como ‘Transformers: A Vingança dos Derrotados’, já que ele se apoia basicamente na ideia de robôs alienígenas em busca de um artefato místico escondido nas pirâmides do Egito. Tampouco se deve julgá-lo justamente pelo o que ele não procura ser. É um filme que visa unicamente o divertimento do grande público e o lucro dos estúdios (e lojas de brinquedos) que nele investiram, com uma mensagem simplista, sem grandes moralismos, puramente buscando ação, humor e romance.

Porém, não é insensato exigir coerência interna de um filme que se propõe como um filme palatável para as famílias. E é nesse ponto que ‘Transformers: A Vingança dos Derrotados’ demonstra sua fragilidade, falhando até mesmo como um filme passável de férias. O filme ignora solenemente regras estabelecidas pelo roteiro atual e pelo primeiro filme da franquia em detrimento da fluidez da narrativa. Até mesmo a continuidade entre as cenas é negada de forma gritante, tendo robôs participando de batalhas em dois lugares ao mesmo tempo e um artefato místico que muda de tamanho conforme pula das mãos de um robô gigante para um adolescente humano.

É o espetáculo do efêmero, no qual regras pré-estabelecidas minutos antes são ignoradas em prol da ação, personagens agem sem lógica simplesmente para protagonizar perseguições inócuas e as batalhas em CGI são tão confusas e caóticas – um monte de ferro se batendo, sendo praticamente impossível diferenciar um robô do outro – que não se faz ideia do que está acontecendo durante o filme todo. A câmera lenta é utilizada didaticamente, talvez como forma de ajudar o espectador a discernir um robô do outro, porém sem sucesso. O caos visual é tremendo, e só se tem certeza do arremate de uma batalha quando um robô se levanta vivo e outro jaz morto. Ou quebrado.

A impressão transmitida é que as mãos do mágico estão sempre visíveis; o diretor Michael Bay e os roteiristas parecem manipular seus personagens como marionetes, costurando uma cena de ação após a outra com uma frágil linha narrativa, consistindo basicamente de robôs se espancando e tudo explodindo em cena. Os trechos expositivos do roteiro, para anunciar a próxima grande cena de ação, se mesclam com momentos de humor juvenil desencontrados, que caberiam perfeitamente em um filme como ‘Debi & Lóide’ ou ‘American Pie’, mas neste filme soam constrangedores, como ver um robô trepando na perna da heroína feito um cachorro, ou ter um robô gigante com duas bolas de demolição no lugar de testículos, sendo esse seu ponto fraco.

Michael Bay parece direcionar seu filme unicamente ao público adolescente, com uma exploração misógina da figura feminina e núcleos dramáticos imaturos, como o heroi se recusando a dizer para sua namorada de anos que a ama. Ignorando continuidade e lógica interna, com um fio narrativo previsível amarrando tudo apenas para fazer as coisas explodirem em busca de um clímax crescente, e tão abarrotado de informação visual e reviravoltas inócuas, talvez Bay acredite que seu público é tão acostumado com a avalanche de informações e hormônios que mal notarão os desencontros dentro do seu filme, sendo que ‘Transformers: A Vingança dos Derrotados’ é um passatempo tão efêmero quanto o último vídeo viral que foi compartilhado pelos jovens no YouTube.

Se assim for, parece falar com um novo público em formação, uma nova espectatorialidade que se configura com o advento das mídias digitais e o subseqüente avanço cognitivo desse público e pode ser, então, que Michael Bay seja um cineasta a frente de seu tempo. Mas não acredito que esse público seja tão burro quanto o diretor parece crer que seja.

Roger Mestriner é mestrando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Author Image

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

More Posts

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

Este post tem 2 comentários

  1. Author Image
    Felipe

    Olá Roger,

    assisti somente ao primeiro Transformers e me pareceu divertido, bobo, mas divertido.
    Acho que sua conclusão me parece um pouco maniqueísta. É sabido que franquias tem grandes problemas considerando fluidez e desenvolvimentos narrativos e dizer que esse tipo de filme é o futuro das mídias digitais é bastante exagerado, se não sem grandes justificativas. As novas mídias digitais são a maior possibilidade de desenvolvimento de cultura de ponta com baixo orçamento e para públicos mais direcionados. Considero que Bay erra tremendamente ao subestimar os jovens que cada vez mais se envolvem na produção e no consumo de novas mídias.

  2. Author Image
    Roger Mestriner

    Olá Felipe,
    minha conclusão é a mesma que a sua à respeito de Transformers 2 e das mídias digitais. Michael Bay realmente subestima seu público e tentei ser irônico ao dizer que filmes como esse são o futuro das mídias digitais.
    O primeiro filme da franquia é bacana, mas esse último me irritou mais do que divertiu. Hoje descobri que o filme foi vítima da greve dos roteiristas; Michael Bay filmou algumas cenas durante a greve e, depois de encerrada as gravações e a greve, chamou os roteiristas pra costurar as cenas. Dá pra ver quais são as prioridades do sr. Bay em seus filmes, não?
    Abraços!

Deixe uma resposta