A Vermelha Luz do Bandido ( Pedro Jorge, Anhembi Morumbi, 2009)

” A Vermelha Luz do Bandido” é um documentário-Radialístico-Científico-Experimental que presta tributo ao filme “O Bandido da Luz Vermelha” de Rogério Sganzerla, realizado em 1968, e busca dentro do mesmo uma identidade própria. Além de refletir sobre a indústria cinematográfica brasileira.

*Por Nayton Barbosa e Danielly Ferreira

 

1. Como surgiu a ideia e a oportunidade de realização desse curta-metragem documentário?

– Então, surgiu em 2007 com uma ideia de fazer um estudo sobre a montagem e o desenho sonoro do Bandido da Luz Vermelha. Na época acabei abandonando a ideia de ser escrita e resolvi em 2008 propor para ser um documentário. O projeto foi aprovado e fiz o filme na época do TCC.

2. O documentário de desenvolve a partir de comentário sobre o filme “O Bandido da Luz Vermelha”. Para você, qual é a importância desse filme dentro da filmografia brasileira e mundial?

– Acho o filme importante em diversos aspectos…Na época em que assisti eu era bem mais novo, tinha em torno de 20 anos mais ou menos, vi uma cópia em VHS quando trabalhava em uma locadora por indicação de um grande amigo que trabalhava comigo na locadora e que tinha um vasto conhecimento cinematográfico. A coisa que mais me intrigou era a identificação anárquica e livre que o filme apresentava. Isso me fascino logo de início. Inclusive foi a primeira vez que vi um filme com uma nova proposta de linguagem em relação ao som. Não só o filme, mas 70% no meu ver, da obra do Sganzerla é extremamente importante pra cinematografia brasileira e mundial. Acho que tem diversas rupturas dentro do cinema moderno que o tornam atual e místico até os dias de hoje. Mais tarde tem uma série de coisas que acho incríveis no filme que é uma nova postura de acordo ao cinema novo, uma certa carta-resposta ao boom do Terra em Transe do Glauber Rocha, uma identidade e reflexão com a cultura pop, e acho que além da montagem livre e o som construindo um novo sentido, acho que o Sganzerla e a Helena Ignez descobriram uma forma de atuação nova, algo realmente único, e principalmente livre no sentido de métodos e formas, tudo parece improviso, mas na época que fiz o curta, li algumas versões do roteiro que tem arquivado na cinemateca e tudo é extremamente pensado, isso é incrível. Quanto ao cinema mundial, sei pouco do conhecimento fora, sei que existe sim uma grande admiração por parte do estrangeiro quanto ao cinema do Sganzerla, mas uma serie de coisa cultuadas pelo cinema dos anos 70, 80 e 90, já tinham sido feitos no bandido e nos outros filmes dele.

3. Para você quais são as facilidades e quais são as dificuldades do uso da linguagem experimental em comparação com a clássica?

– A linguagem experimental por si fica difícil de ser definida. Porque hoje em dia tudo que não é feito dentro do cinema clássico se torna ou é taxado de experimental, as vezes um video clipe todo planejado por ter alguns cortes livre se torna experimental. Muitos, já ouvi isso, acham os filmes da 1ª leva do Eisenstein experimental por conta dos cortes, enfim, é difícil dizer. Uma coisa que o curta teve que o meu outro curta não “A Navalha do Avô”, é que “A vermelha luz do bandido” muitas coisas foram criadas na montagem, enquanto que no curta atual tudo foi decupado e trazido da filmagem, ou seja, eu tinha um material mais engessado no sentido de ter de trabalhar com o que foi filmado. Já no bandido, eu tinha liberdade pra sentir algo que faltava na montagem e sair e filmar alguma coisa ou pesquisar na internet e colocar no filme, é um filme bem mais livre. Respondendo, a facilidade é a liberdade que se tem em propor coisas associadas a ideia e que vão brotando, já com a clássica é que tudo tem de ser muito bem pensado antes de ir pro set de filmagem.

4. Um dos recursos muito utilizados em filmes experimentais é a montagem. Fale sobre ela e o papel que eles desenvolvem em seu curta-metragem.

– A montagem é a minha área de atuação, eu vivo da montagem. No caso específico desse filme, eu tinha um pré-roteiro de textos dados pelos atores e o roteiro de fato nasceu na montagem, a montagem é o roteiro do filme. No pré-roteiro eu dividi o filme em dois momentos, um eram os textos do Sganzerla na época que lança o filme, afirmando-o, no segundo são os textos do Sganzerla quando começa a questionar o filme, já que todos estavam cada vez mais afirmando ele como o grande cineasta de o bandido da luz vermelha e não estavam olhando para a sua obra em si e apenas a um filme! A partir desse material e das entrevistas feitas, bolei na montagem uma forma que o filme fosse sempre uma pergunta e uma resposta, quase que uma montanha russa de sobe e desce, então ele afirma e questiona, isso tudo permeado pelas entrevistas que em sua maioria eram mais elogiosas do que questionadoras. Na questão experimental, o nome já diz, vamos e experimentamos, se aproxima e muito da semiótica, no sentido de relação por associação, o filme em si é isso…associação do curta tentando buscar uma identidade com o longa em forma de tributo.

5. A linguagem experimental tende a não seguir regras, assim como o documentário pode não seguir um roteiro pré estabelecido. Houve um planejamento prévio do planos e do que seria gravado? Se sim, como isso foi desenvolvido juntamente com a linguagem experimental.

– Eu tive apenas o planejamento de planos dos atores, eram os textos dados. Depois quando comecei a montar, percebi que tinham muitos buracos e deveriam ser completados, e ai fiz uma nova filmagem com objetos. Depois filmei na rua as sequencias de carro, e toda a pesquisa de internet. Na época ainda não tinha o super poder dos downloads, então recorri ao youtube e dvds. Quanto a linguagem experimental, na época eu estava muito ligado e estudando coisas em vídeo, vídeo arte, instalações, indo a exposições, etc, e isso me alimentou muito na hora de fazer o curta. É um filme para quem conhece o filme, mas uma grande surpresa foram que muitos tiveram a vontade ver e rever o filme depois do curta! Mas a liberdade estava permanente no filme, em todos os momentos, seja na filmagem como na montagem, lembrando que o desenho de som, ajudou e muito o filme em si, a dar vida e forma a toda essa liberdade que o filme traz!

*Nayton Barbosa é graduando do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos e Editor Geral da RUA.

*Danielly Ferreira é graduanda do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos e Editora da Seção Curtas

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