O lado de cima da cabeça (Naira Soares, 2014)

O Lado de Cima da Cabeça é um documentário universitário experimental que se objetiva a rever conceitos pré-estabelecidos pela sociedade acerca da estética capilar negra.

 

*por Vinicius Gonçalves

 

Em seu documentário, você propõe uma discussão sobre o cabelo do negro. Por que você decidiu abordar essa questão estética?

 

O Brasil é um dos países mais mestiços, possui características europeias, africanas, indianas, orientais, entre outras, sendo uma mesclagem do mundo. Mas possui o padrão de beleza eurocêntrico, a qual mulheres bonitas são magras, possuem cabelos lisos, traços finos e pele branca, quem difere dessas características, está fora do padrão e estar fora do padrão é “feio”. De algumas décadas pra cá os jovens tem tomado iniciativas a partir de algumas inquietações, alguns pensam que se esforçar para ser algo que não os definem é marca de uma imposição implícita. Por isso o índice de mulheres e homens com cabelo black power, dreads, pintados, curtos, raspados (entre outros) tem aumentado. Uma ditadura se instalou desde a ocupação de europeus no nosso país em 1500, mas hoje há uma variedade grande de tipos e cores de cabelo e começam a surgir vários questionamentos acerca disso. Dentre eles estão à imposição do padrão, a imposição do diferente, o diferente na mídia, as lutas da minoria, tendência contemporânea, estética, ato político, etc. Esses e outros questionamentos nos instigaram em pesquisar e explicitar as contradições, os argumentos, o debate e principalmente a discussão acerca do tema “cabelo como forma de identidade”.


Como foi o processo, desde a ideia inicial até a finalização?

Parte das notas que integra a disciplina Oficina de Vídeo Educativo no nosso curso (Comunicação Social com habilitação em Radio e TV – UESC – Ilhéus –Bahia) é produzir um documentário. A partir dessa iniciativa, a ideia surgiu a partir da vivência de duas mulheres da equipe. O processo iniciou na pesquisa bibliográfica a qual foi intensa e muito importante para delimitar os recortes, pois identidade e estética são temáticas que gera muitos debates.

Por conta de vários fatores, inclusive a falta de recursos financeiros, a diretora da equipe, Naira Soares, pegou a câmera, o microfone e a mochila e viajou para vários lugares em duas semanas só fazendo essas gravações, afinal foram 23 pessoas entrevistadas. Com as imagens gravadas, foi o momento de gravar a música que foi escrita e gravada especialmente para o produto por Ize Duque Magno e Jonny Walker da banda Pastilhas aqui da cidade de Itabuna-Ba. A pós-produção foi a mais duradoura e intensa por conta da temática muito delicada e a narrativa escolhida seria crucial para o sucesso ou o desastre do trabalho.

Após a finalização, por ser um vídeo educativo, disponibilizamos o vídeo no Youtube e em uma semana já havia mais de 5 mil visualizações, hoje quatro meses depois O Lado de cima da cabeça tem quase 13 mil e é muito elogiada pela maioria e está sendo muito exibida em escolas, associações, casas, faculdades, rodas de conversas, grupos de estudo, sites e etc.


Você encontrou alguma dificuldade em entrevistar as pessoas?

Na verdade as pessoas passaram por pré-entrevistas antes da gravação, alguns via internet, outros ao vivo, esse processo facilitou muito o trabalho. Na hora da entrevista, cada um foi contando seu histórico capilar e com isso acabavam respondendo todas as questões pertinentes. Alguns falaram em cinco minutos, outros em trinta, mas em todos haviam falas impressionantes e importantes a serem expostas. Infelizmente, por ter limite de tempo, não conseguimos colocar falas dos 23 entrevistados no documentário.

 

*Vinicius Gonçalves atualmente é graduando de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar e editor da Revista RUA

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