2ª Semana de Cinema da UFSC

O processo cinematográfico está além do saber-fazer. No mesmo patamar, o pensar fílmico é extremamente importante para qualquer obra, principalmente no atual contexto mundial, onde há tanta produção para pouco espaço. Sob essa preocupação, a 2ª Semana de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) constrói sua proposta de reflexão. Organizado entre os dias 17 a 22 de novembro e pelos alunos do curso de Cinema, o evento contou com diversas mesas de debate, palestras, mini-cursos e um ciclo de filmes muito interessante do diretor francês Alain Resnais.

Público lotou as sessões dos filmes de Resnais

Particularmente, não tinha muito conhecimento da cinematografia de Resnais, ou seja, apenas havia assistido “Hiroshima, mon amour” e o recente “Coeurs”. Assim, foi realmente muito interessante poder ver mais obras desse diretor tão renomado do cinema francês. E o mais impressionante foi que todas as cópias estavam em película, ou seja, sinônimo de qualidade incrível das imagens.

Porém, o que mais me intrigou foi a quantidade de público presente nas sessões. Realizados no Cineclube do CIC de Florianópolis, todas as sessões que fui estavam com lotação máxima. Normalmente, filmes europeus são vistos como “cults” ou de “difícil compreensão”, atraindo um público mais intelectualizado. Mesmo composto, realmente, por um público mais velho, o número de pessoas realmente me impressionou. Sem falar que a sala de cinema era uma arte a parte: cartazes de filmes antigos, cadeiras com nomes de diretores e o melhor: poltronas confortáveis!

Enquanto isso, nas dependências da UFSC…

Acompanhei todas as mesas de discussão realizadas no evento e, particularmente, gostei muito do que vi e ouvi. Realizadas no auditório do bloco B do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), as mesas buscaram abarcar todas as áreas de reflexão sobre o cenário do audiovisual, desde criação até divulgação e legislação. E percebi que havia mais pessoas de outros cursos do que do próprio curso de cinema. Notei alunos de letras, artes cênicas e tantos outros cursos que, aparentemente, não possui uma ligação tão profunda com o cinema. Mas nada impossibilita uma convergência entre essas áreas, não?

A primeira mesa começou por uma questão essencial para o cinema: a legislação e as políticas culturais brasileiras. Cheguei extremamente atrasado, mas pelo pouco que ouvi, percebo que nosso cenário, infelizmente, ainda é marcado por politicagem e por uma “desigualdade” de incentivos estatais: muitos recebem pouco e poucos recebem muito, infelizmente.

A segunda mesa, em minha opinião, foi a mais interessante de todas as mesas. Sob o tema “Teoria e Cinema Contemporâneos”, a mesa debateu, com um forte teor reflexivo, o cenário do cinema brasileiro atual. Falou-se desde o caráter do hibridismo marcante nas produções (mistura de estéticas – animação, fábula, documental, etc.) até o novo ponto de vista estrutural dos filmes (o filme de “lá e depois” em contraponto ao filme “aqui e agora”).

A terceira mesa foi mais um bate-papo do que uma convencional palestra, justamente pelo teor do tema. Foram-se discutidas, basicamente, as possibilidades de linguagem da produção independente, principalmente o artesanal, ou seja, aqueles trabalhos feitos com câmera amadora e total improvisação, como a maioria dos vídeos do Youtube.

Com um time atuante no mercado, a quarta mesa focou-se no primeiro passo de todo processo cinematográfico: a criação no roteiro. E foi confirmado o que para mim era essencial: o roteiro não tem limites, ou seja, sua imaginação não deve ser guiada por regras.

Na quinta mesa, cujo assunto era “Perspectivas na produção independente”, novamente a cara era de bate-papo ao invés de palestra. Acredito que o convidado comum nas duas mesas, Alan Langdon, proporcionava esse confortável clima descontraído, tanto pelos seus trabalhos quanto pelo seu jeito. E após a mesa, percebi que o cenário independente anda crescendo, mas ainda é bem fraco em termos de recursos e possibilidades.

Na última mesa, o assunto era promissor, tanto pelos convidados – todos renomados nesse tema – quanto pelo assunto em si. “Cinema e Novas Mídias” era o mote e gostei muito do que vi. Apresentaram-se várias obras que dialogam com as novas tecnologias, como a internet e o digital, e me impressionei muito com os filmes apresentados, fazendo-me pensar novas possibilidades do fazer fílmico.

E para encerrar a semana a palestra com Arlindo Machado, professor da USP e talvez o maior pensador sobre cinema e vídeo do Brasil. Com o olhar da experimentação, Arlindo nos mostrou o que o vídeo e o cinema mundial andaram e andam fazendo na área experimental, focando-se na tecnologia digital e eletrônica.

Uma das mesas de debate da semana

Gabriel Ishida é graduando em Midialogia pela Universidade de Campinas (Unicamp)

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